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PARTE Summit’22

Foi na presença do Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva; do Diretor-Geral das Artes, Américo Rodrigues; do Chefe do Núcleo de Animação e Informação Turística (NAIT) do Turismo Centro Portugal, Carlos Figueiredo e da diretora regional da Cultura do Centro, Susana Menezes, que se deu início ao primeiro circuito do PARTE Portugal Art Encounters – um seminário internacional dedicado à reflexão e partilha de conhecimento impulsionado pela Arte Contemporânea, transcrevendo a definição encontrada na folha de sala do evento, realizado no dia 30 de julho. A sessão inaugural contou, ainda, com a presença, em palco, de Sílvia Escórcio e Miguel Mesquita, os diretores e fundadores do projeto que tem como curadores anfitriões, nesta edição, Vicente Todolí e Isabel Carlos. Tocando vários pontos em comum, os discursos dos envolvidos trouxeram ao pensamento da composta plateia a Rede Nacional de Arte Contemporânea, a Declaração de Montemor-o-Velho e o contributo destas e de outras ações para a construção de territórios e para a coesão social e territorial, processos que, no entender dos presentes, devem ter na cultura, na arte e no património muita da sua força motriz.

Seguiu-se, assim, o primeiro momento programático do PARTE, intitulado Is change possible?, onde a diretora da londrina Chisenhale Gallery, Zoé Whitley, apresentou o filme The Island, de Mónica de Miranda. Uma ilha ficcional, mas cuja narrativa gerada pretende intervir e até mudar as narrativas que vão sendo tomadas (e até impostas) como reais, na procura por novas ideias de pertença. Numa ilha apenas ocupada por negros, a poesia dos diálogos relaciona-se com a poética da imagem, numa redoma sonora hipnótica, numa geografia emprestada.

Após o momento de visualização deste filme, o período matinal deste seminário contou ainda com a presença, em modo conversa, de Kasia Redzisz, Diretora de Kanal – Centre Pompidou, em Bruxelas; de Luís Silva, Codiretor da Kunsthalle Lissabon, uma galeria situada na capital portuguesa; e de Filipa Oliveira, Diretora da Casa da Cerca, em Almada, que também abordou a sua experiência na Galeria Municipal de Arte da mesma cidade. Cada um destes agentes culturais trouxe, na sua apresentação, o modus operandi da sua instituição no seu respetivo território. O Kanal – Centre Pompidou traz uma estratégia de atuação e relação com o público, prévia à inauguração que acontecerá no ano de 2024. A Kunsthalle Lissabon apresentou-se como um organismo vivo de problematização do papel das instituições como definidoras do mundo, assumindo-se como uma ação coletiva em permanente mudança. Por último, Filipa Oliveira apresentou projetos de uma autêntica simbiose entre artistas e público, com dois exemplos práticos da dupla Musa paradisiaca e da artista Maja Escher, entre outros. As três apresentações tentaram responder às duas questões que serviram de título a esta conversa: Como podem as instituições culturais operar de forma diferente e construir experiências plurais? e Como podem as instituições acolher, viver e trabalhar em conjunto?.

Após a pausa para almoço, Daniel Baumann, Diretor da Kunsthalle Zürich, trouxe a palco a conversa intitulada Porque é que olhamos para as exposições? onde, a partir de um excerto de um texto crítico de Franz Villier acerca de Portugal, falou da sua experiência na visita ao país (importa aqui referir que a organização do PARTE possibilitou, ao grupo de curadores convidados, a visita a uma série de espaços culturais no território português). Depois de falar da sua experiência na visualização de exposições – “algumas pessoas leem livros, eu leio exposições”, disse no entretanto – fez questão de referir os artistas portugueses cujo trabalhou foi alvo da sua admiração – Nadir Afonso, Álvaro Lapa, Lourdes de Castro, Helena Almeida, Ana Jotta, Augusto Alves da Silva e Hugo Canoilas. Conheceu a grande maioria destes nomes nas visitas proporcionadas pelo PARTE, afirmando que não entende como alguns deles mal têm informação disponível para consulta na internet. Referindo que não encontrou a típica hospitalidade associada ao povo português na visita aos museus, apontou dois problemas: a arquitetura e as narrativas, dando, inclusive, o (bom) exemplo de uma exposição no Gabinete Gráfica da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto, para sublinhar a necessidade da criação de narrativas onde todos se revejam (Pitorescos e Naifs: Do guia turístico ao view-master, com curadoria de Rui Silva). Daniel Baumann deu a ver, ainda, o filme A Brief History of Princess X, do cineasta e artista plástico português Gabriel Abrantes.

No painel seguinte, Hendrik Folkerts, Curador do Moderna Museet, em Estocolmo, e David Cabecinha, Codiretor da Associação Cultural Alkantara foram unânimes na resposta à pergunta/título desta conversa: Vinte anos passados sobre a institucionalização da performance, será que ainda está viva? – segundo os dois intervenientes a performance está viva e recomenda-se. Foram vários os pontos de vista a serem explanados e as opiniões a serem trocadas. Desde questões de representatividade na área, às evidentes assimetrias entre um museu e um festival, passando pela dificuldade em definir um modelo para que se possa lidar com a performance de uma forma semelhante nos vários espaços onde esta venha a ocorrer. Como apresentar uma performance, como a preparar em termos técnicos, como colecionar uma performance e como se relaciona esta prática com o conceito de exposição foram, igualmente, assuntos nevrálgicos.

Já perto do momento final, Rita Natálio trouxe a performance Spillovers, uma criação a partir de uma tradução deLesbian peoples: material for a dictionary, escrito em 1976 por Monique Wittig e Sande Zeig. Nesta revisitação a este dicionário, Rita Natálio escolhe alguns dos termos nele contidos e aprofunda-os através da ação da palavra, do som e do corpo.

Para o momento final, Ricardo Ramos Gonçalves, editor do PARTE BOOK, subiu a palco para o lançamento oficial deste compêndio, com perto de 400 páginas, que pretende ser um guia compreensivo para a Arte Contemporânea em Portugal. Para além do mapeamento de todas as instituições e galerias artísticas em território nacional, o livro conta ainda com ensaios de Delfim Sardo, Margarida Mendes, Raquel Lima, Odete, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, Vincenzo de Bellis e Neringa Bumblienė.

Acolhido pelo Convento São Francisco, em Coimbra, mais concretamente na Sala D. Afonso Henriques, o PARTE Portugal Art Encounters teve o seu segundo momento em Loulé, no Cineteatro Louletano, a 6 de agosto. A PARTE Summit’22 tem a programação e direção criativa de Joana Mayer.

Daniel Madeira (Coimbra, 1992) é licenciado em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Estudos Curatoriais pelo Colégio das Artes da mesma universidade. Coordenou, entre 2018 e 2021, o Espaço Expositivo e o Projeto Educativo do Centro de Artes de Águeda. Atualmente, colabora com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC).

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