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Antártica – Fora de Equilíbrio: Edward Longmire no Museu Nacional de História Natural e da Ciência

A Antártica é o continente mais árido e isolado do mundo.

As alterações climáticas estão a levar à diminuição deste frágil ecossistema – cada vez mais rápido.

Fotografias únicas a partir do topo do mundo… sobre o assunto mais importante do mundo.”1

 

Nos confins da Terra, Edward Longmire testemunha a dualidade entre a beleza do lugar e um futuro que se pressente.

O olhar do fotógrafo parte da Antártica e expande-se pelo mundo, alertando-nos para a imensidão de um espaço cuja fragilidade se reflecte a nível global. Pois, o Antropoceno manifesta-se sobre os ecossistemas que reverberam em alterações biofísicas à escala planetária.2 É o processo de desintegração de um continente que se expressa na visibilidade do degelo.

A luz incide sobre um manto branco, mas a sua tessitura está quebrada, traduzindo-se a imagem em fragmentos flutuantes, ou ainda, volumes ocres de terra que emergem entre a brandura de azul.

No outro lado do hemisfério, num clima ameno e atlântico, a Antártica é um continente longínquo com uma paisagem inóspita. E é esta distância física que nos afasta emocionalmente. Perante a evidência da fragilidade, não nos comovemos. Contudo, ao mergulharmos com o corpo no lugar, o sentido e o sentir manifestam-se.

É na zona mais meridional do planeta que Longmire nos desvela as fronteiras do maior deserto de água do mundo. Chamam-lhe as terras do gelo, mas o artista regista o seu desaparecimento. Trata-se da fotografia enquanto testemunho de uma natureza duplamente bela e trágica.

É essa dicotomia que nos atrai perante o deslumbramento estético das imagens.

Em Antártica – Fora de Equilíbrio, a exposição divide-se em seis categorias: ‘landscapes, manmade materials in landscapes, icebergs, sea ice, wildlife and the future’3. As fotografias são acompanhadas pela combinação de factos científicos e fragmentos do diário de viagem do artista. É entre o tempo presente e o que poderá ser que Longmire nos mostra a urgência da consciencialização ambiental a nível global. Contudo, ao invés de um futuro paralizante e irreversível, o artista dá-nos um sentido de esperança na humanidade e oferece-nos uma vida selvagem que ainda resplandece entre os matizes de branco e azul.

 

Antártica – Fora de Equilíbrio, de Edward Longmire, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, até 27 de fevereiro.

 

Referências:

 1 –  Excerto retirado de: EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DE EDWARD LONGMIRE, disponível aqui.

2 – Referência ao artigo Antropoceno: os desafios essenciais de um debate científico, disponível aqui.

3 – Excerto de entrevista realizada ao artista Edward Longmire no dia 3 de Dezembro 2021.

Margarida Alves (Lisboa, 1983). Artista, doutoranda em Belas Artes (FBAUL). Investigadora bolseira pela Universidade de Lisboa. Licenciada em Escultura (FBAUL, 2012), mestre em Arte e Ciência do Vidro (FCTUNL & FBAUL, 2015), licenciada em Engenharia Civil (FCTUNL, 2005). É artista residente no colectivo Atelier Concorde. Colabora com artistas nacionais e estrangeiros. A sua obra tem um carácter interdisciplinar e incide sobre temas associados à origem, alteridade, construções históricas, científicas e filosóficas da realidade.

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