Top

Lisbon Art Weekend

Por entre inaugurações, visitas, cocktails e conversas manobrou-se mais uma edição do Lisbon Art Weekend, evento anual que nos dá um percurso possível por entre algumas das mais reconhecidas galerias da capital portuguesa. Nesta 4ª edição, onde participaram 36 espaços (mais 5 em relação ao ano passado), desenhou-se uma oportunidade de apreender a variedade de propostas que a arte contemporânea tem para oferecer em Lisboa.

O evento tem a particularidade de não se apresentar como uma feira de arte, num único recinto fechado, mas uma oportunidade de percorrer as várias galerias da cidade, sabendo que algum acontecimento inesperado nos poderá lá aguardar. Seguindo o mapa azul do evento, vimos vários rostos repetidos ao longo dos diversos espaços: também eles seguiam um percurso, o seu, que tanto poderia ser comum ou diferente de todos os outros. Apesar da quantidade de exposições a ocorrer, não pareceu haver a ansiedade concentrada dos grandes eventos, talvez pela distância de determinadas galerias em relação a outras – signo benéfico de uma cidade heterogénea, onde os circuitos artísticos se espalham também pelas periferias. Essa consciência da impossibilidade de ver tudo, leva-nos a ir no nosso próprio passo, caminhando, conhecendo. Também foi esse o meu caso. Na imperfeição deste texto, em não conseguir olhar para essa totalidade, está a calma intencionalidade que faz o evento destacar-se dos seus semelhantes.

Tudo terá começado na quinta-feira, com as primeiras inaugurações. A Zaratan – Arte Contemporânea abriu a sua nova Hammer Time, uma “exposição-leilão” onde se multiplicam meios, formas e pontos de vista, num contemporâneo, digitalizado, banho de pós-ironia. A Uma Lulik com A Matéria É Soberana de Isabel Cordovil, a Galeria Foco com Reading Against the Grain de Rudolfo Quintas e a Monitor Lisbon com Office For Neanderthal Tourism & Crucifixion de Nathaniel Mellors.

A sexta-feira foi mais agitada. Andando por São Bento e Alvalade, destacaram-se os bordados minimais de Isabel Pyrrait em a ponto luz bordado na Galeria Diferença, as inusitadas cerâmicas japonesas em Landscapes na Sokyo Lisbon, as cenografias pré-históricas de Daniel Moreira e Rita Castro Neves em Faca na Pedra na Appleton Box e ainda a inauguração de Three Colours: Green de Evy Jokhova. Tendo assistido a duas visitas guiadas na tarde deste dia, notou-se alguma ausência de público, por um lado, sinal de um dia útil de trabalho, por outro, indicador de um percurso que ainda pode ser feito na conquista de visitantes.

Ainda assim, no sábado o panorama foi bastante diferente. Apresentando-se quase como o dia central do programa, os eventos não pararam. Na zona oriental da cidade, as galerias aglomeraram-se de curiosos. Na Underdogs, bem preenchida às 3 da tarde, a explosão plástica, algo previsível, da exposição de Pichi Avo, roubava as atenções do que se passava na Underdogs Capsule em Renascimento Street de Onun Trigueiros, a primeira mostra do artista na galeria, onde se expôs apenas trabalhos seus a azul e branco, ainda assim indicadores da dimensão do seu imaginário, aqui sempre em diálogo com o azulejo mesmo quando em folhas de papel, concedendo-lhe novas personagens e narrativas.

Destacou-se também Forgotten Sounds of Tomorrow a mostra de Alexandre Estrela na Galeria Bruno Múrias, cujo mapa críptico de som e velocidades teve direito a visita guiada pelo artista, ou os deliciosos puzzles arruinados de Carlos Garaicoa em Contrapeso na Galeria Filomena Soares. Ainda assim, o melhor pode ter ficado para o final comWished On The Moon For More Than I Ever Knew, a instalação de Tamara McArthur na Kunsthalle Lissabon, a construção de um cenário onírico, inusitado, claramente inspirado na Winter Night at the Mountains de Harold Sohlberg, onde um theremin melancólico nos conduziu pelas curvas pitorescas da instalação, guiando-nos até a um lago prateado, com tanto de infantil e contemplativo como de parado e sorumbático – uma ida até a um lugar feliz onde não se pode voltar mais, porque nele já não habita ninguém.

O domingo, ainda com duas visitas guiadas, dedicou-se principalmente a conversas reunindo quer agentes do mundo artístico cujas obras e espaços pudemos visitar ao longo destes dias, como speakers internacionais que abordaram questões fulcrais à arte contemporânea nos dias de hoje – iniciativas habituais neste género de eventos agregadores, dando à arte contemporânea uma oportunidade de afirmação e autorreflexão.

Atravessando o rio Tejo, no parque industrial do Barreiro no PADA Studios inaugurou a exposição Territory, com 32 projetos de artistas e curadores de 17 países.

Chegado a casa, por entre os excessos de informação visual, pensei na necessidade democratizante destes eventos de entrada livre, que são convites a conhecer ecossistemas artísticos. Estas visitas mais impulsivas e concentradas, ainda que não nos levem à contemplação mais ideal, parecem, no entanto, levar-nos a inferir, mais nitidamente, nas diferenças de abordagem e curadoria de cada um dos espaços visitados, na diversidade de propostas artísticas que Lisboa tem para oferecer. No fim, este Lisbon Art Weekend abriu o apetite de voltar a percorrer estes lugares, apreendendo mais e melhor.

O Lisbon Art Weekend decorreu de 10 a 13 de novembro em Lisboa.

Miguel Pinto (Lisboa, 2000) frequentou a licenciatura em História da Arte pela NOVA/FCSH, através da qual veio a realizar um estágio no Museu Nacional do Azulejo. Participou no projeto de investigação VESTE – Vestir a corte: traje, género e identidade(s), alojado pelo Centro de Humanidades da mesma instituição. Criou e gere o projeto a Parte da Arte, que pretende divulgar e investigar o panorama artístico em Portugal através de vídeo-ensaios explicativos.

Subscreva a nossa newsletter!


Aceito a Política de Privacidade

Assine a Umbigo

4 números > €34

(portes incluídos para Portugal)