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Dar corpo ao vazio, de Cristina Ataíde

[Nota editorial: O lançamento do catálogo Dar corpo ao vazio, de Cristina Ataíde, é lançado hoje, dia 19 de maio, pelas 18 horas, no Museu Coleção Berardo. A artista, bem como o curador da exposição, Sérgio Fazenda Rodrigues, estarão presentes para a apresentação do catálogo. O curador João Silvério também lá estará para falar sobre a obra e o percurso da artista. Os interessados que não podem estar presentes podem descarregar a publicação aqui.]

O vermelho pulsa. Essa foi a primeira sensação ao entrar na exposição Dar corpo ao vazio de Cristina Ataíde no Museu Coleção Berardo. E o vermelho pulsa de um lugar ancestral – da terra, do metal, das montanhas, das árvores. O pulsar é encorajado pelo espaço oco que a artista cria, tanto nas instalações dos desenhos, como nas esculturas e nas intervenções site-specific. A exposição abarca trabalhos de diferentes períodos da artista e demonstra a sua contínua exploração da articulação entre o espirito e a matéria.

Na primeira sala um desenho circular em grande dimensão ocupa o centro da sala permitindo o acesso ao seu interior. Desenhos de montanhas à grafite e em lápis vermelho preenchem o papel criando uma paisagem em 360°. As paredes em volta são ocupadas por esculturas em bronze e madeira pintada. As obras em bronze sugerem rochas vácuas, já os objetos em madeira pintados em vermelho e negro são abstratos mas insinuam uma dicotomia entre interior e exterior, como também um lugar de passagem. Na obra Surge de 1994 observamos um sulco no centro do objeto criando uma espécie de corredor. O curador Sérgio Fazenda Rodrigues escreve: “A celebração de um lado espesso convive com uma existência oca, subterrânea, que se expressa pela referencia ao sulco, leito, buraco e lagoa, que acolhe a presença da água.”

Na segunda sala encontramos um conjunto de obras inspiradas na expressão física da árvore, o seu tronco, os seus nós e veios, mas também na expressão “de uma energia vital” que se estabelece na conexão entre a terra e o céu pela condução da seiva das raízes à copa. Somos levados a perceber o vazio entre as superfícies interiores e exteriores. Mais uma vez o vácuo está presente, insinuando uma qualidade imaterial que se move nas matérias orgânicas. O vídeo apresentado na terceira sala explora essa qualidade transitória dos elementos – sempre em fluxo. Imagens do Rio Negro são sobrepostas por manchas de cor, criando uma perceção fluida das reflexões nas águas do rio em contante mudança. Na quarta sala encontramos uma instalação de um barco de madeira com o seu interior pintado de vermelho. A obra alude a viagem, tanto no sentido material de deslocação espacial como também no movimento interior do espírito e aos diversos estados de existência.

A última sala da exposição apresenta um corpo de trabalho díspar do restante, principalmente pela mudança da matéria utilizada. Trabalhos fotográficos em grande dimensão retratam reflexos de luz na superfície da água em movimento. Em cada uma das fotografias instaladas na parede lemos uma frase, seis ao todo: 1.dust of my heart, 2.my heart is dust, 3.dust of my blood, 4.my blood in dust, 4.dust of my body, 5.my body in dust. No chão da galeria continuamos a ler frases em vermelho se referindo ao pó (dust). A poética criada pelo jogo de palavras insere o corpo da artista em relação ao conjunto de obras escultóricas referentes à matéria orgânica. Em um gesto de fechamento de ciclo, as palavras ressoam o significado do título da exposição: “Dar corpo ao vazio”.

A exposição de Cristina Ataíde está patente até o dia 15 de agosto de 2021 no Museu Coleção Berardo.

 

A autora escreve em português do Brasil.

Maíra Botelho (1991, Brasil) tem uma formação multidisciplinar dentro dos campos da comunicação visual, artes plásticas, filosofia e performance. Atuou profissionalmente como designer gráfica no Brasil após se licenciar na PUC-MG, tendo ainda estudado Artes Plásticas na Escola Guignard - UEMG e na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Recentemente concluiu uma Pós-Graduação em Estética - Filosofia na Nova Universidade de Lisboa.

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