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Mais pesado que o céu, Ângela Ferreira no Sismógrafo

O Sismógrafo apresenta-nos Mais pesado que o céu, uma exposição individual de Ângela Ferreira que propõe uma viagem à herança cultural da cidade de Punta Arenas, no Chile.

Contrariando uma visão histórica eurocêntrica, Ângela Ferreira propõe uma reflexão sobre Punta Arenas – uma cidade portuária chilena “marcada nos primeiros anos pós-independência pelo caráter de cidade penitenciária que os poderes centrais lhe impuseram e pela intensa imigração de que foi alvo”. A artista, natural de Maputo, tem vindo a desenvolver uma prática artística focada em temáticas históricas coloniais e pós-coloniais que se expandem por diferentes campos de produção, desde peças escultóricas e peças videográficas, como que memoriais não institucionais.

Quando Ângela Ferreira nos apresenta uma obra videográfica constituída por diversos momentos, entre os quais gravações de manifestações na cidade de Punta Arenas, desafia a memória coletiva e propõe uma nova recordação. Escrevo este texto com imagens que me ocupam a consciência, que pela artista me foram dadas. Numa conversa que tive recentemente no contexto de partilha de investigação artística, apercebi-me da minha própria percepção do conceito de “memorial”. Parecia-me um conceito do passado, de uma realidade distante, algo que aceitava mas não valorizava. A vergonha que senti após a verbalização destas palavras levou-me a pensar em que consiste um memorial – desde uma placa a uma frase (never forget) ou até uma flor, o conceito de memória coletiva depositada num objeto, num som ou num ser vivo. A necessidade de representar ou lembrar um momento ou um grupo de pessoas poderá até ser considerara uma responsabilidade pública. Não serei verdadeiramente capaz de definir “memorial”, mas agora na perspetiva do indivíduo, reflito sobre a memória e a lembrança forçada, aquela que surge a partir do esforço de um elemento externo que existe, talvez apenas, para ser recordado.

O chão vermelho do Sismógrafo, a peça escultórica de Ângela Ferreira e os desenhos que a acompanham, abraçados pelo vídeo projetado na parede de fundo do espaço, “(…) um passado colonial, um país marcado por uma história política complexa desde a sua independência; e o acaso que fez Ângela Ferreira passar por Punta Arenas precisamente nos momentos que antecederam a saída para a rua dos protestos do povo chileno em 2019”.

A exposição Mais pesado que o céu está patente até dia 18 de dezembro.

Doutoranda de Filosofia na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa de Braga, é mestre em Crítica Curadoria e Teorias da Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e licenciada em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Em 2018 lança o primeiro número da revista Dose da qual é cofundadora e editora, e em 2020 funda o espaço de estúdio para artistas o.estúdio no Bonfim, Porto. Trabalha atualmente como artista plástica, curadora freelancer e escritora, tendo já contribuído com artigos para diversas publicações.

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