DEVOLUTION: Tomaz Hipólito nas Carpintarias de São Lázaro
DEVOLUTION é a mais recente exposição individual de Tomaz Hipólito nas Carpintarias de São Lázaro. Com curadoria de João Silvério, esta exposição apresenta uma série de trabalhos que se desdobram entre a escultura, o desenho e a performance. Mostrando objetos que parecem ser desdobramentos do mesmo mundo, é visível a intenção de Hipólito em devolver à natureza prolongamentos das suas formas.
A primeira sala das Carpintarias é habitada por uma série de esculturas que nos remetem automaticamente para o meio natural. Na zona central da sala, foram suspensos no teto nove ramos de árvores que se estendem até ao chão. A estes ramos pintados de negro, foram aplicados pequenos prolongamentos feitos por tubos de plástico que se misturam com as ramificações naturais. Ao fundo desta sala, outros ramos de várias dimensões foram dispostos ao longo de toda a parede, mas aqui os tubos de plástico aumentam significativamente de tamanho, alongando ainda mais o comprimento dos ramos. A união destes dois materiais parece conferir à madeira características do plástico, dando a ilusão, por exemplo, que os troncos são flexíveis. A luz artificial dos diferentes holofotes e a natural que trespassa pelas janelas, faz com que as sombras destes dois grandes objetos escultóricos (2021 draw_21 #08 e 2021 draw_21 #09) criem novos desenhos na parede e chão da galeria.
Junto à janela horizontal com vista sobre a cidade, um outro tronco é novamente prolongado por um tubo de plástico que se atreve a atravessar a janela da galeria e a voltar novamente para o seu interior, como que imitando o movimento de uma trepadeira selvagem. Ao fundo deste nicho vive uma outra obra do mesmo registo, em 2021 draw 21 #05 um tronco foi prolongado por dois tubos que se ramificam noutros dois ramos suspensos ao teto.
A cor negra mate aplicada sobre os diferentes materiais, vai absorver parcialmente as sombras que se poderiam formar na superfície dos ramos, aproximando estes objetos escultóricos à aura do desenho.
O desenho foi o meio que inaugurou esta exposição, numa performance em que o artista interveio diretamente sobre as paredes da galeria. Neste ato, Tomaz Hipólito tomou a parede como suporte e desenhou sobre a projeção de uma árvore despida que se movia ligeiramente com o vento. O desenho a negro foi feito sobre o movimento da árvore e traçou as principais linhas da sua estrutura, dando origem a um esqueleto que a certa altura parece também acompanhar o ritmo dos ramos originais. Hipólito inicia o processo pela ponta de um dos ramos mais altos, mas, ainda assim, o desenho só se estende até onde o seu corpo alcança. Esta ação única permanece materializada pelo desenho, mas também pelo registo em vídeo projetado numa pequena sala das Carpintarias. Artista, desenho e projeção, unificam-se aqui num único plano: o corpo, a tinta e a árvore passam a ser um só. Nesta projeção, o corpo do artista funde-se com o corpo da árvore e a sua silhueta negra passa também a ser composta por ramos. A nível formal, o desenho que resultou desta performance, faz lembrar os estudos feitos por Mondrian a propósito da árvore que pintou incansavelmente entre 1909 e 1911, simplificando as suas formas e tornando-a cada vez mais abstrata.[1] Sabemos que Mondrian pintou infinitamente a mesma árvore para chegar a novas formas partindo da mesma estrutura, mas e qual é a relação de Tomaz Hipólito com a árvore que nos decide revelar e desenhar? E, farão os ramos presentes na galeria parte desta árvore ou do seu habitat?
O conjunto de objetos reunidos em DEVOLUTION, parecem todos partir do mesmo método de trabalho, que passa por recolher elementos da natureza (troncos e ramos), tratá-los dentro do atelier juntamente com os tubos de plástico e unificar os dois materiais com a cor negra. O resultado é uma série de estranhas composições que denunciam o interesse do artista pela antítese entre o natural e o artificial.
DEVOLUTION de Tomaz Hipólito ficará patente nas Carpintarias de São Lázaro até 19 de dezembro de 2021.
[1] Elgar, Frank (1973) Mondrian. Cacém: Editorial Verbo. p. 39