#longlivepdg: Manuel Botelho na Galeria Miguel Nabinho
O Parque das Gerações, situado em Cascais, é o assunto da nova exposição individual de Manuel Botelho na Galeria Miguel Nabinho. Composta por fotografias, o nome da exposição, #longlivepdg, levanta a hashtag utilizada na luta cívica das gerações que frequentam este parque, construído há mais de 10 anos e, agora, ameaçado pela construção de um túnel nesta zona.
Manuel Botelho apaixonou-se por este parque de skate, pelas histórias que por lá passam e, pela movimentação que a comunidade local realizou para defender este lugar. Este skatepark foi o projeto vencedor do orçamento participativo da Câmara Municipal de Cascais em 2011, e a sua construção arrancou em 2013, perto da estação de São João do Estoril e com uma vista única para o mar. Manuel Botelho nunca teve nada a ver com a atividade do skate, o seu debruçar sobre este assunto não tem que ver com a prática deste desporto, mas sim com o que representa este local.
No depoimento em vídeo que deu acerca de #longlivepdg, Manuel Botelho refere que aterrou neste lugar por conta do barulho que a população local fez quando a ameaça ao parque surgiu. Mesmo sendo na sua zona residencial, sempre lhe passou despercebido, até ao dia em que se levantou cartazes de protesto em volta de todo o gradeamento do parque. Este ruído fez com que Botelho passasse a ir ao parque todos os dias, e mergulhado pelas conversas que tinha com os miúdos, começou o processo de fotografar este lugar.
A exposição começa num primeiro mural composto por pequenas fotografias alinhadas logo na entrada da galeria, onde se destaca uma pequena nota em texto que diz:
“Todos os dias descubro algo de novo aqui. Talvez uma luz. Uma sombra inesperada. Um gesto, uma presença, uma vontade. E não posso imaginar que se destrua um lugar assim. Seja por que razão for.”
Um pequeno deslumbre do pensamento de Manuel Botelho sobre o Parque das Gerações, e que se amplia no andar de baixo, na sala principal da Galeria Miguel Nabinho. Aqui, encontramos uma série de catorze fotografias em grande formato, dispostas linearmente pelas três paredes desta sala. As fotografias da primeira parede têm um olhar mais distante sobre este lugar, mostram a dimensão da área do parque e a paisagem circundante. O dia é cinzento, as rampas estão pintadas de negro e nelas foi pintado a branco as afirmações da comunidade: “Queremos o PDG aqui!!!” ou ainda “Não nos roubem a felicidade!!”. E, à medida que vamos caminhando pelas imagens, vão chegando cada vez mais pessoas a este local; os adolescentes dominam o cenário, em grupos ou sozinhos, seja a desfrutarem do parque ou a cuidarem dele (limpando as poças de água que se agregam na zona mais funda das típicas piscinas para skateparks). A chegada da comunidade local faz com que a lente de Manuel Botelho se aproxime cada vez mais, acabando mesmo por ser engolido pelo negro da piscina do skatepark, numa imagem capturada a partir do seu interior; nela vemos o enorme desenho a branco deixado pelas rodas dos skates sobre as paredes negras desta estrutura.
O trabalho de campo feito por Manuel Botelho é ilustrado pelas paisagens que captou neste lugar. Nelas percebemos de que é constituído o Parque das Gerações, quem o frequenta e quais as ameaças que enfrenta. A presença da comunidade entra em peso no último núcleo de fotografias; cada pessoa participa como quer na vida deste parque; vemos os mais novos a serem guiados pelos mais experientes, vemos crianças, adolescentes, famílias inteiras ou pessoas singulares. Nestas imagens, ninguém olha para a lente de Manuel Botelho, a sua presença parece natural e, por isso, não merecedora de atenção; a câmara e o seu olhar fazem agora parte do Parque das Gerações.
Por ser um espaço comunitário de interações e trocas, é importante que seja preservado, e está em curso uma petição pública para a sua defesa.
A exposição de Manuel Botelho está patente na Galeria Miguel Nabinho até ao dia 31 de maio de 2022.