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WHAT PORTUGUESE? – o que nomeia, difere e caracteriza a arquitetura portuguesa na Casa da Arquitetura

O nome desta exposição chega-nos em inglês para nos falar de Arquitetura Portuguesa situando-a internacionalmente. Como se destaca, o que a torna ímpar ao longo da história, mas sobretudo numa análise do presente. O caminho faz-se através de um projeto de investigação intitulado (EU)ROPA – Rise of Portuguese Architecture, coordenado pelos arquitetos Jorge Figueira e Bruno Gil, também curadores da exposição.

Sabendo ler que portuguesa é também uma adjetivação dada à arquitetura e que nos transporta para distintas conotações consoante a temporalidade, é essa linha do tempo que nos conduz para um posicionamento atual, onde quer a prática de arquitetura construída quer a produção de crítica têm um lugar que merece estudo num contexto não apenas local. Não obstante a reconhecer-se que em Álvaro Siza recai o maior ónus quando se fala de arquitetura portuguesa no mundo, esta investigação também o refere como singular, por englobar em si todos os itens que mapeiam a tal Portugalidade que o arquiteto Nuno Grande chamou de Universalista.

A exposição explora possibilidades de situar a arquitetura portuguesa a partir de várias questões, que, em conjunto, poderão canalizar-nos a hipóteses de resposta para a pergunta mãe What Portuguese? Com a participação de autores para cada uma das áreas em destaque, o convite para esta caracterização chega-nos com:

What History?, por Rui Lobo, baliza-nos numa arquitetura ocidental cheia de nuances, que só estudadas nos permitem consciencializar futuro. Para tal, vai analisar momentos chave como a chegada de linguagens internacionais ao nosso território, a ambição de nos posicionarmos além-fronteiras, as fases de contenção formal ou de necessidade de afirmação e os contextos peculiares de momentos de expansão da arquitetura portuguesa nas ex-colónias. 

What Historiography?, por Jorge Figueira e Eliana Sousa Santos, traz-nos a importância das narrativas que, escritas pelos críticos, nos vão conduzindo a posicionamentos e análises de obras e autores. Com destaque a George Kubler e Paulo Varela Gomes, esta secção, pautada por referências a livros ou artigos de imprensa, permite-nos perceber como a criação de “mitos” ou a insistência no uso de alguns termos foram pautando o olhar sobre a arquitetura portuguesa, dentro e fora de fronteiras.

What Fascism?, coordenada por Luís Miguel Correia, leva-nos para a possibilidade de uma leitura contemporânea, à luz de discursos que remetem para ideias de identidade, ética e ideologia, que possam abrir portas para uma imagem de um Portugal recente e da sua contribuição para uma arquitetura que ora se fechou ao mundo, ora ambicionou liberdade e procurou não ficar refém de discursos datados. 

What Colonialism?, por Ana Vaz Milheiro, permite-nos conhecer uma lógica de infraestruturas territoriais que, em tempos distintos, ditaram a ideia de fixação/mobilidade ou a necessidade de planeamento do território e as perspetivas políticas adjacentes. Uma herança modernista, onde Portugal deixou marcas significativas em diferentes territórios, umas pela importância que até hoje representam na estrutura arquitetónica dos países abrangidos, outras pela vergonha colonial que a história não deve apagar.

What Democracy?, coordenada por Nuno Grande, enfatiza o “curto-circuito” do pós-revolução, que traz anseios pós-modernos ao nosso país, ao mesmo tempo em que a luta ainda era pela modernidade. Com realce no ativismo político que a disciplina abraçou após o 25 de Abril de 1974, para dar resposta a questões como a educação, a habitação, a saúde e o trabalho, uma análise que nos conduz também à ambição de um discurso Europeu. Álvaro Siza é apresentado como bandeira de toda a pluralidade. 

What Social?, por José António Bandeirinha, entre momentos de esperança coletiva, a um ditar de um fecho por um regime, a arquitetura determinou também a diferença de classes económicas, políticas e culturais. É na leitura desses processos sociais que revelam fragilidades e consistências que podem também estar alicerces para construção de futuro. 

What Women?, por Patrícia Santos Pedrosa e Jorge Figueira. Num país onde a primeira mulher a formar-se em arquitetura data de 1942, em pleno Estado Novo, importa olhar para a dureza de um território onde, em 1950, 48% das mulheres eram analfabetas. Analisa-se aqui o seu crescimento no ensino universitário, o seu papel ativista e até associativo, em décadas onde o caminho da afirmação da mulher foi sendo gradual e importante para a arquitetura portuguesa.

What Education?, coordenada por Gonçalo Canto Moniz, mostra-nos a cartografia da disciplina através do seu ensino, das instituições e políticas que entre 1966 e os anos 2000 foram criando escolas e posicionamentos. Entre Lisboa e Porto as principais diferenças, mas também todos os outros discursos, que em momentos políticos distintos trouxeram, através da academia, o discurso da arquitetura para a cultura. 

What Research?, por Bruno Gil e Carolina Coelho, procura mapear, desde os anos 1960, as possibilidades que a investigação trouxe para as pontes entre a arquitetura e a ciência, na perspetiva de uma amplitude cada vez maior da sua interdisciplinaridade, também fundamental para, através da investigação, encontrarem-se novos caminhos para a prática. 

What Pop?, por Jorge Figueira e Carlos Machado e Moura, seduz-nos a olhar para a arquitetura através da sua comunicação. Entre discursos mais herméticos ou mais híbridos, o poder de um desenho, de um cartaz ou até de uma banda desenhada podem remeter-nos para um cânone ou uma fábula. Numa crítica que pode chegar em vários tons, como o da caricatura, a arquitetura foi o veículo de construção da cultura de massas. 

Quantos “What” cabem neste catalogar da arquitetura portuguesa? Todos aqueles que o passado imprimiu e os que o futuro almeja, num presente que carece de olhares atentos. A exposição sistematiza possibilidades de olhares e amplia discursos entre o eu e o nós, o aqui e o algures, o nacional e o internacional.

Para visitar na Casa da Arquitetura, em Matosinhos, até ao dia 24 de abril.

Fabrícia Valente é formada em Arquitetura pela Universidade de Évora (pré-Bolonha) e tem formação em áreas complementares como o vídeo, a fotografia e a produção de exposições temporárias. Desenvolve a sua atividade entre a Curadoria (ex: Pavilhão KAIROS), a Crítica (é editora da secção online de Arquitetura da Umbigo Magazine e faz parte da redação do J-A) e a Mediação Cultural (Museu Coleção Berardo e MAAT), já tendo trabalhado em mais de 90 exposições. Colabora com diversas entidades na procura da multidisciplinariedade entre a Arquitetura, as Artes Plásticas e a Música, áreas onde está a desenvolver trabalhos de investigação.

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