RED LIGHT: Sexualidade e Representação na Coleção Norlinda e José Lima
RED LIGHT, com a curadoria de Sandra Vieira Jürgens, patente no Centro de Arte Oliva até 14 de março de 2021, apresenta uma nova perspetiva sobre a Coleção Norlinda e José Lima, destacando a representação da sexualidade e do corpo, através das mais variadas práticas artísticas. Ao longo da exposição, para além das inúmeras questões que nos suscita, a mais premente está relacionada com o contexto pandémico que vivemos: Como o COVID-19 e o facto de estarmos condicionados pelo distanciamento físico vai alterar o modo como encaramos a sexualidade?
Sandra Vieira Jürgens, na folha de sala, confronta-nos justamente com esta premissa: “Falar de sexualidade e da relação entre corpos durante uma pandemia que obriga ao retraimento e mesmo à abstenção de contacto físico é também refletir sobre as consequências do distanciamento enquanto ele se exerce.” De acordo, a curadora que deu o nome à exposição de RED LIGHT, sobretudo para destacar a linha vermelha entre o contacto do corpo atual e a questão da sexualidade ainda ser um tabu na arte e na História da Arte, constrói o projeto expositivo como uma narrativa, que começou a deslindar com Dancers (1995), de Nancy Spero, uma obra que, para além de demonstrar figuras femininas da mitologia, representadas em movimento, apela à emancipação da mulher e à presença da sexualidade em toda a História da Arte, através de uma perspetiva feminista.
Na primeira ala da exposição são evocadas atmosferas, paisagens nostálgicas e estados de espírito, próprios das contradições do amor, através de obras de João Penalva, Tiago Baptista, ou Nan Goldin. Noutro momento, RED LIGHT também nos demonstra uma perspetiva mais histórica sobre a sexualidade, com pinturas de artistas surrealistas, que nos demonstram que há várias formas de representar plasticamente o amor. Sendo que ainda somos confrontados com a pintura de Gonçalo Pena, Thyssen Atmosférica (2009), um artista contemporâneo que revisita um tema antigo, colocando uma mulher nua no meio de uma paisagem industrial grotesca, lado a lado com a aguarela de Helena Abreu, onde dois corpos femininos se envolvem no meio de uma paisagem bucólica.
No centro da exposição foram expostas representações mais contemporâneas, especialmente de artistas que convocam outras práticas artísticas, como o cinema e a literatura, na concretização do seu trabalho plástico. Veja-se a série de pinturas de João Gabriel, que referencia o cinema pornográfico masculino, ou Noites Brancas, de Julião Sarmento, a partir do romance homónimo de Dostoiévski. Seguindo a lógica narrativa, na última secção da exposição são apresentadas maioritariamente fotografias, das quais destacamos aquelas que representam um ponto de vista feminino, como de Cindy Sherman, Vanessa Beecroft ou Júlia Ventura. Três mulheres que demonstram a multiplicidade da identidade da mulher, que durante muitos séculos fora apresentada quase exclusivamente por homens. Finalizamos realçando Mujeres Autónomas Feministas Atrevidas Libres Divertidas Alegres Solidarias (2012), de Rigo, uma tapeçaria esclarecedora da luta feminista, relembrando-nos que, sobre o tema da sexualidade, devemos ter em conta todas as perspetivas e formas de expressão artística.
Em última análise, evocamos o prefácio de Natália Correia, O Cativeiro de Afrodite, da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1965-66), para demonstrar que a sexualidade é algo intrínseco ao ser humano, que a arte sempre foi preponderante em realçar as vários reflexões adjacentes à qualidade do que é sexual, e que este tema deve ser constante, independentemente do contexto em que vivemos, pois é algo que nos define: “Próprio é da natureza humana aspirar ou saborear o êxtase que coroa a exaltação amorosa (…). Este amor divinizante, no qual a natureza mortal procura eternizar-se, é de todos os tempos e sobrepõe-se às superestruturas históricas e religiosas que desfiguram o ser do amor, cuja imanência se manifesta pela unidade superior da carne e do espírito.”