Sound and Future – Four Tools to Unblock The Present: João Pimenta Gomes na Plataforma Revólver
Sound and Future – Four Tools to Unblock The Present é um ciclo de performances ao vivo a decorrer na Plataforma Revólver e no passado dia 3 de junho, foi a vez de João Pimenta Gomes abrir a segunda sessão deste ciclo. O projeto conta com a curadoria de Isabel Costa e Joana Krämer Horta; a primeira sessão contou com uma performance de Aires, e nas seguintes será a vez de Diana Policarpo e Odete.
As portas da Plataforma Revólver abrem, o público entra e o som começa. A sala não tem qualquer iluminação artificial, a única luz existente é a dos candeeiros de rua que atravessa as janelas. No centro da sala (virado de costas para a entrada e de frente para as janelas), está João Pimenta Gomes, sentado no chão e já com as mãos no sistema musical criado por si, a que deu o nome de Matavox: um sintetizador modular que toca apenas samples de vozes humanas. O público espalha-se em seu redor por toda a sala, sentando-se também no chão. Ao mesmo nível que o artista, assistimos à progressão de um som cintilante e de uma voz humana que reproduz apenas vogais. Com cada vez mais camadas, os ecos vão se intensificando. O som inquieta-se e o corpo do artista acompanha o seu movimento. João Pimenta Gomes parece estar numa busca incansável pelas ideias rítmicas que pretende transmitir.
A sala movimenta-se, o público é fluido (assim como o som), e move-se pela sala com motivações alheias à performance que acontece, saindo e entrando em sintonia com o fluxo do tempo. Com cada vez mais multiplicações, uma batida começa a surgir. As sequências agora parecem flashes, como se um foco de luz penetrasse por um buraco numa sala completamente às escuras; um som que é luz e que por consequência ilumina. Nesta sala da Plataforma Revólver, sente-se uma aura cósmica, o som parece vir de um infinito, de um futuro. No nosso corpo (se nos disponibilizarmos para que o som nos atravesse), o ruído sentido é quase anestesiante. As ondas sonoras que se propagam pela sala sentem-se no nosso corpo; o acordo intuitivo que fizemos com o artista no início da performance parece ter um propósito: é no chão o melhor lugar para sentir fisicamente o que ouvimos.
Mais tarde, a sequência sonora começa a ser menos espacial e mais terrestre, no sentido em que parece haver um aterrar do som, como se este passasse a vir de uma fonte abaixo de nós. Ao contrário da primeira parte da performance, a vibração agora aproxima-se de algo que vem do interior e não do exterior, antes ecoavam cintilações, agora o som podia ser terra. É possível imaginar o lugar onde o som se origina quando fechamos os olhos.
Aos 50 minutos de performance as cintilações voltam a ganhar espaço por entre os sons terrestres. Depois, é a vez das vocalizações que começam a entrar progressivamente. E, à medida que a viagem pela performance começa a chegar ao fim, o som vai voltando cada vez mais às suas origens, ao primeiro som tocado quando as portas da Plataforma Revólver abriram.
João Pimenta Gomes, para além de ser músico e produtor, é fundamentalmente um artista plástico, e aqui apresenta-se numa performance em que utiliza o som como veículo, o ritmo e a melodia como motor, transportando-nos com o sintetizador modular numa viagem elemental entre o éter e a terra.