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Spectrum, no CAV – Centro de Artes Visuais

Spectrum, com curadoria de Ana Anacleto, está em exposição no CAV – Centro de Artes Visuais, em Coimbra, até 13 de setembro e apresenta uma seleção de trabalhos do espólio de mais de 2000 obras procedentes dos Encontros de Fotografia, iniciativa do CAV que comemora 40 anos em 2020. Com contribuições de mais de 30 artistas nacionais e internacionais, Spectrum reflete sobre um dos temas mais recorrentes na prática fotográfica e visual: a questão do Espectro.

Julian Barnes, no seu livro de ensaios de arte Keeping an Eye Open afirma que “Em todas as expressões artísticas se constatam duas coisas ao mesmo tempo: o desejo de fazer algo novo e uma conversa ininterrupta com o passado”. É, de resto, o que se verifica em Spectrum enquanto um todo artístico.

As mais de 56 obras que constituem a exposição (55 fotografias e um desenho) apresentam alguns trabalhos mais académicos e formais, no sentido em que se expõem retratos, paisagens e registos de natureza mortal – motivos mais longevos e recorrentes na prática fotográfica – estando também expostas fotografias que apontam para um lugar de futuro e novidade. Trata-se, portanto, de uma coleção heterogénea, que revisita e celebra o passado – até pela sua componente de celebração das 40 décadas dos Encontros de Fotografia – mas que também pisca o olho ao futuro. Um exercício de ímpar competência que resulta de um cuidadoso e sensível ato de cerzir da experiente curadora Ana Anacleto.

Spectrum é composta por quatro subnúcleos, sendo o último dedicado ao encontro de luz-sombra, à dicotomia de vida-morte e às leituras cruzadas destes dois binómios. A representação – ou presença – de objetos cortantes de espaços mortuários como a morgue criam uma atmosfera sorumbática que confere, simultaneamente, um efeito de clausura à exposição. Uma espécie de estágio final da mesma. Curiosamente, esse último momento converge naquela que é a única peça não fotográfica da exposição: um díptico da autoria de Paulo Brighenti. Spectrum parece então substantificar aquela que é uma das fundamentais propostas do CAV: não vislumbrar a fotografia, sempre, como um fim em si mesmo, mas tantas outras vezes como um passo intermédio de uma prática artística mais holística.

Com trabalhos excecionais de Nuno Cera, Wim Wenders, Edgar Martins e José Luís Neto e André Mérian, destaca-se ainda a madura e original contribuição de Debbie Fleming Caffery, bem como para o soturno, intrigante e misterioso trabalho de Edgar Martins.

Como parte integrante do ciclo de exposições Museu das Obsessões, que conta com oito exposições durante o ano de 2020, subordinadas ao tema do Espectro, e outras oito em 2021 subordinadas ao tema da Vertigem, Spectrum é uma exposição que apresenta um invulgar acervo fotográfico e que funciona como um ótimo exercício arqueológico dos 40 anos de história dos Encontros de Fotografia em Coimbra.

Diogo Graça (1997) vive e trabalha entre Lisboa e Barcelona. Estudou Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa e estuda Cinema na Universitat Pompeu Fabra. Com um percurso que passa por locais tão díspares quanto a Revista Umbigo, a Galeria Madragoa, a SportTV e a TVI, encontra na escrita e no audiovisual o seu quinto andar, seja sob a forma de guiões para televisão, artigos sobre arte ou short stories.

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