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A Longa Sombra — Saco Azul Associação Cultural

A Saco Azul Associação Cultural inaugurou A Longa Sombra, uma exposição coletiva com a curadoria de Horácio Frutuoso, que contou com a participação do próprio, de Dayana Lucas, Eduardo Fonseca e Silva & Francisca Valador, Fernão Cruz, Henrique Pavão, Lea Managil, Luís Lázaro Matos e Sara Mealha.

Horácio refere o livro de Diogo Seixas Lopes, Melancolia e Arquitetura em Aldo Rossi, enquanto a orientação inicial do pensamento da exposição. As variações no entendimento do conceito de melancolia motivaram a seleção dos artistas: “(…) o elogio à melancolia como um dispositivo de perceção aguda do mundo, os seus mistérios e a perplexidade da vida, deixaram-me bastante sensibilizado para que pudesse ser o elemento agregador de uma exposição”– escreve o curador no texto da exposição. A relação entre a melancolia e a atualidade pandémica está presente na reflexão do artista/curador, sendo a imposição da realidade ao processo criativo um elemento que trabalhou também na sua exposição individual sage comme une image, na Balcony – Contemporary Art Gallery, apresentada em outubro do ano passado.

Uma das obras apresentadas por Fernão Cruz tem uma etiqueta da Toys “R” Us, um autocolante amarelo com o poder de representar a identidade comunitária da infância desta geração. A escritora Matilde Campilho descreve a imagética das suas memórias, que terão tanto de construção criativa quanto de descrição de um momento real, como que objetos de coleção – a coleção da memória tem-se tornado uma necessidade cada vez mais procurada e, consequentemente, materializada. O poder da memória, o poder da imagem e o poder da partilha manifestam-se na memória coletiva e, talvez, numa situação mundial que anseia hábitos de um “antigamente” recente, na melancolia coletiva. Parece-me que este estado de espírito não se reflete, no entanto, de uma forma depressiva tanto quanto de uma forma quase que de resistência doméstica. O trabalho desenvolvido em esperança ou negação ou prática terapêutica reúne-se em exposições pós-confinamento que, com ansiedade de partilha, apresentam trabalhos com a força da serenidade. O artista que parou e criou, que foi artista e curador e curador e artista.

“São obras que de alguma forma levam para um diálogo connosco, são pontos de conexão ou de proposta com o nosso interior”– diz Horácio sobre os trabalhos expostos. A Longa Sombra, uma exposição multidisciplinar com alguns dos artistas que melhor representam a criação artística na atualidade em Portugal, estará no Maus Hábitos até 30 de maio.

Doutoranda de Filosofia na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa de Braga, é mestre em Crítica Curadoria e Teorias da Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e licenciada em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Em 2018 lança o primeiro número da revista Dose da qual é cofundadora e editora, e em 2020 funda o espaço de estúdio para artistas o.estúdio no Bonfim, Porto. Trabalha atualmente como artista plástica, curadora freelancer e escritora, tendo já contribuído com artigos para diversas publicações.

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