A ZONA é o primeiro livro de fotografias de Diogo Simões. O fotógrafo de Almada tem participado constantemente em várias exposições, das quais destacamos mOstra’20 (Lisboa, 2020), XVIII Bienal de Cerveira (Vila Nova da Cerveira, 2015), Levante-12 mai (Paris, 2015) e Ciclo Fotografia Portuguesa – MuMA (Curitiba, 2013). Em 2014 realizou a sua primeira exposição individual, NOCT, no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira. O espaço geográfico destas fotografias são Miratejo, Almada, Monte da Caparica, Costa, Barreiro, Setúbal, Azóia e Lisboa. Nas palavras da editora Pierre Von Kleist, trata-se de «um registo alucinatório humanista, poético e politicamente engajado de um território com forte passado industrial e pós-colonial.» Este livro retrata a Margem Sul, gíria que para quem é da região de Lisboa corresponde às terras e bairros sociais da margem sul do Tejo até Setúbal. Usando uma vez mais as palavras de André Príncipe, «uma terra de montanhas, praias de areia branca, golfinhos e guetos.»

 A ZONA é um livro de fotografias denso que joga constantemente com imagens a cor e preto e branco. Este conjunto de fotografias mostra-nos pessoas, arquitetura e paisagem. Estas pessoas são retratos delas mesmas, são portas abertas pela intimidade que conduzem a imaginação de quem observa a interpretar o que quiser. A arquitetura é por vezes o segundo plano dos retratos d’A ZONA, contudo, muitos são os casos onde o ambiente doméstico é predominante. Interiores de casas, quartos e espaços sociais são alguns exemplos. São nestes espaços de intimidade (casas e quartos) que o nu toma conta da imagem. A nudez é aqui tratada de forma crua, jogando em certo sentido com o concreto da arquitetura dos bairros sociais que é demonstrada. A estética destes bairros é fria e quase inexistente, a funcionalidade é prioritária face a este valor. A crueza da nudez aqui retratada ressoa ou relaciona-se com a frieza e a concretude deste tipo arquitetura. As torres do Jamaica no Seixal não nos deixam esquecer que ainda há muita pobreza em Portugal, e que grande parte dela, habita nas periferias das zonas cosmopolitas mais ricas do país. No meu ponto de vista, os retratos deste livro comunicam entre si, há uma qualidade dramática, uma tensão comum e um estado introspetivo em quase todos eles. A presença do olhar é relevante e representa um canal de comunicação ou relação direto com quem está a observar.

A paisagem é outro elemento muito presente ao longo do livro. Paisagens naturais e urbanas vão sendo expostas aqui e ali, assim como a sua fauna e flora. Nalgumas fotografias vemos imagens destes dois ambientes em simultâneo, como é exemplo a zona do mercado abastecedor do monte da Caparica junto ao Hospital Garcia da Horta. A natureza aqui é representada não apenas como o lugar do belo, mas também como o lugar ambivalente e complexo que é (como por exemplo a fotografia do golfinho morto, retratada de forma um tanto gloriosa). N’A ZONA encontramos ainda fotografias de manifestações políticas. Estas fotografias foram capturadas na altura da Troika, um período político onde acontecia praticamente uma manifestação por semana. Numa dessas fotografias, vemos uma faixa com as palavras “Não Esquecemos Nem Perdoamos”, palavras que refletem um sentimento muito presente nas populações periféricas, na gente que todos os dias sofre e que sabe que o seu sofrimento é fruto de jogos políticos.

A ZONA foi o vencedor da 1ª edição do Prémio do Livro de Fotografia da Associação Arte deste Século. O objetivo deste prémio é apoiar jovens artistas que nunca tenham publicado um livro através de uma editora de livros de fotografia.