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Cápsula de Pedro Henriques

É em Coimbra, no Centro de Artes Visuais – CAV, que Cápsula de Pedro Henriques se encontra em exposição até 13 de setembro. Trata-se de uma exposição com curadoria de Ana Anacleto, que apresenta uma seleção de trabalhos dos últimos cinco anos de produção do artista e que reflete sobre conceitos como abstração e ambiguidade, tópicos recorrentes no seu projeto criativo.

Dispostos no primeiro andar do CAV, os trabalhos de Pedro Henriques preenchem as quatro paredes e o pavimento do espaço longitudinal, com exceção para a peça Auto-retrato, fixada fora da sala numa espécie de antevisão preambular.

Em coerência com aquele que é o seu projeto artístico, Henriques apresenta nesta exposição um conjunto de obras que desafiam a visualidade e a perceção visual, sobretudo no vetor efeito-experiência. O artista dá prevalência à fluidez, à abstração e à imaginação, mais que à criação de uma referência visual estanque que aluda a objetos concretos e mundanos. Reconhece-se um forte onirismo no seu trabalho, sobretudo nas coloridas esculturas e nos desenhos monocromáticos que constituem Cápsula.

Enquanto que os monocromáticos desenhos a tinta da china asseguram esse momento abstrato e onírico através de grandes contrastes e de uma aproximação ao grafismo, as esculturas em madeira aproximam-se dele por meio de abordagens mais complexas e completas. Técnicas e leituras sobrepõe-se e se, em alguns momentos, parecem assemelhar-se a estruturas rochosas – no caso de Auto-retrato – noutros – no caso de Sem título – parecem gravitar em torno de existências como letras ou animais, sempre com formas, recortes, linhas e manchas a afastar leituras taxativas encerradoras de sentido.

No centro da exposição encontra-se Repsol, uma peça que numa primeira abordagem poderia destoar da restante proposta, pela sua referência explícita a objetos de comum uso, mas que se constitui como um dos momentos mais intrigantes e instigantes da exposição. Trata-se de uma peça excêntrica, no melhor sentido da assunção, que emana e parece conter em si um potencial explosivo. Composta por uma botija de gás pintada de negro e algumas bolas de bilhar amarelas, a sensação de que a botija explodirá a qualquer momento é latente e convida a um movimento simultaneamente atrativo e repulsivo.

No cômputo geral, a exposição de Pedro Henriques aporta uma ambiguidade que é desconcertante, mas que desagua num espaço de tranquilidade e apaziguamento envolventes. As suas propostas artísticas parecem apontar numa direção estranha, fluida, não definida e inclusiva, mas essa mesma indefinição, ao invés de promover frustração, compõe aquele que é um dos pontos fortes do seu trabalho. Esse não lugar de exploração, de abstração e de leituras e perceções dúcteis enriquecem e distinguem a sua investigação visual. Assim, Cápsula compõe-se como um bom recorte do projeto artístico de Pedro Henriques, vencedor dos prémios Novos Artistas EDP e Prémio Novo Banco Revelação, apresentando obras que desaceleram e entusiasmam a perceção, que abraçam interpretações e significações múltiplas e que desafiam lugares pouco explorados da imaginação e da arte contemporânea portuguesa.

Diogo Graça (1997) vive e trabalha entre Lisboa e Barcelona. Estudou Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa e estuda Cinema na Universitat Pompeu Fabra. Com um percurso que passa por locais tão díspares quanto a Revista Umbigo, a Galeria Madragoa, a SportTV e a TVI, encontra na escrita e no audiovisual o seu quinto andar, seja sob a forma de guiões para televisão, artigos sobre arte ou short stories.

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