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Through the Keyhole: Ângelo Silva e Paulo Damião

Through the Keyhole é um projeto informe e informal, que pretende dar a conhecer a forma como obras, documentos e registos plásticos diversos se expõem no lar de cada um. É menos uma exposição e mais uma mostra desinteressada, feita de idiossincrasias e afetividades que nos escapam e que propõem reflexões que não se quedam simplesmente pela linguagem da arte: as obras encontram o seu lugar num qualquer recanto do lar e da memória privada, entre livros, parafernália vária, souvenires, objetos heteróclitos e dissonantes para uns, regulares e harmoniosos para outros.

Through the Keyhole é uma suspensão da coerência objetiva; um elogio da ordem subjetiva. Um espreitar curioso pela ranhura da porta, que, com a sua publicação, se consubstancia num ato de generosidade simples e que deve ser respeitado e intuído como tal. É um atlas de afetividades, mais do que um atlas Mnemósine – porque os tempos se misturam: o pessoal com o histórico, o da memória coletiva com a dos seus atores e autores.

Pelo caminho, o outro lugar certo da arte, longe da instituição ou do colecionamento compulsivo e interessado – o lugar da arte perto dos fantasmas das emoções e dum continuum relacional íntimo, dum tempo e espaço feito de conivências, tertúlias, enfados, mágoas, frustrações e alegrias. O lugar da arte perto de cada um.

Ao longo do projeto, a Umbigo irá convidar artistas e colecionadores a mostrarem uma parte dos seus lares e das obras com as quais partilham, vigilantemente, os seus quotidianos. Cada imagem é o rosto de um pensar e de um olhar, mas também de um viver e de um existir – até que a pandemia o permita, até que a rua regresse e o espaço social público também.

Through the Keyhole não pretende ser muito, não pretende ser marco, apenas uma fenda na madeira da porta por sobre a qual se espreita e um breve rearranjar de apontamentos e objetos, uma ordem fugaz no sempre caótico e profuso espaço privado.

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“Gostamos de pensar a nossa construção de coleção como uma forma de colecionar a nossa própria imagem, o nosso espelho e surge como um desejo de contrariar a fugacidade da nossa vida através da perenidade da coleção, tal como dizia J. Baudrillard (1968).  

As obras de arte que vamos adquirindo são fruto de um processo de pesquisa e de descoberta, visando manter um certo sentido estético e de lógica ao longo dos anos, desde o início desta atividade.

A colecção de arte começou a ser construída em 2010, quando conheci o artista plástico Paulo Damião. O Paulo já tinha um pequeno núcleo de obras e foi a partir deste núcleo que decidimos que faria sentido irmos adquirindo mais obras. Na altura as aquisições foram surgindo ainda sem a ideia de construção de uma coleção. Ao longo dos anos o pensamento colecionista foi-se construindo e ganhando um sentido mais coerente.

Os critérios que utilizamos para a incorporação de obras de arte na colecção tendem a ser sobretudo de ordem emocional, isto é, as obras necessitam de transmitir emoções e comunicar conosco. É também importante, para nós, criar diálogos dentro da coleção. Não procuramos obras de arte para preencher lacunas ou eventualmente preencher um “catálogo de cromos”. A nossa colecção é muito pessoal e singular. Reflete as nossas vivências, a nossa biografia.

Preferimos fazer as aquisições diretamente aos artistas ou às galerias quando os artistas têm representação galerística. Todas as aquisições da nossa coleção de arte contemporânea foram feitas em mercado primário e isto é muito importante para ajudar o sistema de arte português. Gostamos de manter uma relação de confiança com os artistas representados na coleção, bem como com os galeristas. Procuramos conhecer o artista e o pensamento por detrás da obra. Quando a relação colecionador-artista ou colecionador-galerista não se constrói, em regra, atenua-se o interesse em frequentar estes circuitos e procuramos outros. Não nos sentimos obrigados a frequentar determinados meios, quando não há esta abertura por parte da galeria ou do artista.

A coleção é constituída por cerca de cem obras, a maioria são trabalhos sobre papel e pinturas. Para além destas tipologias, temos algumas fotografias, peças de cerâmica e uma peça escultórica de Rui Chafes.

Gostamos de divulgar e partilhar as nossas opções aquisitivas de forma pública (por exemplo, nas redes sociais). Entendemos que esta divulgação estimula a que outras pessoas possam ver e ganhar interesse pela arte contemporânea. Pensamos que a construção de uma coleção poderá ter um papel educacional, de aprendizagem, de transmissão de conhecimento. Afinal, na nossa opinião, a arte contemporânea não deve ser só para a fruição de uma pequena elite.

Em suma, consideramos que a divulgação das obras para fruição de outros públicos é uma responsabilidade social dos colecionadores.”

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Ângelo Silva, médico especialista de Medicina Nuclear no Centro Clínico da Fundação Champalimaud. Frequenta em regime pós-laboral a Pós-graduação em Mercado de Arte e Colecionismo da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade Nova de Lisboa.

Paulo Damião, artista plástico, licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

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