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A experiência imersiva de Carsten Höller no MAAT

Num painel metálico voltado para o Tejo, 1100 lâmpadas piscam a uma frequência de 7,8 Hz e acompanhadas por um som na mesma frequência, funcionam como billboard da nova exposição monográfica de Carsten Höller apresentada no MAAT com curadoria de Vicente Todolí.

DIA começa no exterior do museu com a obra Light Wall [Outdoor Version] (2021) e faz referência à Ressonância de Schuman: 7,8 Hz é o número que corresponde à frequência do campo eletromagnético da Terra e das nossas ondas cerebrais. Esta ressonância desencadeia a libertação de hormonas de crescimento e aumenta o fluxo sanguíneo pelo corpo, ajudando-nos a atingir um nível mais elevado de consciência e bem-estar. Carsten Höller anuncia assim aquilo que se vai desenrolar dentro do museu: uma experiência imersiva e altamente visual que promete desafiar a perceção do espectador com uma série de estímulos psicofísicos.

O ritmo abranda no interior do museu e a escuridão toma conta da grande sala oval do MAAT. Habitada pela obra Lisbon Dots (2021), esta sala transforma-se num palco onde vinte pontos coloridos são projetados no chão desafiando o espectador a participar dum jogo de status em que cada cor contém uma possibilidade ou não. Entre o vermelho, o azul, o verde e a exclusividade do único ponto branco, as probabilidades de sucesso são diferentes, mas se os visitantes se unirem poderão ascender todos os vinte pontos à cor branca: apenas têm de conseguir aglomerar todos os pontos vermelhos.

Em Choice Corridor (2000) é proposto o desafio de percorrer um corredor labiríntico que engole completamente qualquer raio de luz. Aqui o ritmo da exposição abranda novamente, Höller deixa-nos completamente na escuridão e sem qualquer estímulo visual, apoiados apenas no nosso tato e audição, procuramos ansiosamente por uma luz. Neste corredor, existe uma pequena divisão secreta com uma cadeira onde somos convidados a sentar e ser espectadores dos visitantes que procuram a luz.

Uma luz verde néon começa a surgir no final deste corredor apresentando um novo momento expositivo: nesta sala o dia volta a nascer e os néones e as formas circulares predominam no conjunto de obras. Carsten Höller utiliza o tempo como uma forma matemática de fazer arte e apresenta-nos um conjunto de esculturas em néon apoiadas no princípio da divisão: em Divisions Wall (2016) vários tubos de néon dispostos verticalmente ao longo da parede, vão acompanhando a arquitetura do museu ao mesmo tempo que se afunilam. Half Clock [Novial Gold, Salmon Rose and Purple] (2021), Half Clock [Lime green, Turquoise and Pink] (2014) e Decimal Clock [White and Pink] (2018), representam duas formas distintas de medir o tempo, mas Höller tem consciência da complexidade destes mecanismos fazendo questão de os explicar detalhadamente na folha de sala. Nestas três obras Höller complexifica a perceção da passagem do tempo ao representá-lo com relógios altamente difíceis de descodificar: Decimal Clock Clock [White and Pink] (2018) é, por exemplo, um relógio composto por cento e dez canais de néon que representam o tempo de um dia inteiro dividido em 10 horas, construído com base na ideia da contagem do tempo em unidades decimais. Tentar definir a passagem do tempo é claramente um desafio, mas Höller sugere que tentemos pelo menos nos confrontar com o assunto.

Atravessando a explosão luminosa de Light Corridor (2016), encontramos Two Roaming Beds e Insensatus (2015). Nesta instalação composta por duas camas robóticas, Höller lança aos visitantes o desafio de passar uma noite no museu. Quem tiver a possibilidade de participar nesta luxuosa experiência terá a oportunidade de percorrer DIA na intimidade da noite e, receberá um enigmático kit (Insensatus) composto por quatro pastas de dentes que prometem conseguir regular a intensidade dos sonhos, o seu conteúdo, e aumentar a capacidade de os recordar. Sálvia, camomila, lavanda, jasmim e trufas brancas são algumas das substâncias naturais que as compõem.  O rasto desta noite é traçado no chão do museu com dois marcadores (azul e vermelho) anexados a cada uma destas camas, resultando num desenho de grande escala que vai crescendo ao longo da exibição.

DIA mostra o interesse de Carsten Höller nas relações humanas, visível pelo carácter interativo das suas obras que muitas vezes dependem da participação de um conjunto de pessoas em simultâneo. Na sua prática artística é ainda evidente o percurso que teve como cientista, as fórmulas matemáticas estão explicitas em várias das suas esculturas. Numa exposição em que a iluminação do museu depende somente de cada uma das obras, Höller desafia o público a expandir os lugares da consciência através da luz e da escuridão.

DIA pode ser visitada até 28 de fevereiro de 2022.

Laurinda Branquinho (Portimão, 1996) é licenciada em Arte Multimédia - Audiovisuais pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Estagiou na Videoteca do Arquivo Municipal de Lisboa onde colaborou com o projeto TRAÇA na digitalização de filmes de família em formato de película. Recentemente terminou a Pós-graduação em Curadoria de Arte na NOVA/FCSH onde fez parte do coletivo de curadores responsáveis pela exposição "Na margem da paisagem vem o mundo" e começou a colaborar com a revista Umbigo.

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