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Abrupt: Dust Devices & Berru no Passos Manuel

Abrupt, uma performance audiovisual que resulta da colaboração entre o artista sonoro Cláudio Oliveira, o coletivo Berru e a editora Mera, foi apresentada no Passos Manuel no passado mês de maio, atingindo a lotação máxima do espaço nos dois momentos de apresentação.

O projeto reúne diferentes media, tendo início com uma apresentação sonora e desenvolvendo-se rapidamente numa performance de luz que nos permite ver figuras a movimentar-se no palco. Som, fumo, momentos de luz, momentos de escuridão, construção de uma ruína. O coletivo Berru movimenta-se pelo palco enquanto carrega tijolos cinzentos e os dispõe de forma a montar um cenário destroçado, quase como que um espaço abandonado, marcado pela crueza dos objetos escolhidos. Numa segunda fase, somos confrontados com aquilo que parece uma formação militar, os tijolos alinhados encaram o público, como que prontos para uma invasão. Por fim, unem-se numa edificação coesa, uma conclusão para a narrativa construtiva.

Não há distinção entre os elementos do coletivo: movimentam-se como figuras anónimas, vestidos de preto, corporizando a narrativa enquanto nos abstraem do facto de possuírem corpo. Há um elemento orgânico entre os materiais urbanos, seja a naturalidade com que trabalham, como se complementam, seja pelo som ou pela cenografia: a performance é hipnotizante pela sua fluidez.

Confesso que tenho desenvolvido uma crescente preocupação com a identidade cultural portuguesa desde que me apercebi que toda a cultura popularmente consumida é anglo-saxónica, seja música, cinema ou séries. Somos consumidores ávidos de uma identidade autodenominada «global». Mas a desconexão com o nosso centro identitário deixa-nos em crise enquanto grupo. Abrupt é o Porto. Cláudio Oliveira, Berru e Mera são o Porto e lembram-nos que a cena artística do Porto é um espaço de produção contemporânea, que não cede a tendências e evolui segundo a sua própria linha histórica. Um projeto que reúne diferentes artistas, diferentes media de construção e desconstrução, bem como diferentes conceitos do que significa ocupar um espaço na arte contemporânea.

Ficamos a aguardar a próxima data de exibição.

Doutoranda de Filosofia na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa de Braga, é mestre em Crítica Curadoria e Teorias da Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e licenciada em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Em 2018 lança o primeiro número da revista Dose da qual é cofundadora e editora, e em 2020 funda o espaço de estúdio para artistas o.estúdio no Bonfim, Porto. Trabalha atualmente como artista plástica, curadora freelancer e escritora, tendo já contribuído com artigos para diversas publicações.

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