Porto Design Biennale 2021
A Porto Design Biennale veio, de certo modo, preencher o vazio que existia e que se tinha estabelecido com o encerramento da antiga bienal de Lisboa, a Experimenta Design.
Ao recordarmos os dois certames, verificamos que, com os anos decorridos, e já são alguns, algumas diferenças se estabeleceram no design, e algumas necessidades surgiram desde que se realizaram as primeiras bienais em Portugal.
Progressivamente a preocupação social no design tem ganhado corpo. Tem-se vindo a evidenciar, cada vez mais, uma intervenção junto de comunidades, com vista à preservação cultural e ambiental locais.
A Porto Design Biennale 2021 congrega essa preocupação. É feita de debate, de um diálogo realizado totalmente em aberto, e não descura a presença de todos os intervenientes. Designers, artistas, artesãos, pensadores, cidadãos, todos participam na busca de caminhos para a resolução dos diversos problemas e mudanças, que se têm vindo a estabelecer na sociedade, e em que o design poderá intervir e ter um papel fundamental.
Este ano o curador-geral da Biennale é Alastair Fuad-Luke, e para quem está habituado a pensar sobre design, é uma figura incontornável nos domínios da disciplina. Um pensador que dispensa apresentações. A Bienal não poderia estar mais bem representada.
Fuad-Luke foi o criador do icónico Manual de Desenho Ecológico, publicado em 2002. É uma obra que, pela sua envergadura, fornece, aos designers, e fabricantes, uma diversidade de materiais e soluções verdes, com vista a proteger o meio ambiente, ou, pelo menos, minimizar os efeitos da pegada humana sobre o planeta.
Fuad-Luke, com a mesma intensidade com que reuniu materiais e soluções ecológicas na sua obra há vinte anos, pretende dar continuidade, nesta bienal, ao desenvolvimento de estratégias, como a adaptação à natureza, o respeito pelo seu ciclo, tendo em conta as partes vivas do nosso planeta. São tidos em conta, também, nos projetos desenvolvidos na bienal, a cultura local, o sistema sociopolítico, as condições económicas vigentes, os recursos naturais regionais.
Tal como Fuad-Luke referia, justamente, no seu catálogo de 2002, “O pluralismo ecológico é evolução e revolução”. Na atual bienal do Porto, com o mote “Alter-Realidades: Paisagens, Cuidado, Produção e Vivências”, o curador procura transmitir uma preocupação e um enfoque ecologicamente plural, no sentido em que não exista somente um caminho e uma solução, ou modelo, para o design, mas antes uma pluralidade de possibilidades.
É por esse motivo que a Bienal privilegia o debate dos cidadãos. Existe no site do evento um local online onde as pessoas podem expor as suas ideias. A bienal contempla também a criação de “comunidades de mudança”, onde todos podem ser ouvidos, e onde se perspetiva a criação de futuros que sejam benéficos para todos.
Com a quantidade de desafios que o cidadão se vê confrontado, hoje em dia, sobretudo em momentos de pandemia, Fuad-Luke, bem como Caroline Naphegyi e Sam Baron, estes últimos curadores do programa Autre, procuram desenvolver projetos e debates que venham ao encontro do dia a dia das pessoas. Caroline Naphegyi, por exemplo, em parceria com Sam Baron, procura desenvolver, uma ponte entre a realidade projetual francesa e a portuguesa. Por meio do debate, do fluxo de ideias, do diálogo e da abertura à diferentes realidades, pretende, ao estreitar as relações com as duas realidades criativas, que se encontrem novos caminhos para o design, com vista a uma sociedade mais humana, e inclusiva. Criação de emprego, recurso a materiais autóctones, preservação da cultura e do ecossistema local.
A bienal pretende, por isso, ser desenvolvida “com base no presente”, como refere Fuad-Luke, e que ajude, de modo concreto, e plural, a vida das pessoas.