Resposta Aberta: Riccardo Maria Chiacchio
Resposta Aberta é uma série especial de entrevistas com artistas, curadores, escritores, compositores, mediadores e “fazedores de espaços” internacionais. Atendendo aos temas que rapidamente emergiram como consequência da pandemia de Covid-19, oferecemos, aqui, uma perspetiva diferenciada e honesta de compreensão. Semanalmente, várias serão as portas abertas à vida dos colaboradores e às suas experiências de prazer, produtividade, metafísica e mudanças de paradigmas. Idealmente estas conversas poderão servir de caixas postais e conduzir a uma maior empatia, unidade e cocriação. Resposta Aberta vai ao encontro da necessidade de tecer a autonomia de uma rede de comunicações consciente, em tempos de extrema perplexidade.
Nascido e criado em Nápoles, Riccardo Maria Chiacchio é um estilista que reside entre Londres e Milão. A sua utilização de detalhes subliminares e estruturas imaginárias comunicam sentimentos que caracterizam a sua obra. Já trabalhou com nomes notáveis como Jordan Hemingway, Laura Marie Cieplik, Laurence Ellis, Georgia Hudson, François Pragnere, Elliot Morgan, Clark Franklyn e Luca Anzalone.
Josseline Black – Numa reflexão sobre este recente período de isolamento forçado, como está a articular a sua resposta num discurso público? Qual é o seu papel nesta conversa mais abrangente?
Riccardo Maria Chiacchio – Tem sido difícil estar presente neste discurso, pois sinto que todos vivemos um grande trauma, mas fazemo-lo também de formas muito diferentes. Isto não é algo pessoal, onde me apetece partilhar, “queixar-me” ou dar um qualquer conselho. Seria redutor e ofensivo. Neste momento, aquilo que considero importante pode ser frívolo para outra pessoa e vice-versa. Tentei e continuo a tentar manter-me bastante neutro e sempre positivo quando se trata deste assunto em público.
JB – A sua prática artística tem mudado com o isolamento?
RMC – Sim e não. Sou um grande observador e o isolamento “forçou-me” a ver coisas que não tinha notado antes. Eu diria que a minha prática permaneceu a mesma, passei apenas a concentrar-me em coisas e em perspetivas diferentes daquelas em que trabalhava antes do isolamento.
JB – Como é que a sua capacidade prática de produzir trabalho foi afetada pela pandemia?
RMC – Admito que essa tem sido a parte mais difícil de lidar. Por norma, sou muito produtivo e também bastante imediatista na concretização das minhas ideias. Não poder viajar e trabalhar com inúmeras pessoas num set tem atrasado muito o meu processo e provocado algum stress. Uso o meu trabalho como uma das minhas principais formas de comunicação e, muitas vezes, sinto que alguém me está a tapar a boca com a mão. É bastante frustrante.
JB – Qual é a sua abordagem à colaboração neste momento?
RMC – De momento, estou muito concentrado em mim mesmo e no crescimento do meu trabalho. A pandemia fez-me perceber muitas coisas sobre a minha atividade, por isso estou a trabalhar principalmente por mim mesmo. Contudo, estou sempre pronto para colaborações, se isso não atrapalhar o meu crescimento criativo pessoal.
JB – Como definiria o momento presente, metafisicamente/literalmente/simbolicamente?
RMC – De certa forma, sinto-me como se estivéssemos todos numa espécie de “prisão”. Ou seja, forçados a estar num espaço e forçados a trabalhar em coisas que não fazíamos antes. Mas ainda não me decidi realmente sobre o presente. Terei uma visão mais clara dele quando for considerado passado.
JB – Como é que este período está a influenciar a sua perceção da alteridade em geral?
RMC – Neste momento, ainda estou a trabalhar muito sobre esse assunto.
JB – Qual é a sua posição sobre a relação entre catástrofe e solidariedade?
RMC – Catástrofe e solidariedade são duas coisas que andam de mãos dadas. E, falando em mãos, tenho a catástrofe numa e a solidariedade na outra. Seja como for, devemos todos tentar focar-nos na solidariedade.
JB – Qual é agora a sua utopia?
RMC – Vou responder a esta pergunta falando apenas de mim. Quero dizer que “a minha utopia” e a “utopia” são duas coisas muito diferentes. A minha utopia agora é sentir, compreender e perceber o máximo que posso, para depois usar todos estes sentimentos e conclusões para viver uma vida melhor.