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Brussels Gallery Weekend – Em Conversa com Sybille du Roy

Realiza-se de 3 a 6 de setembro de 2020 a 13ª edição do Brussels Gallery Weekend. O projeto atualmente liderado por Sybille du Roy tem crescido ao longo dos anos e é considerado o segundo evento artístico mais importante da cidade, logo após a conceituada feira Art Brussels. A importância da capital belga na cena artística tem-se cimentado discretamente nas últimas duas décadas, e a sua centralidade geográfica tem atraído cada vez mais público, tanto local como internacional. No entanto, num ano irremediavelmente marcado pela pandemia e pela onda de cancelamentos consequentes (nomeadamente da Art Brussels), a realização do Brussels Gallery Weekend adquire uma importância extrema para os artistas, galerias, instituições e espaços alternativos, que se viram privados de público e de vendas. O programa conta com mais de 50 espaços dedicados à arte contemporânea, reforçando o espírito agregador que, segundo Sybille du Roy, define a cena artística de Bruxelas.

Francisco Correia – Referiu várias vezes em ocasiões anteriores a estreita ligação entre o Brussels Gallery Weekend e a Art Brussels. De que forma é que ambos os projetos se apoiam e interagem?

Sybile du Roy – Julgo que há uma grande diferença entre ambas. Enquanto o BGW é um evento local, a AB é sobretudo uma feira internacional. Trabalhamos com as mesmas galerias (as de Bruxelas) e acontecem em momentos diferentes. Como tal, é interessante o apoio mútuo. Contudo, diria que a AB nos apoia mais do que o contrário, pois são maiores. Costumam organizar shuttles para trazer pessoas, oferecem-nos apoio na comunicação e também proporcionam apoio financeiro. Apesar de este ano as coisas terem sido diferentes, já que tiveram também de enfrentar enormes dificuldades, permanecem ao nosso lado. É uma boa relação.

FC – Como diferenciaria o objetivo de ambos?

SdR – O BGW começou há 13 anos com o objetivo de levar os colecionadores novamente às galerias. Nessa altura, eu não era diretora, mas participei também no debate enquanto diretora de uma das galerias participantes. Com o tempo, o BGW cresceu. Temos agora visitantes de todo o mundo; no ano passado, tivemos visitantes chineses e americanos. Obviamente, este ano é mais complicado, mas no final o objetivo é destacar a cena artística de Bruxelas, a força da cidade, as suas galerias e mesmo as suas instituições, uma vez que também temos o “off-program”, com espaços sem fins lucrativos e geridos por artistas, além da nossa própria exposição com jovens artistas. O BGW é um zoom sobre o que está a acontecer agora em Bruxelas.

Além disso, fundámos a Art Across Across Europe, um grande projeto que agrega Gallery Weekends de diferentes países. Nós – normalmente! – ajudamos as pessoas a viajar; organizamos encontros “Zoom” com agentes culturais de diferentes cidades; etc. É um projeto que começou em Bruxelas. É muito interessante, pois são pessoas de diferentes cidades que trabalham em conjunto para destacar as cenas artísticas locais.

FC – 2020 constará nos livros de história como o ano cancelado pela pandemia de covid19. Durante a primeira metade do ano, a maioria dos eventos foram cancelados, e os museus e as galerias fecharam portas. Qual tem sido o feedback das galerias e instituições que participarão neste primeiro grande evento artístico em Bruxelas após o período de quarentena?

SdR – No fundo, não será o primeiro evento. Em junho, organizámos um “mini Gallery Weekend”. Tornámo-lo gratuito para todas as galerias de Bruxelas, organizámos uma abertura em comum e tivemos algum público. Agora, claro, acontecerá numa escala maior.

Cada dia tem sido um novo desafio. As pessoas confirmam a sua vinda e no dia seguinte cancelam pois deixam de estar autorizadas a viajar. Continuaremos a ter pessoas vindas do estrangeiro, o que confesso que me surpreende. Seja como for, as galerias e as instituições estão muito felizes pelo facto de o BGW acontecer, mas querem ter a certeza de que tudo será feito com segurança e razoabilidade. Este ano não haverá grandes festas e champagne, o foco está estritamente no conteúdo e na organização. Haverá também pequenos encontros. Mas as visitas serão acompanhadas, para que possamos garantir o respeito das regras de segurança. A capacidade de cada galeria, que foi calculada com base nos metros quadrados, será respeitada. Logisticamente, é um pesadelo, mas as pessoas estão dispostas a vir e isso é o mais importante. Sem esta atividade, algumas galerias já nos disseram que teriam de fechar. Contamos com o apoio do público e dos colecionadores. Temos grupos de museus belgas e de alguns outros países vizinhos a apoiar-nos mais do que nunca. Diria que este ano temos uma boa vibe. Estão todos concentrados no essencial.

FC – Ao contrário de outros eventos artísticos recentes, o BGW acontecerá inteiramente offline. Certo?

SdR – Esperemos que sim! Mas, mais uma vez, ainda não estamos lá. Lançámos um novo website onde as pessoas podem ter acesso às instalações, às galerias, às obras de arte e aos seus pormenores. Diria que é a nossa versão minúscula da Artsy [risos]. É uma ferramenta flexível que poderemos reutilizar. Teremos também alguns eventos online, incluindo uma conversa sobre a importância do local; ou alguns workshops que este ano não serão possíveis ao vivo. Mas o comité defendeu sempre que o BGW deve acontecer nas galerias, junto dos apreciadores e colecionadores de arte belgas.

FC – Desde 2018 que o BGW inclui a exposição Generation Brussels. A edição deste ano tem a curadoria de Evelyn Simons e inclui jovens artistas entusiasmantes como é o caso de Helóise Rival ou Carlota Bailly-Borg. Em que consiste esta secção e qual tem sido o seu balanço até agora?

SdR – Já trabalhei em galerias anteriormente e o meu irmão é artista. Estou consciente de que é muito difícil para os artistas mais jovens conseguirem um lugar onde possam ser vistos. Quando trabalhava numa das galerias, fizemos uma exposição com artistas não representados e o feedback foi notável. O público ficou muito satisfeito, esses jovens artistas ganharam visibilidade e alguns conseguiram até presença em boas galerias depois disso.

Ou seja, se queremos mostrar a cena artística de Bruxelas é igualmente importante mostrar também os seus jovens artistas. O curador da 1ª edição da Generation Brussels foi Louis-Philippe Van Eeckhoutte, que já visitou muitos estúdios. Em cada edição, fazemos uma open call para que todos possam ter a sua oportunidade, embora a seleção final seja obviamente muito mais pequena. Sei desde a 1ª edição que os artistas têm conseguindo vender o seu trabalho. Colocamo-los em contato com os curadores, galerias e colecionadores locais e não retiramos daí qualquer dinheiro. Se eles vendem, o dinheiro é para eles. A verdade é que, se olharmos 2 anos atrás, alguns desses artistas registaram uma evolução positiva em todos os aspetos. Por exemplo, o artista que este ano expôs na Galerie Felix Frachon [David Tobón] fez parte da exposição Generation Brussels de 2019. Creio que também temos este papel; precisamos de estar envolvidos e apoiar os artistas mais jovens.

FC – Falemos sobre o off program. Qual é a importância de incluir estes espaços independentes num evento sobretudo focado nas galerias comerciais?

SdR – A questão é precisamente essa! Não somos um evento estritamente comercial. Como já referi, temos o programa GB Show e o off program. Tentamos dar alguma visibilidade a estes espaços sem fins lucrativos, pois penso que a cena artística de Bruxelas também é conhecida por eles. É necessário encontrar um equilíbrio entre estes espaços (na sua maioria geridos por jovens artistas) e as galerias privadas. O BGW tenta ser um ponto de encontro que reúne toda a gente. Não creio que as grandes galerias contem connosco para fazer vendas, já que o BGW quer destacar a cidade e apoiar a cena artística local.

FC – Antes da pandemia Bruxelas era considerada uma das mais entusiasmantes e florescentes cenas artísticas na europa…

SdR – Ainda é!

FC – Acha que o trabalho dos últimos anos poderá ser afetado pela crise sanitária e pelas consequências económicas?

SdR – Acho que é demasiado cedo para dizer isso. Seis meses não são nada. Penso que será necessário pelo menos um ano e meio para compreender as consequências. Sei que muitos artistas mais jovens e espaços sem fins lucrativos estão a sofrer, tal como algumas galerias recentes e até mesmo algumas galerias maiores. Mas as consequências dependerão de quanto tempo durará a pandemia e do apoio governamental.

FC – Pode revelar alguns dos seus destaques pessoais do Brussels Gallery Weekend deste ano?

SdR – Ainda não vi as mostras mas… adoro o trabalho de Eric Croes – inclusive, tenho um em casa –, que vai ser exibido na Sorry We’re Closed. Na C L E A R I N G, estará Daniel Dewar & Grégory Gicquel, cujo trabalho me agrada muito. Lynda Benglis! [na Xavier Hufkens] Sou uma enorme, enorme fã do seu trabalho. E diria Martin Belou, será a sua primeira mostra na Bernier/Eliades, e o seu trabalho merece ser visto.

Oh, não sei, é demasiado difícil escolher este ou aquele. Refiro aqueles que conheço, mas estou curiosa para os descobrir a todos.

Francisco Correia (n. 1996) vive e trabalha em Lisboa. Estudou Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e concluiu a Pós-graduação em Curadoria de Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Tem escrito para e sobre exposições. Simultaneamente desenvolve o seu projeto artístico.

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