A Umbigo lamenta profundamente a morte de Paula Rego aos 87 anos, muito certamente um dos nomes maiores da pintura portuguesa a serem reconhecidos internacionalmente.

Discreta em presenças públicas, a sua voz e traço eram, no entanto, inconfundíveis, fazendo reverberar além-fronteiras as malhas e tramas de um regime ditatorial em Portugal, os direitos e as lutas das mulheres, que se intensificaram no último quartel do século XX, o poder da imaginação e a sedução da subversão do imaginário infantil e coletivo.

Mulher-cão (1994), A Dança (1988), Anjo (1998) ou a série Aborto (1998-99) testemunham a sua vitalidade e engajamento com os grandes temas do feminismo e da liberdade individual.

Em 2021 a Tate Modern Gallery dedicou-lhe uma retrospetiva, e a Galeria 111 (uma das representantes da artista) viria a elaborar o que seria a última exposição do trabalho da artista em Portugal. Antes, em 2017, Nick Willing, seu filho, registara a sua vida e obra no documentário Paula Rego, Secrets & Stories exibido pelo BBC. Alguns dos seus trabalhos podem ser vistos na 59ª Exposição de Arte Internacional da Bienal de Veneza.

Visceral, compulsiva, dotada de um traço preciso e violento, a obra de Paula Rego sobrevive agora em diversas instituições internacionais e portuguesas, deixando ao usufruto dos interessados o seu vasto espólio na Casa das Histórias, em Cascais, partilhado com o do seu marido, Victor Willing.