Ajarb Bernard Ategwa – na Peres Projects
A exposição Studio Ekwe’s, do artista camaronês Ajarb Bernard Ategwa, está patente na Peres Projects, em Berlim, até ao dia 20 de novembro de 2020. A segunda exposição a solo do artista na galeria consiste em uma série de pinturas de retratos em grande escala e refletem a identidade africana pós-colonial em contraste com uma visão etnográfica ocidental.
As pinturas de Ategwa retratam personagens posando para serem fotografados. A inspiração inicial vem dos estúdios fotográficos que se tornaram populares após a independência dos países africanos – o título Studio Ekwe’s é homônimo ao estúdio do lado da casa onde o artista cresceu, nos Camarões. Entretanto, o artista coloca em jogo outra temporalidade do uso da câmara, a cultura contemporânea das selfies nas redes sociais. Os títulos dos trabalhos expõem diretamente essa referência, como em: Chilling with friends, My Instagram album, Fashion followers. O texto de sala expõe que, nos dois casos, a câmara que o artista imagina é um instrumento de afirmação de status, ascendência e abundância. As pinturas de Ategwa demonstram o poder emancipatório do ato de posar para uma câmara: o controle da sua imagem e de se tornar o autor da própria narrativa.
A técnica utilizada nas sete obras expostas lembra pinturas digitais, não há profundidade do campo de visão e o sujeito retratado é priorizado. Linhas espessas criam as formas do corpo, dos cabelos e das roupas. Todos os retratos estão dentro de molduras coloridas assimétricas – novamente como referência às fotografias. Uma técnica inusitada e distinta é utilizada para a pele dos sujeitos retratados. Similar à aquarela, diversas cores se mesclam e lembram imagens cósmicas. O astrônomo Carl Sagan define o termo “cosmos” como sendo “tudo o que já foi, tudo o que é e tudo o que será.” O gesto de obscurecer uma informação que é esperada pelo observador cria a mesma potência criadora do cosmos que Sagan expõe. A cor da pele cósmica na imagem dos camaroneses construída por Ategwa reafirma a pulsão de independência da identidade africana em relação ao olhar ocidental.
A autora escreve em português do Brasil.