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Art Brussels 2022: Wrap up

As expectativas eram grandes. Após um hiato de dois anos, a Art Brussels regressou, agora, no primeiro ano considerado pós-pandemia, em força, para celebrar a sua 38ª edição. De 28 de abril a 1 de maio, no emblemático edifício Tour & Taxis no coração de Bruxelas, mais de uma centena e meia de galerias tiveram a possibilidade de mostrar o trabalho desenvolvido e preparado em circunstâncias tão conturbadas.

Fundada em 1968, a Art Brussels é uma das feiras de arte contemporânea mais reconhecidas a nível europeu. Devido à pandemia COVID-19, a Art Brussels teve de ser adaptada a formatos diferentes da sua apresentação, focando-se mais nas plataformas online e em eventos de menor dimensão e aglomeração do público.

Dividida em quatro grandes secções, Discovery, Prime, Rediscovery, Invited, e a sub-secção Solo, as 156 galerias que participaram nesta feira tiveram novamente a oportunidade de apresentar aos colecionadores e restante público projetos de grande qualidade.

Segundo explicou a diretora geral Anne Vierstraete, “Isto incluiu a nossa maior seleção de sempre de apresentações SOLO de galerias representadas na secção PRIME; as 34 apresentações em vista permitiram aos visitantes da Art Brussels obter uma compreensão substantiva e profunda desses artistas. O foco curatorial tem sido uma característica constante do que define a Art Brussels: na secção DISCOVERY, as galerias realizaram a curadoria de uma ‘conversa’ entre dois artistas ou a apresentação de uma exposição de uma só pessoa. No INVITED, a Art Brussels acolheu cinco galerias que repensaram o modelo da galeria”.

Os Solo Shows, na secção Prime, foram, sem dúvida, um dos grandes focos deste ano. A galeria Baronian (Bruxelas), vencedora do prémio Solo com as obras da artista senegalesa Seyni Awa Camara, apresentou uma série de esculturas feitas em cerâmica, onde as formas femininas de mulheres grávidas e figuras maternas cercadas por crianças são predominantes – a maternidade e a sexualidade representadas no seu todo. Seyni Awa Camara tem também a particularidade de realizar sacrifícios aos espíritos expressando-lhes o desejo de que lhe revelem, através do sonho, as formas que deve representar nas suas esculturas. A galeria Semiose (Paris) fez-se representar com o artista Anthony Cudahy, que expõe uma série de pinturas de retratos com diversas referências a obras-primas europeias, arquivos da cultura queer, iconografia gay, lembranças pessoais e familiares. As suas figuras fundem-se com amplas áreas de cor, desprovidas de outra intenção senão o prazer na arte de pintar. Galerie Les Filles du Calvaire (Paris), com a instalação, Inner Surface, de Kenny Dunkan, que entre a vulnerabilidade e intensidade revelou a presença da vida, aninhada nos mais pequenos detalhes, convidando a mente a fugir. A galeria Templon (Paris), exibiu um solo show de Abdelkader Benchamma, conhecido pelo uso de desenhos a tinta preta, site-specific, muitas vezes efémeros, que interagem e transformam os espaços expositivos em amplas e estranhas paisagens, tanto físicas como mentais, repletas de energias subtis, todavia caóticas.

A presença portuguesa não passou despercebida. A secção Discovery, conhecida por representar artistas emergentes com projetos desenvolvidos entre 2017 e 2020, destacou-se com a presença de duas galerias portuguesas, Lehman+Silva (Porto), com a artista Dayana Lucas, e a Kubikgallery (Porto), com as artistas Flávia Vieira e Manoela Medeiros.

Na secção Prime, a Galeria Vera Cortês (Lisboa) com os artistas Daniel Gustav Cramer, José Pedro Croft, Joana Escoval, João Queiroz, André Romão; e a Galeria Filomena Soares (Lisboa) com Helena Almeida, Pedro Barateiro, Herbert Brandl, Rui Chafes, Fernanda Fragateiro, Dan Graham, Kiluanji Kia Henda, Edgar Martins, João Penalva, Ricardo Valentim e Peter Zimmermann.

A Art Brussels, contou com novas iniciativas, entre elas uma parceria com a Parallel.art, criando, assim, um ‘ponto de contato’ NFT. A wandering performance da VOID com LMNO deambulou pela feira em vários momentos.

Nos eventos paralelos, é de salientar a Brussels Night Gallery, que possibilitou a visita a 11 galerias de arte contemporânea, localizadas em vários pontos de Bruxelas, entre elas a Sorry We’re Closed, com pinturas de Nikki Maloof, Mendes Wood Gallery, com Heidi Bucher, Greta Meer, com Jean-Luc Moulène e pinturas de Anne Neukamp, e ainda, Gladstone Gallery, com obras de Alex Katz.

O Wiels – Centro de Arte Contemporânea, apesentou a exposição Husbandry do artista Kasper Bosmans, com a presença do mesmo e da curadora Zoë Gray. Kasper Bosmans é um contador de histórias, fascinado por contos que perpetuam ao longo do tempo, onde desfia os seus fios e os tece de forma lúdica em novas histórias. Partindo sempre de exemplos específicos e utilizando objetos do quotidiano que fazem referências à cultura queer, Kasper Bosmans utiliza tradições locais e vernáculas para abordar questões globais. Numa era de crescente polarização, mistura referências de diferentes épocas e culturas numa tentativa de revelar as suas semelhanças, evidenciando o quanto temos em comum.

Por fim, na galeria C L E A R I N G, a exposição imersiva e interativa – Pandemic Pandemonium –, de Neïl Beloufa, estará patente até 15 de maio. À medida que percorremos a exposição deparamo-nos com três avatares – Blue bot, red bot e yellow bot – que competem pela coisa mais importante nos dias de hoje: a nossa atenção. Como uma matryoshka, esta exposição tem uma séria de camadas e mostra como está a nascer uma nova forma de contar histórias e a criação de um mundo novo.

Dito isto, a Art Brussels voltou a provar a sua autenticidade enquanto feira de arte contemporânea, e simultaneamente, o seu papel enquanto epicentro de desenvolvimento da cena artística e do pensamento intelectual, com forte presença de artistas, curadores, galerias, museus e colecionadores espelhada por toda a cidade – um ecossistema vibrante, autossuficiente, pleno de projetos interessantes, bem no centro da Europa.

Sofia Pascoal (Lisboa, 1996) Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, fez Erasmus na área da Conservação e Restauro na Universitat Politècnica de València. Tem um curso de Joalharia pelo Centro de Joalharia de Lisboa. Em 2021 terminou a Pós-graduação em Curadoria de Arte na NOVA/FCSH onde fez parte do coletivo de curadores responsáveis pela exposição "Na margem da paisagem vem o mundo". Em 2022 começou a trabalhar na Umbigo.

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