Arte em Quarentena — Carolina Pimenta
A UMBIGO convidou vários artistas a refletir sobre a era em que estamos a viver e a pensar a sua produção artística em tempos de quarentena.
Projeto da autoria da artista Carolina Pimenta.
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Carolina Pimenta, tactile afferents, The importance of touch, 2020
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O toque é decisivo para a nossa experiência do mundo, ajuda a definir-nos. Sentimos com o nosso corpo os objetos que encontramos – o sofá a embalar-nos, a mesa a colidir com os nossos joelhos, a brisa a bater nas nossas bochechas. O toque orienta-nos no mundo; sintoniza-nos uns com os outros. Mesmo antes do nascimento, os investigadores acreditam que o toque é chave para o desenvolvimento fetal. Afirmam que é o primeiro sentido que os homens desenvolvem no útero, existindo mesmo em pequenos embriões. Durante a pandemia da COVID-19, uma das minhas preocupações imediatas era a mudança na interação humana. À medida que o nosso mundo social se torna cada vez mais visual e digital, é fácil esquecer o poder do tato nas relações humanas. Mas um toque suave de um estranho pode diminuir os nossos sentimentos de exclusão social, aumentar os nossos níveis de serotonina e até conduzir-nos a uma cura para a solidão. Durante o meu confinamento, perdi o desejo de fotografar e deixei-me absorver pelo arquivo do meu trabalho. Durante este processo, senti-me atraída pela quantidade de imagens que retratavam o toque; abraços tão apertados que os dedos ficam impressos na pele. Estamos destinados a acariciar-nos e a acariciar-nos mutuamente, a provocar o bem-estar no tecido do nosso corpo e alma. Gostamos tanto que a palavra consegue vender muitos produtos, de almofadas de toque suave até colãs de toque aveludado, panelas de toque especializado e até cremes faciais com toque suave e perfeito. Contudo, o toque, numa era de abuso sexual e assédio, agravado por uma pandemia global, a proximidade já não é segura. Há uma hipervigilância perante os limites, que torna difícil encontrar a abordagem certa. Funcionalmente, o toque diz-nos quem nós somos.