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5 Sugestões Culturais — Vera Appleton

O que podemos fazer por casa? Ou que sugestões culturais nos podem ajudar a navegar em tempo incerto? De um livro a um podcast, álbum ou filme, aqui ficam as recomendações de artistas, curadores, galeristas, ativadores culturais, amigas e amigos.

Vamos partilhar a receita do que melhor nos faz, para seguirmos unidos e positivos.

Desde o início da pandemia, a UMBIGO convida semanalmente uma pessoa a partilhar as suas 5 sugestões culturais.

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Vera Appleton

Pensar em sugestões culturais (para estes tempos de semi-quarentena) é um enorme desafio que a Umbigo me lança já que o meu gosto é eclético e difícil de enquadrar num texto. Decidi então fazê-lo de coração e partilhar aquilo que me tocou ou acompanhou nestes dias e que é indissociável de pessoas e personalidades que me fazem querer ir mais longe, que me inspiram e estimulam. Ter acesso a livros, filmes, música, exposições, conversas, ideias na sua enorme diversidade é um privilégio que só a cultura nos oferece. Valorizar isso é um princípio básico e uma obrigação cívica.

(Oito sugestões, porque seriam infinitas sugestões, em vez de cinco.)

Audiovisual – Cinema/Séries

Vídeocamp

Numa conversa a que assisti há pouco tempo sobre “O papel do cinema na comunicação de questões socioambientais” enquadrada num programa da mostra ecofalante no âmbito da semana do ambiente no Brasil, onde participava o Jorge Bodanzky, ouvi falar pela primeira vez na plataforma brasileira videocamp.com. Esta é uma sugestão sobretudo para agentes culturais, realizadores, programadores, ou para profissionais da área da educação.

A missão de videocamp espelha-se no seu texto de apresentação “O Videocamp é uma plataforma online que reúne filmes com potencial de impacto que podem ser exibidos por qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo e de forma gratuita. Nossa missão é criar caminhos para democratizar o acesso à cultura e à informação, que são direitos universais.”

The Last Dance
Jason Hehir
2020

Sou viciada em séries. Podia sugerir muitas e que ocupariam bem o tempo para muitos meses de quarentena, deixo aqui duas porque não resisto: a melhor de sempre para mim, Breaking bad, de Vince Gilligan, e a imperdível After life, do gigante Ricky Gervais.

Mas a sugestão mais atual porque me marcou especialmente é The Last Dance, de Jason Hehir, documentário sobre Michael Jordan. Além da qualidade da série a nível de imagética, fotografia e construção de narrativa, foi inspirador conhecer melhor MJ, a sua perseverança, coragem e força. Foi surpreendente para mim encontrar beleza e dinâmica no basquetebol, um desporto que até aqui achava desinteressante. Por outro lado, fiquei fascinada por encontrar aquela simplicidade de pensamento por trás de uma figura mítica, quase sobre-humana. No episódio X Barack Obama, resume de uma forma muito simples a importância de MJ enquanto figura desportiva que se transformou numa força cultural, que contribuiu fortemente para criar uma nova maneira de olhar para os atletas afro-americanos, e para o desporto enquanto entretenimento.

Livros – Biografia e poesia

Correr para Vencer
Phil Knight
2018

Para quem vir The Last Dance recomendo a biografia de Phil Knight, Correr para Vencer – memórias do fundador da Nike, que, por coincidência, acabei de ler durante a quarentena. Para quem se interesse por gestão e intuição (e para quem goste da linha Air Jordan) é um livro imperdível.

A papoila e o monge
Tolentino Mendonça
2019

Na mesa de cabeceira é fundamental a poesia que nos inspira antes de fecharmos os olhos para um novo dia. Neste momento a minha principal sugestão vai para A papoila e o monge, de José Tolentino Mendonça, que foi o último livro que comprei antes de as lojas fecharem em março. Cada poema é uma inspiração. Deixo aqui este tão apropriado ao que vamos sentindo nestes tempos:

“O meu desejo na primavera:
que mesmo as flores selvagens
venham florir à minha porta”

The Magic-Maker E.E. Cummings
Charles Norman
1964

Um outro livro fundamental e que acaba por estabelecer uma ligação às duas anteriores sugestões (biografia e poesia) e que me acompanha sempre, é The Magic-Maker E.E. Cummings, uma biografia sobre o poeta-pintor americano escrita por Charles Norman. É uma personalidade especialmente interessante do início do século XX e o livro está escrito de uma forma que prende o leitor do princípio ao fim, incluindo poemas e imagens de obras plásticas do poeta. E aproveito para sugerir a leitura do seu poema [i carry your heart with me (i carry it in)] o meu preferido.

Música 

A música é para mim a forma artística mais completa no sentido em que me permite “viajar” sem esforço. Deixo-me levar e entrego-me, sem pensar.

Maria
Carminho
2018

Descobri o disco Maria da Carminho através das fotografias do artista José Pedro Cortes que achei maravilhosas. Foi muito interessante a maneira como a Carminho decidiu promover o álbum assumindo a sua ligação e interesse pelas artes visuais contemporâneas. Demonstrou que as duas áreas não são estanques e que o cruzamento pode acontecer de uma forma natural e inteligente. Depois da curiosidade inicial e por gostar muito de fado, e da Carminho, nasceu a vontade de ouvir cada música de Maria com atenção e tempo. Durante a quarentena pude fazê-lo e deu-me (tem-me dado) um enorme prazer, é um disco muito especial.

Water
Red Bean Rice
2019

A minha segunda sugestão musical vai para o álbum Water, de Red Bean Rice, uma banda de jovens músicos portugueses que estavam numa fase muito positiva, com concertos marcados dentro e fora de Portugal, quando foi declarada a pandemia e com ela cancelada a sua digressão. Escolhi os Red Bean Rice assumindo a minha relação de afeto com eles e não ignorando o facto de que o concerto deles, associado à mostra do festival Gliding Barnacles, foi o último momento de normalidade pré-Covid na Appleton, e por isso inesquecível. São também representativos da situação precária e complicada em que se encontram tantos músicos, em Portugal e no mundo, neste momento.

Exposições – On e o off line

Como silenciar uma poeta
Susana Mendes Silva

Por fim sugiro a visita a uma exposição. E aqui faço justiça à artista Susana Mendes Silva que sempre trabalhou o online de forma exemplar antecipando questões conceptuais que agora se colocam, e ironicamente avanço aqui com a primeira e única sugestão que obriga a sair de casa:

Sugiro, assim, Como silenciar uma poeta uma exposição da artista no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado que inaugurou dia 10 de junho e estará patente até 30 de agosto. Esta exposição está integrada no programa As coisas fundadas no silêncio com direção artística de Marta Rema, e Susana Mendes Silva apresentará também três performances ainda sem data definida. Aproveito para sugerir que visitem o site da artista e olhem com atenção para o arquivo e memória descritiva destes seus trabalhos: Telescola de 1997, artphone de 2002, art_room de 2005, A bed time story de 2007, performance com que voltou a trabalhar em 2020 durante a quarentena, ou mesmo Audio description apresentada na Culturgest em 2013.

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Vera Appleton é licenciada em Comunicação e Marketing pela ESCS do IPL, pós-graduada em Marketing Management pelo ISEG. Mestre em Arte Contemporânea pela FCH da Universidade Católica na qual é docente convidada desde 2015. Exerceu funções dentro da área da comunicação em várias empresas – Seat (1996-1998), Novodesign (1999-2002), Euro RSCG (2002-2003), Croquidesign (2003-2007) Em 2007 dá início ao projeto Appleton Square como sócia fundadora. Em 2018 altera o seu estatudo jurídico para associação sem fins lucrativos e assume a direção executiva da Appleton Associação Cultural. É responsável pela gestão global que inclui: programação/calendarização, contabilidade, comunicação, recursos humanos, relações com artistas, galerias, investidores e clientes. Em 2020 lança o Appleton podcast. Presta serviços de consultoria e aconselhamento nas áreas da programação artística.

 

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