Music for the Weekend #002 — All that Jazz
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Se repentinamente me requisitassem escolher um só contributo que cada país do mundo tenha trazido ao nosso bem estar do Brasil optava pela cachaça mineira, à França dava um merci pelas demoiselles d’Avignon, o Reino-Unido que nos presenteou com os Monty Python teria de receber uma outra pequena palmada nas costas só pelo seu awkward sense of being always on top of things. Mas se tivesse de dar preferência a um só contributo dos EUA seria sem dúvida ao seu maior: o Jazz.
Nascido da cultura afro-americana, laivos de blues e ragtime juntavam-se ao conceito mais europeu das marching bands e por volta dos fins da ultima década do século XIX aparecia um som que iria pintar muita manta por esta Terra fora. Música “endiabrada” porque feita de celebração e sofrimento, música para que os negros trazidos de África até o Novo Mundo pudessem preservar as suas ancestrais tradições de melodia-única em estilo de chamada e resposta por cima de ritmos desenvolvidos numa estrutura contra-métrica e que refletiam a origem dos padrões de comunicação oral destes escravos deportados do rio Congo para o delta do Mississípi.
Como em certos estados do sudeste americano negavam-lhes o direito a usarem tambores (quão racista é esse conceito?) usual seria a “invenção” de outros meios percussivos: selhas e tábuas usualmente utilizadas para lavar roupa, garrafas e caixas batidas com paus ou ossos.
Só o fim da Guerra Civil traria um excedente de tarolas, bombos e pífaros que iriam repentinamente exponenciar estes novos e sincopados cross-rhythms que só poderiam ter sido criados por uma cultura com uma enorme sofisticação polirrítmica.
Calcula-se a origem da palavra Jazz como relacionada com jasm, calão para pep (de enérgico) e pode-se ler o termo num primeiro contexto musical a 14 de Novembro de 1916 num artigo publicado no Times-Picayune descrevendo as “jas bands” de New Orleans.
Numa entrevista o pianista e compositor Eubie Blake disse que “quando a Broadway pegou no termo chamou-lhe J-A-Z-Z, mas não era esse o nome. Escrevia-se J-A-S-S. Isso era um pouco ordinário e quem soubesse o seu significado nunca o iria referir na presença de senhoras”.
Jazz ficou, música que abrange miríades de facetas, do funk ao rock, assente sobre os ritmos do Beguine ou da Bossa, free, modal ou bebop, tocado por uma big band para centenas de pessoas ou por um solitário alley cat numa deserta esquina urbana. O Jazz não tem pruridos com instrumentos: vibrafone, harpa, guitarra elétrica ou banjo, tudo lá cabe, tudo pode fazer sentido. Gaita de foles? No problem. Que venha daí um Fly me to the Moon tocado em theremin ou o Summer Wind em búzios que nós cá estaremos para os ouvir.
O Jazz é música por muitos considerada intelectual enquanto outros acham que era mesmo assim que devia ser, uma expressão artística elitista, longe dos seus primórdios bem populares. No entanto um dos grandes do género, o enorme Duke Ellington, sobre isso dizia que “é só música”.
Tenham um fim de semana cheio de swing.
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#staysafe #musicfortheweekend