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Qual é a Coisa, Qual é Ela, de Sara Bichão

Em Qual é a Coisa, Qual é Ela as formas, os objetos e os corpos são postos em tensão e em compressão, como se de molas ou elásticos se tratassem. Os têxteis têm um comportamento tênsil, esticam para além dos seus limites e tendem para rutura e o rasgamento. As estruturas são sempre torniquetes de qualquer coisa; apertam sempre mais um pouco, vagarosamente, depois do relaxamento e da expiração a custo. Os corpos aguentam nas fronteiras últimas dos seus esforços, cada vez mais próximos da lâmina afiada.

Tudo tem um movimento vagamente perigoso ou cauteloso, nessas estruturas de aparência lúdica, dinâmica, semelhantes à de um canivete que abre e fecha.

Qual é a Coisa, Qual é Ela, reza a adivinha, é simultaneamente interpelação filosófica e charada visual e linguística que de nós zomba. Lâmina na língua, gosto metálico, aço frio. Os ferros dobram, curvam e pendem — desenhos livres, mas precisos, no espaço.

Segundo Marta Mestre, curadora da exposição, o desenho “vemo-lo enquanto pensamento ativo de domínio dos objetos, surgindo para sublinhar ou amansar a violência do metal, da chapa e das arestas vivas das peças – sintoma de um mundo invisível em ação na materialidade.” E, na verdade, Qual é a Coisa, Qual é Ela é um breve compêndio da proficiência artística de Sara Bichão para o desenho, mas também para a cor e para o trabalho em têxteis, anteriormente ensaiados em diversas mostras coletivas.

Enquanto isso, o torniquete aperta, a mola estica, e produz-se o som metronímico dessa máquina insidiosa e giratória. O osso tirita e vibra no metal, para a frente e para trás, a manivela roda no sentido horário ao ponteiro do relógio – instrumento da alienação máxima que diz: Passa-se que há um olho que roda para a esquerda e outro que insiste em fixar a direita.

Qual é a Coisa, Qual é Ela, de Sara Bichão, estaria patente na Galeria Filomena Soares até 9 de maio, não fosse a COVID-19 manter-se indeterminadamente. Na impossibilidade de uma visita presencial, fica abaixo o vídeo da exposição, que retrata a inquietação e a tensão dos objetos criados pela artista, e o esforço que os artistas e os galeristas têm feito para continuarem a expor arte em livre acesso.

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