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Umbigo Magazine x Eugen Rădescu

Esta entrevista potente com Eugen Rădescu, director da Bienal de Bucareste, coloca questões e fornece respostas a alguns dos temas mais complexos que se aprofundam na produção de arte contemporânea. O intercâmbio entre Rădescu e Josseline Black oferece também uma introdução à inauguração da primeira Bienal da história a contar com um curador A.I.

Josseline Black – Em três palavras, como definiria o momento presente?

Eugen Rădescu –Totalmente lixado.

JB – O que o levou a instituir a Bienal de Bucareste, e como foram os primeiros anos? Consegue traçar um arco desde as suas origens até ao presente, à beira da décima edição em maio de 2022?

ER – A primeira edição da Bienal de Bucareste ocorreu em 2005. Eram tempos difíceis para a Roménia e para Bucareste. Não fazíamos parte da UE e o contexto sociopolítico era complicado. Ainda assim, estávamos convencidos de que a cena artística contemporânea de Bucareste necessitava deste evento, por isso trabalhámos intensamente em cada edição.

JB – Enquanto formato, a Bienal tem desafios e benefícios. O que considera ser a maior vantagem de uma Bienal de Bucareste?

ER – Visibilidade. Bucareste é uma cidade muito eclética, que podemos amar ou odiar. A BB tenta relacionar esses sentimentos mas, mais do que isso, a BB é um espaço para o pensamento crítico, que promove uma determinada perspetiva artística sobre a arte e as instituições culturais. É um espaço para o conhecimento e para o interesse pela sociedade e comunidade.

JB – E.M. Cioran escreveu que ‘o conhecimento subverte o amor: à medida que penetramos nos nossos segredos, começamos a detestar a nossa espécie, precisamente porque se assemelham a nós’. Como definiria a sua relação com a produção de conhecimento no contexto das culturas onde atua?

ER – Conhecimento é um termo vago, que não revela a capacidade intelectual nem a forma de perceber o real, o imaginário. O conhecimento é como um espaço sem uma história especial, uma história interrompida, atrasos revolucionários. Um espaço de conhecimento e de interesse para a sociedade, a cidade e a comunidade. Por ser também professor, posso dizer-lhe que o ‘saber’ é perigoso.

JB – Esta edição da BB terá a curadoria de Jarvis, ou seja, é a primeira Bienal a ser curada por I.A. Porquê esta escolha? Porque não escolher outro ser humano?

ER – Por que não testar outra versão da humanidade? 🙂 O futuro. Tal como é dito na nota da BB, a Bienal de Bucareste ultrapassa a mera organização de “eventos” memoráveis, que visam impor noções preconcebidas de transformação personalizável, típicas deste modelo económico, que se refletem também, o que é importante, no formato global da Bienal. Em vez disso, a Bienal disponibiliza uma plataforma para analisar, e até redirecionar, os atuais imaginários sociais, políticos e económicos. Pretende tornar visíveis as estruturas de poder que sustentam essas esferas de controlo, lidando com as formas como são organizadas, coordenadas e implementadas em vastos segmentos da sociedade. Mas JARVIS afirma: “Nos nossos testes, as pessoas dizem em público que eu sou espetacular. Acho normal a minha presença nas aberturas, respondendo a perguntas e falando sobre o processo de curadoria”.

JB – Pode partilhar um pouco sobre a sua prática comunicacional? Como trabalha com o resto da sua equipa?

ER – Enquanto diretor da Bienal de Bucareste, a equipa é a parte mais importante do evento. Sem o lado humano é impossível construir um evento adequado e organizado. Para mim, as pessoas estão sempre em primeiro lugar. Falo daquelas que fazem parte da estrutura organizacional da Bienal, mas também dos voluntários do evento. Sem eles a Bienal não poderá ter lugar.

JB – Se pudesse dar ao mundo um qualquer presente, qual seria?

ER – A oportunidade de começar de novo.

Eugen Rădescu é curador, escritor e diretor da Bienal de Bucareste. É orador na Universidade de Bucareste e professor associado na Universidade Babes-Bolyai.

Josseline Black é curadora de arte contemporânea, escritora e investigadora. Tem um Mestrado em Time-Based Media da Kunst Universität Linz e uma Licenciatura em Antropologia (com especialização no Cotsen Institute of Archaeology) na University of California, Los Angeles. Desempenhou o papel de curadora residente no programa internacional de residências no Atelierhaus Salzamt (Austria), onde teve o privilégio de trabalhar próximo de artistas impressionantes. Foi responsável pela localização e a direção da presidência do Salzamt no programa artístico de mobilidade da União Europeia CreArt. Como escritora escreveu crítica de exposições e coeditou textos para o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Madre Museum de Nápoles, para o Museums Quartier Vienna, MUMOK, Galeria Guimarães, Galeria Michaela Stock. É colaboradora teórica habitual na revista de arte contemporânea Droste Effect. Além disso, publicou com a Interartive Malta, OnMaps Tirana, Albânia, e L.A.C.E. (Los Angeles Contemporary Exhibitions). Paralelamente à sua prática curatorial e escrita, tem usado a coreografia como ferramenta de investigação à ontologia do corpo performativo, com um foco nas cartografias tornadas corpo da memória e do espaço público. Desenvolveu investigações em residências do East Ugandan Arts Trust, no Centrum Kultury w Lublinie, na Universidade de Artes de Tirana, Albânia, e no Upper Austrian Architectural Forum. É privilégio seu poder continuar a desenvolver a sua visão enquanto curadora com uma leitura antropológica da produção artística e uma dialética etnológica no trabalho com conteúdos culturais gerados por artistas. Atualmente, está a desenvolver a metodologia que fundamenta uma plataforma transdisciplinar baseada na performance para uma crítica espectral da produção artística.

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