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Art in the Plague Year – California Museum of Photography

O California Museum of Photography apresenta Art in the Plague Year, uma exposição online que reúne 55 artistas de variadas nacionalidades. A exposição, elaborada a partir de uma open-call lançada a artistas de todo mundo, pretende focar o contexto pandémico através da lente atenta e sensível inerente à produção artística.

Poucas dúvidas restarão de que a pandemia que experienciamos, ainda sem fim à vista, deixará profundas marcas no futuro próximo. Daí, a vontade analítica deste projeto que pretende ainda assim encontrar coragem para os tempos que se adivinham conturbados.

Art in the Plague Year conta também com importantes contributos portugueses. Rita Sobreiro Souther a par de Douglas McCulloh e Nikolay Maslov assumem a curadoria e  a criação do projeto. Já a dupla Sara & André, João Ferro Martins e Inês Oliveira e Silva integram o conjunto de mais de meia centena de artistas que especulam o futuro usando diferentes ferramentas multimédia. De facto, essa é a questão fundamental aqui colocada: que futuro?

Sendo certo que o mundo se transforma a todo o instante, não é menos verdade que determinados momentos assinalam mudanças com efeitos imediatos e evidentes. A pandemia de covid-19 será um deles – afinal, já ninguém imagina o dia a dia sem exposições, ensino, reuniões ou encontros online.

Face a tão vasta e complexa questão, os curadores definiram subtemas capazes de incidir sobre áreas de ação mais particulares. Ligados à experiência física humana (corpo, encontros, natureza) ou a dimensões mais abstratas (ausência, presença, ritual, distopia, justiça).

A pertinência da exposição assume-se no olhar fragmentado sobre um ano com consequências definitivas, que não se resumem “apenas” à crise sanitária desencadeada por um vírus. 2020 pôs a nu a falência de um modelo económico-político-social generalizado. A pandemia pode (deve) ser entendida como uma pedra que obrigou um motor voraz a desacelerar, descobrindo questões já antes presentes: o estado das relações humanas num mundo galopantemente automatizado; a precariedade laboral de larga parte da população mundial; a sobrecarga horária e o dever permanente de estar online; ou o reavivar da luta pela justiça social enfatizada por movimentos com o Black Lives Matter ou mais recentemente #stopasianhate. As múltiplas abordagens ao mote da exposição abrangem, por isso, desde situações pessoais registadas num formato diarístico até propostas para alternativas sociais.

Jill Miller no vídeo My mother’s titanium hip visa o insólito e impressionante processo de luto pelo falecimento da sua mãe intermediado por encontros virtuais. Enquanto Julia Schlosser reflete uma prática que se tornou comum, passear em círculos na área circundante à zona de habitação. J. Schlosser documentou com o seu telemóvel singelos motivos com os quais se deparou ao longo dos seus percursos, remetendo as imagens para a experiência de sensações inerentes ao contexto como o tédio ou a ansiedade. Já Sara & André experimentam-se a um novo desafio. Habituados a uma prática de trabalho colaborativa que exige a presença de outros, desta vez assumem a natureza como convidada. O resultado é uma página de uma revista encontrada e que deixaram no exterior, sujeita às condições climatéricas que operaram como agente criador. Nela um homem abandona um cenário devastado onde pouco resta à exceção de uma nuvem de fumo maciça. Stephanie Syjuco, Jason Lazarus, and Siebren Versteeg organizam um protesto virtual com base na pergunta por eles lançada “e se aqueles que não conseguem protestar nas ruas se pudessem juntar aqueles que conseguem?”. Daí resultou um vídeo-colagem com um protesto interminável a favor do movimento Black Lives Matter, que compila as contribuições de todos os participantes.

O extenso conjunto de trabalhos pode ser visto aqui.

Francisco Correia (n. 1996) vive e trabalha em Lisboa. Estudou Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e concluiu a Pós-graduação em Curadoria de Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Tem escrito para e sobre exposições. Simultaneamente desenvolve o seu projeto artístico.

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