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XXII Bienal Internacional de Arte de Cerveira: We Must Take Action!

Data de 1978 a história da Bienal Internacional de Arte de Cerveira, como consequência dos Encontros Internacionais de Arte em Portugal, organizados pelo Grupo Alvarez, Egídio Álvaro e a Revista Artes Plásticas. Ao I Encontro no ano de 1974 na Casa da Carruagem, Valadares, seguem-se nos anos seguintes o de Viana do Castelo (1975), Póvoa do Varzim (1976), Caldas da Rainha (1977) e o último e V Encontro em Vila Nova de Cerveira, que estará na génese da Bienal de Arte de Cerveira, realizada de dois em dois anos, num formato mais abrangente e com convidados estrangeiros. Promovendo a ligação entre a prática artística e o espaço urbano, o contacto com habitantes locais e um público diversificado, a mais antiga bienal da Península Ibérica afirma-se e inscreve-se no mapa da arte contemporânea nacional, mediante um modelo que conta com um concurso internacional, exposições de homenagem a artistas consagrados, presença de artistas convidados, projetos curatoriais diversificados, residências artísticas e programações paralelas.

Quarente e quatro anos após a primeira edição, organizada por Egídio Álvaro (1937-2020) e Jaime Isidoro (1924-2009), a XXII edição da Bienal Internacional de Arte de Cerveira introduz na sua programação e desenho curatorial novidades que reforçam, não obstante a sua importância histórica e antiguidade, o desejo de ser futuro. Sob o tema WE MUST TAKE ACTION! / DEVEMOS AGIR! é lançado o convite para a ação, estimulando os artistas a pensar o mundo e a refletirem sobre emergências globais, como o ambiente e a sustentabilidade, desafio lançado não só à comunidade artística, bem como ao público em geral. Com direção artística de Helena Mendes Pereira (1986) – a primeira mulher a assumir o cargo após as direções de Jaime Isidoro; José Rodrigues; Henrique Silva; Augusto Canedo e Cabral Pinto – e mantendo o formato adotado na primeira edição, a BIAC assume-se como espaço para intervenções artísticas variadas, para o debate e fomento da educação e mediação cultural, propondo-se, nas palavras da atual diretora, a agir e colocar a pergunta: pode a arte mudar o mundo?

Tendo como propósito a Bienal Internacional de Arte de Cerveira premiar, anunciar vanguardas e apresentar artistas emergentes, um dos destaques da presente edição vai para a decisão curatorial de expor separadamente as obras do Concurso Internacional e as dos Artistas Convidados, mediante abordagens curatorias distintas que valorizam as obras e os seus autores. Neste sentido as obras dos Artistas Convidados apresentam-se distribuídas pelo Fórum Cultural de Cerveira; na recém-inaugurada Galeria Bienal de Cerveira; Biblioteca Municipal de Vila Verde; Museu Municipal de Caminha e – a partir de Setembro – Museu de Pontevedra; já o Fórum Cultural de Cerveira acolhe a totalidade de obras do Concurso Internacional, que este ano contou com um número record de 1164 obras a concurso de artistas oriundos de 50 países, sendo apresentadas 96 obras de 77 artistas de 18 nacionalidades.

Destaque para a exposição de homenagem a Helena Almeida (1934-2018) de título EGO_ERGONOMIA, com curadoria de Helena Mendes Pereira, em exibição no Fórum Cultural de Cerveira, e em que dez obras da artista – que nos revelam um manifesto interesse pelo corpo (que regista, ocupa e define o espaço) e o seu encontro performativo com o mundo – dialogam com dez obras de artistas convidados. A exposição ocorre quarenta anos após a realização de Saída Negra (1982), obra pela qual Helena Almeida foi premiada em 1984, no âmbito da IV Bienal Internacional de Arte de Cerveira, passando a integrar a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira. Ainda no Fórum Cultural de Cerveira destaque para os Projetos Curatoriais, Da Afirmação à Conta-corrente, proposta por Jaime Silva, e Viagem pelo Esquecimento, projeto artístico de Ana Mesquita, João Gil e Mia Couto, através do qual o público é convidado a viajar pelas mais delicadas facetas da História, num apelo à memória a partir da videoarte, música e poesia.

Pela primeira vez a Bienal Internacional de Arte de Cerveira apresenta o Japão como país convidado, com a exposição Plenitude e Vazio, patente na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira de 16 de julho a 1 de outubro, com curadoria de Filipe Rodrigues.

Como habitualmente a Bienal de Arte de Cerveira estende-se ao Convento de San Payo, onde podemos visitar a exposição dedicada ao Padre Himalaya, talvez o primeiro ambientalista português, intitulada Himalaya: lugares das estórias de um inventor, e a Alfândega da Fé, mais concretamente à Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, com a exposição De Casa para um Mundo, com curadoria de Maria de Fátima Lambert (1960), resultante da criatividade em período de isolamento.

Sendo a descentralização cultural um dos objetivos da BIAC desde a sua génese, importa assinalarmos a estratégia de promoção da arte e artistas contemporâneos desenvolvida pela Bienal, assim como o seu contributo no processo de democratização do aceso à cultura no público e no território, conforme nos revela o Programa de Residências e Intervenções Artísticas, com curadoria de Mafalda Santos (1980), que abrangendo as quinze freguesias do concelho configura-se como mais uma das novidades da presente edição, em que mais de trinta projetos envolvendo 50 artistas criarão momentos que nos permitam pensar o mundo e agir. A esta dinâmica acrescem-se os ateliers, visitas orientadas e a reativação da Casa do Artista Jaime Isidoro.

Com uma vertente claramente ativista, a XXII edição da Bienal de Arte de Cerveira propõem-se a eliminar muros e fronteiras e a estabelecer pontes e diálogos, partilhando formas de fazer, pensar e agir num evento que se expande do Alto Minho à Galiza, afirmando-se uma vez mais enquanto acontecimento cultural de referência a nível nacional e internacional que podemos visitar até 31 de dezembro.

Mafalda Teixeira mestre em História de Arte, Património e Cultura Visual pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, estagiou e trabalhou no departamento de Exposições Temporárias do Museu d'Art Contemporani de Barcelona. Durante o mestrado realiza um estágio curricular na área de produção da Galeria Municipal do Porto. Atualmente dedica-se à investigação no âmbito da História da Arte Moderna e Contemporânea, e à publicação de artigos científicos.

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