Cat did it!: Hugo Brazão no Commonage
Cat did it!, de Hugo Brazão, retoma o cruzamento social e cultural entre espécies, e as relações afetivas que se geram espantosa e insolitamente entre humanos e não-humanos.
Se em O’Mice an’ men, em 2019, na Galeria Diferença, era a ligação ambígua entre o homem e a naturalização do Rato na ilha da Madeira por via das viagens marítimas, em Cat did it! Brazão baseia-se no comportamento de Koko, um gorila fêmea que aprendeu a comunicar com os humanos através de sinais e de linguagem gestual. Koko revelou-se um ser mais complexo do que o conhecimento científico imaginava, não pelo caráter didático ou lúdico que a sua comunicação aparentava ter, mas pela capacidade decetiva que demonstrou possuir e que se julgava apenas existir nos humanos.
Como tem sido hábito no percurso do artista, há sempre um elemento bem-humorado que alinha com a saturação das cores usadas, e de uma expressividade pictórica que se espraia para lá da planaridade e se apropria da arquitetura do espaço expositivo para expandir a especulação formal, técnica e narrativa existente no seu corpo de trabalho. Podemos entender Cat did it! como um ensaio antropológico despreocupado, como um epifenómeno anedótico ou como um episódio afetuoso, não-antropocêntrico, entre duas espécies que, no percurso evolutivo, se revelaram o espelho uma da outra, do que há de humano no animal e do que há de animal no homem.
A exposição está patente no espaço Commonage, em Londres, até 11 de setembro.