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Interior: Patrícia Garrido na Giefarte

Interior é a nova exposição individual de Patrícia Garrido na Giefarte, composta por uma única obra que habita e ocupa quase na totalidade todo o espaço expositivo, condicionando a mobilidade e aguçando a nossa curiosidade. Esta instalação site-specific foi um projeto desenvolvido nos últimos meses de 2021 e terminado no próprio espaço da galeria.

Ao entrarmos na sala de exposições da Giefarte, a primeira sensação é quase claustrofóbica, somos engolidos pela enorme estrutura em ferro que aqui está instalada. O único espaço existente para circular são os pequenos corredores que se criam entre os limites da obra e as paredes da galeria. Circulamos lentamente em redor de Interior (2022) com curiosidade sobre o seu interior, ao qual não temos acesso. A obra é uma enorme estrutura em ferro com quase sete metros de comprimento e, foi construída com antigas traves de prateleiras industriais (com diferentes tamanhos e cores), formando uma série de grelhas. A sensação é a de uma construção feita em camadas, onde cada uma impede ainda mais a nossa passagem, garantido assim a impossibilidade do nosso corpo atravessar a estrutura. Somos completamente interditos de aceder fisicamente ao seu interior.

Enquanto percorremos os limites da obra, a nossa presença torna-se cada vez mais ansiosa, ao notarmos que a nossa livre-circulação é condicionada, não só pela densa malha de ferro, como também pelo grande volume da obra. O ferro, o único material que compõe a obra, exalta este nosso estado por se tratar de uma estrutura agressiva ao corpo humano.

Só através dos nossos olhos é possível aceder a este interior para o qual olhamos com curiosidade. O nosso corpo tenta movimentar-se, procurando um espaço vazio por entre as traves que dê mais acesso à nossa visão. Ainda assim, é impossível olhar a obra na sua totalidade por não haver espaço para nos afastarmos do seu corpo. Interior (2022) desenha-se também pelas sombras projetadas nas paredes da galeria.

Patrícia Garrido parece problematizar o ato de observar e ver a obra, assim como fez Marcel Duchamp em 1942 com Sixteen Miles of String, apresentada na exposição coletiva The First Papers of Surrealism, a primeira grande exposição de arte surrealista nos Estados Unidos. Esta instalação site-specific, consistia numa corda que passava por todo o espaço expositivo, criando uma enorme teia que impedia a livre circulação dos visitantes e a sua aproximação às restantes obras, acabando por obstruir a visão do espetador. Quem visitou a exposição tinha obrigatoriamente que movimentar o corpo pela estranha teia de cordas, espreitando entre espaços vazios para conseguir observar os quadros e esculturas que compunham a mostra. Marcel Duchamp reformulou assim o ato de ver uma exposição, gerou novas formas de aproximação e relação com a obra de arte. Patrícia Garrido, concretiza com Interior (2022) esta mesma dança entre o corpo, a obra e o espaço expositivo.

A intenção é que a obra viaje por vários espaços expositivos, resultando numa instalação em constante metamorfose que ocupa diferentes formas e volumes por cada lugar que passe, é “uma construção em contínuo processo de reorganização devido à impossibilidade de estabelecer um plano de montagem a cada apresentação”.

O Interior inacessível de Patrícia Garrido está patente até ao dia 13 de maio na Giefarte.

Laurinda Branquinho (Portimão, 1996) é licenciada em Arte Multimédia - Audiovisuais pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Estagiou na Videoteca do Arquivo Municipal de Lisboa onde colaborou com o projeto TRAÇA na digitalização de filmes de família em formato de película. Recentemente terminou a Pós-graduação em Curadoria de Arte na NOVA/FCSH onde fez parte do coletivo de curadores responsáveis pela exposição "Na margem da paisagem vem o mundo" e começou a colaborar com a revista Umbigo.

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