Through the Keyhole – Ana Vidigal
Through the Keyhole é um projeto informe e informal, que pretende dar a conhecer a forma como obras, documentos e registos plásticos diversos se expõem no lar de cada um. É menos uma exposição e mais uma mostra desinteressada, feita de idiossincrasias e afetividades que nos escapam e que propõem reflexões que não se quedam simplesmente pela linguagem da arte: as obras encontram o seu lugar num qualquer recanto do lar e da memória privada, entre livros, parafernália vária, souvenires, objetos heteróclitos e dissonantes para uns, regulares e harmoniosos para outros.
Through the Keyhole é uma suspensão da coerência objetiva; um elogio da ordem subjetiva. Um espreitar curioso pela ranhura da porta, que, com a sua publicação, se consubstancia num ato de generosidade simples e que deve ser respeitado e intuído como tal. É um atlas de afetividades, mais do que um atlas Mnemósine – porque os tempos se misturam: o pessoal com o histórico, o da memória coletiva com a dos seus atores e autores.
Pelo caminho, o outro lugar certo da arte, longe da instituição ou do colecionamento compulsivo e interessado – o lugar da arte perto dos fantasmas das emoções e dum continuum relacional íntimo, dum tempo e espaço feito de conivências, tertúlias, enfados, mágoas, frustrações e alegrias. O lugar da arte perto de cada um.
Ao longo do projeto, a Umbigo irá convidar artistas a mostrarem uma parte dos seus lares e das obras com as quais partilham, vigilantemente, os seus quotidianos. Cada imagem é o rosto de um pensar e de um olhar, mas também de um viver e de um existir – até que a pandemia o permita, até que a rua regresse e o espaço social público também.
Through the Keyhole não pretende ser muito, não pretende ser marco, apenas uma fenda na madeira da porta por sobre a qual se espreita e um breve rearranjar de apontamentos e objetos, uma ordem fugaz no sempre caótico e profuso espaço privado.
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A artista que serve de ponto de partida para esta secção não poderia deixar de ser Ana Vidigal, que ao longo dos seus 40 anos de carreira foi colecionando obras de colegas seus, uns mais jovens, outros seus contemporâneos. Esta rubrica é, na verdade, reflexo da sua generosidade e das partilhas que vai fazendo nas redes sociais do Instagram.
Para esta ocasião, relembra-se também o dossier especial Jovens Artistas da Umbigo #69, onde fala da amizade que foi desenvolvendo com artistas em início de carreira, das trocas de obras que fez com eles e das muitas cumplicidades de que se faz a sua vida e obra.