Through the Keyhole: Ana Pérez-Quiroga
Through the Keyhole é um projeto informe e informal, que pretende dar a conhecer a forma como obras, documentos e registos plásticos diversos se expõem no lar de cada um. É menos uma exposição e mais uma mostra desinteressada, feita de idiossincrasias e afetividades que nos escapam e que propõem reflexões que não se quedam simplesmente pela linguagem da arte: as obras encontram o seu lugar num qualquer recanto do lar e da memória privada, entre livros, parafernália vária, souvenires, objetos heteróclitos e dissonantes para uns, regulares e harmoniosos para outros.
Through the Keyhole é uma suspensão da coerência objetiva; um elogio da ordem subjetiva. Um espreitar curioso pela ranhura da porta, que, com a sua publicação, se consubstancia num ato de generosidade simples e que deve ser respeitado e intuído como tal. É um atlas de afetividades, mais do que um atlas Mnemósine – porque os tempos se misturam: o pessoal com o histórico, o da memória coletiva com a dos seus atores e autores.
Pelo caminho, o outro lugar certo da arte, longe da instituição ou do colecionamento compulsivo e interessado – o lugar da arte perto dos fantasmas das emoções e dum continuum relacional íntimo, dum tempo e espaço feito de conivências, tertúlias, enfados, mágoas, frustrações e alegrias. O lugar da arte perto de cada um.
Ao longo do projeto, a Umbigo irá convidar artistas a mostrarem uma parte dos seus lares e das obras com as quais partilham, vigilantemente, os seus quotidianos. Cada imagem é o rosto de um pensar e de um olhar, mas também de um viver e de um existir – até que a pandemia o permita, até que a rua regresse e o espaço social público também.
Through the Keyhole não pretende ser muito, não pretende ser marco, apenas uma fenda na madeira da porta por sobre a qual se espreita e um breve rearranjar de apontamentos e objetos, uma ordem fugaz no sempre caótico e profuso espaço privado.
_
Ana Pérez-Quiroga é uma artista cuja obra tem incidido sobre o binómio público/privado, as questões da identidade, da memória e do arquivo. São disso exemplo as séries Breviário do Quotidiano, Auto-retrato da Artista enquanto Parte da Sociedade ou ¿De que casa eres?. O Instagram da artista é, aliás, uma obra em curso, onde individual e social se fundem e confundem, onde acumulação e imagem são indissociáveis.