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da palavra ao desenho no Kunstraum Botschaft em Berlim

Inaugurou no dia 11 de outubro no Kunstraum Botschaft, em Berlim, a exposição da palavra ao desenho/ vom Wort zur Zeichnung, que junta Alice Geirinhas, Catarina Leitão, Gonçalo Barreiros, João Nora, João Pedro Vale, Rosana Ricalde, Susana Gaudêncio e Yonamine. A exposição, patente até dia 18 de novembro, teve a curadoria de João Silvério e dá-se no contexto de uma colaboração entre a Fundação PLMJ e o Instituto Camões em Berlim.

A exposição é um âmbito de dimensões comuns em que se incluem várias formas de desenho e de texto. Entre serigrafias, anagramas ou fotografias (e até escultura), a disposição das peças parece ter sido definida com vista a aumentar o espaço da única sala da galeria através das diversas vozes e respetivas direções. Há um grande foco no desenho como forma de texto, narrativa, mas também no texto como forma de desenho, como forma no espaço.

Acima de tudo, explora-se a superfície, a redução do significado à forma. Se, no caso do desenho, esse roteiro releva o seu carácter formal e sublinha a noção de corpo enquanto traço, a verdade é que não sucede nada de muito diferente com a palavra: a presença do desenho, à partida seu oposto, puxa-a para o mesmo lugar da figura.

Salesman (2007), escultura de Gonçalo Barreiros, extensão material do desenho, é talvez o exemplo mais evidente dessa polissemia. Muito próximo de Sem Título (2010), de Yonamine, serigrafia que se apropria do papel de jornal como tela, remetendo o texto ao lugar de ruído, de elemento gráfico.  Destaca-se também Lisboa (2012, da série Cidades Invisíveis), de Rosana Ricalde, um mapa de Lisboa feito a partir de recortes do livro Cidades Invisíveis, de Italo Calvino, por permitir uma desdobragem em duas dimensões: aproximando-nos, é possível seguir o texto sem atentar ao seu mapa; afastando-nos, as frases são reduzidas à forma, que se expande no espaço delineando uma cidade. As palavras são o lugar.

A respeito do lugar, é também importante sublinhar que a cidade de Berlim não é neste caso mera coincidência. Se os trabalhos ilustram também como se desenha uma história, Berlim é também o lugar ideal para isso acontecer, por se tratar de uma cidade imaginada e redesenhada à exaustão a partir de ângulos intermináveis, acima de tudo por quem a vê de fora. Berlim encerra, no fundo, a redução de uma cidade à possibilidade de ser várias cidades, eternamente atualizada. Algo de que por estes dias o Kunstraum Botschaft participa.

da palavra ao desenho, até 18 de novembro, no Kunstraum Botschaft, em Berlim.

Guilherme Vilhena Martins (1996, Lisboa; vive em Berlim) é escritor e curador. É licenciado em Filosofia pela Universidade NOVA de Lisboa e atualmente está a terminar um mestrado em Filosofia na Freie Universität Berlin. O seu trabalho literário consiste em dois livros - 'Háptica' (douda correria, 2020), 'Voz/ Estudo de Som' (edição de autor, 2022) - e textos, crónicas e críticas escritas para diversos projetos editoriais em português e inglês, entre os quais a Umbigo ou a Frieze. Geriu e editou também 'Alcazar', um projeto literário interdisciplinar que reuniu escritores e artistas visuais em torno da ideia de uma escrita transdisciplinar coletiva. Além disso, curou várias exposições em Portugal e na Alemanha e é um dos co-fundadores do projeto EGEU, iniciado em 2019 em Lisboa. Tanto a nível literário como curatorial, Vilhena Martins procura utilizar a prática artística como ferramenta crítica e forma de discussão. Tematicamente, o seu trabalho foca-se nas noções de resíduo, preenchimento e desejo, bem como nas suas diferentes instâncias, nomeadamente o fenómeno do turismo.

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