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Um berlinde no chão, quase no meio da sala: Susanne S. D. Themlitz na Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea

A exposição Um berlinde no chão, quase no meio da sala, de Susanne S. D. Themlitz, propõe-nos uma viagem na transitoriedade, no movimento perpétuo.

Entre uma sugestão de objetos, que se aglomeram e alinham, sobre uma longa bancada, encontramos diversos fragmentos: desde corais brancos, esponjas naturais, desenhos, potes quebrados virados do avesso, algumas intersecções feitas por varas em metal, em ligação com objetos em cerâmica, plintos, espelhos, garrafas de água com água dentro, lupas, vidros sobrepostos, matérias plásticas em estado sólido. Ao longo de todo o percurso há tonalidades unificadoras e desterritorializadoras. Objetos que se assemelham, e outros que se diferenciam de modo relevante. Outros ainda que, apesar de se oporem mantêm uma ténue continuidade. Quer na sua forma geométrica, quer na forma reticulada irregular.

A fileira de objetos é composta por um sistema aberto, apesar dos subconjuntos que motivam a perceção de pequenos grupos ou quadros.

Propõe-se um modo linguístico e cinematográfico na instalação, e sugere-se tanto uma “saturação, quanto uma rarefação”, jogo entre o equilíbrio e o desequilíbrio, ou entre o geométrico e o orgânico.

Podemos observar espelhos que multiplicam esses conjuntos e que permitem vários quadros, dentro dos quadros. Conduzindo a uma ideia de profundidade de campo, ou a outros campos.

Os pequenos fragmentos, ou objetos, também se deformam, ampliam ou tornam-se diversos, ao serem olhados através de lentes que despontam, aqui e ali, sobre a longa bancada.

Nesta descrição é impossível não referir a frase deleuziana, “uma ambiguidade entre uma cena secundaria e uma cena principal”.

As bancadas, posicionadas em fileira, ao longo da ampla sala, cobrem outras bancadas inferiores, e ainda planos que se intersectam e escondem outros fragmentos matéricos. Num jogo de continuidade e descontinuidade, heterogeneidade e homogeneidade, somos conduzidos a uma organização rizomática, em que cada objeto, ou conjunto de objetos, desterritorializa o outro. Quer de forma ténue, quer através de uma oposição acentuada que nos leva a interrogar sobre potenciais agenciamentos, e a multiplicidade de heterogéneos possíveis, que eclodem infinitamente.

Por detrás de um espelho, encontram-se pequenos objetos, é preciso contorcer o corpo, para descobrir outros objetos, e ainda mais, para sermos surpreendidos por outros que, há momentos atras, se conservavam ocultos. A sensação é, por um lado, a de um continuum, um fio que liga os vários objetos na sua transitoriedade, por outro lado a de vários “fora de campos”, ou um “abre e fecha”, como diria Deleuze, que obrigam a esse balançar dos corpos, a esse exercício intenso do ver. Entre varias tensões e equilíbrios, linhas retas, verticais, horizontais, diagonais. Planos sobre outros planos, que compreendem interioridade e exterioridade, conjuntos e partes de conjunto, sombras e reflexos de luz, múltiplos pontos de vista, enquadramentos, outras dimensões da imagem. Entre o visível e a imagem mental, entre o sistema aberto e o fechado.

Um berlinde no chão, quase no meio da sala está patente na Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, em Almada, até 20 de fevereiro.

Carla Carbone nasceu em Lisboa, 1971. Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999, primeiro no Semanário O Independente, depois em edições como o Anuário de Design, revista arq.a, DIF, Parq. Algumas participações em edições como a FRAME, Diário Digital, Wrongwrong, e na coleção de designers portugueses, editada pelo jornal Público. Colaborou com ilustrações para o Fanzine Flanzine e revista Gerador. (fotografia: Eurico Lino Vale)

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