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Composição para um espaço com base nas estrelas e planetas: Sérgio Carronha na Galeria Municipal de Almada

Percorremos a exposição de Sérgio Carronha, Composição para um espaço com base nas estrelas e planetas, patente na Galeria Municipal de Almada, e observamos os vários trajetos e alinhamentos misteriosos produzidos pelas peças do artista. Pinturas em tons terrosos estendem-se sobre as janelas da galeria, e configuram desenhos circulares concêntricos, num processo site-specific, muitas vezes aplicado pelo artista. Os materiais barrentos usados, muitas vezes trilhos em pó, os percursos descritos, as formas sulcadas na pedra, evocam e resgatam saberes ancestrais, com os seus códigos simbólicos próprios, alusivos aos astros, como o sol e a lua. A criação de Sérgio Carronha assenta, também, na memória. Num processo que se desenvolve, consubstancia e adensa com o auxílio do espaço e do tempo. O artista, como diz a curadora Filipa Oliveira, realiza um estudo «alargado e expandido no tempo». O alvo do estudo é um terreno em Montemor-o-Novo onde começa a trabalhar, em 2017, e para onde resolve ir viver, para poder cultivar e explorar.

Carronha observou os pontos de sombra, os pontos de luz, as linhas de água, o rasto deixado pelo vento, a humidade da terra. Procurou o que era autóctone, o que compreendia ser o mais natural, ali existente.

O artista aproxima-se do lugar, mas não sem antes respeitar a sua natureza, e os seus elementos.

Existe uma apropriação do espaço, mas essa apropriação não é regida nem manipulada por um sentimento imperialista da natureza, antes pelo contrário. O espaço é usado, e estudado, nos seus domínios mais ambientais e de sustentabilidade.

O espaço é do artista, mas também pertence à natureza que o envolve e que, antes mesmo do artista aparecer, já existia.

Há como que uma consciência ética ambiental em Carronha. O artista pretende dotar o terreno em Montemor-o-Novo, outrora seco, de vegetação, mas não deixando de respeitar o seu ciclo e a sua identidade natural, originária. Numa visão cívica consistente, e profunda, o artista compreende o que importa mais nos nossos dias: trabalhar em conjunto no sentido de encontrar uma resolução para o meio ambiente.

Composição para um espaço com base nas estrelas e planetas mantém-se na Galeria Municipal de Almada até 16 de outubro.

Carla Carbone nasceu em Lisboa, 1971. Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999, primeiro no Semanário O Independente, depois em edições como o Anuário de Design, revista arq.a, DIF, Parq. Algumas participações em edições como a FRAME, Diário Digital, Wrongwrong, e na coleção de designers portugueses, editada pelo jornal Público. Colaborou com ilustrações para o Fanzine Flanzine e revista Gerador. (fotografia: Eurico Lino Vale)

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