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#banhodeprata n’aDrogaria

Inaugurada a 30 de outubro de 2021, aDrogaria assume-se como o mais recente projeto cultural da cidade do Porto, que ao longo de um ano e desdobrando-se num ciclo de cinco projetos expositivos, irá dar a conhecer o trabalho de artistas nacionais e internacionais dentro da prática contemporânea.

Ainda sem um espaço próprio, o ciclo expositivo d’aDrogaria pode ser visitado na Corujeira – freguesia de Campanhã. Hospedada pel’aSede Amarela, associação cultural com uma programação autónoma e independente, aDrogaria, cuja programação conta com o apoio do programa municipal Criatóriodá-nos a conhecer a sua primeira exposição, #banhodeprata, patente até 20 de novembro.

O nome sugestivo do projeto artístico deve-se ao fato de ocupar o espaço de uma antiga drogaria – a Drogaria da Corujeira – perpetuando desse modo a memória da antiga loja de comércio local. Estabelecimento não comercial de artistas, droguistas e outros tantos, codirigido por Beatriz Chagas, Francisco Correia, Manuel Fonseca, Nuno Pires e Sebastião Pires, aDrogaria pretende, segundo os seus fundadores, experimentar momentos culturais fundamentados no conceito de slow curating, na necessidade de reavaliar as taxonomias associadas à prática artística e na urgência de recolocar as mesmas em contextos não-institucionais e de valor expandido – alargando o acesso à arte e esbatendo as hipotéticas fronteiras que definam o costumeiro público-alvo e os estaminés frequentados.

Reunindo obras dos artistas Débora Silva, Henrique Palmeirim, Max Siedentopf, Rebeca Romero e Teresa Dantas, a mostra coletiva e eclética parte da memória que permanece do espólio e do espaço da antiga drogaria, agora em funcionamento do lado oposto da rua. A evocação da loja que outrora ocupava o novo espaço expositivo é feita assim que entramos no local, ao sermos recebidos por um enorme balcão em madeira – qual memorabilia – o mesmo onde outrora eram resolvidos os problemas dos antigos clientes. Dispostas sobre o balcão, dobradas e pousadas chamam-nos a atenção batas de tecido de um laranja elétrico numa alusão às batas utilizadas pelos antigos funcionários das drogarias. Jogando com conceitos e humor, apercebemo-nos ao aproximarmo-nos das batas que cada uma delas apresenta impressa no tecido a biografia dos artistas presentes na exposição, como se cada um deles personificasse a figura de novo funcionário d’aDrogaria. Servindo-se da tipologia da atividade comercial das drogarias como metáfora para a acumulação de objetos e saberes diferentes, sem hierarquia ou separação entre si, o coletivo pensou e concebeu a primeira exposição tendo como mote a questão dos objetos e a diversidade de conteúdos num mesmo espaço. Em #banhodeprata, mergulhamos num universo estético e visual no qual predominam a variedade de médiuns, cores e materiais através das obras de artistas de diferentes áreas, que questionam a funcionalidade dos objetos. Da ironia do trabalho fotográfico de Max Siedentopf, no qual reconhecemos objetos que podemos encontrar numa drogaria e que o artista subverte e metamorfoseia conferindo-lhes uma nova função: a de armas; às peças em tecido de Rebeca Romero, que combinam ícones da tradição indígena sul americana com técnicas de impressão avançadas, num exercício que une passado e futuro e através do qual somos desafiados a questionar a função do símbolo e o modo como os objetos se podem atualizar. Destaquemos ainda o universo paralelo que nos é apresentado por Henrique Palmeirim por meio de um videojogo; as peças de joalharia contemporânea de Teresa Dantas, que podemos definir como ourivesaria não utilitária e que se assumem como verdadeiros objetos escultóricos, e os dois trabalhos de Débora Silva – uma animação 3D e uma instalação com ícones resultantes de impressão 3D – ambos com uma vertente do ponto de vista político, para os quais a artista recorreu ao objeto da pílula, sem esquecer a alusão ao próprio jogo de palavras: drogaria, drogas, medicamentos.

A propósito da lógica de acumulação e encontro que inspira o coletivo, importa mencionar a presença no logradouro d’aDrogaria de uma peça em cerâmica de Rebeca Romero, A Slice of Shining Sun (2020), à qual se acumularão futuramente objetos das próximas exposições. Espaço expositivo e de reflexão artística, aDrogaria assume-se como um lugar de encontro e descoberta que procura reunir e unir no mesmo espaço diferentes narrativas artísticas contemporâneas, motivo pelo qual assume o parafuso como imagem do projeto: O parafuso é para nós um símbolo de ficção e, portanto, uma promessa de unir e manter unido.

#banhodeprata esteve patente n’aDrogaria até 20 de novembro.

Mafalda Teixeira mestre em História de Arte, Património e Cultura Visual pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, estagiou e trabalhou no departamento de Exposições Temporárias do Museu d'Art Contemporani de Barcelona. Durante o mestrado realiza um estágio curricular na área de produção da Galeria Municipal do Porto. Atualmente dedica-se à investigação no âmbito da História da Arte Moderna e Contemporânea, e à publicação de artigos científicos.

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