5 Sugestões Culturais — António Olaio
Todas as semanas, a UMBIGO convida duas pessoas a partilhar as suas 5 sugestões culturais. O que podemos fazer por casa? De um livro a um podcast, álbum ou filme, aqui ficam as recomendações de artistas, curadores, galeristas, ativadores culturais, amigas e amigos.
Vamos partilhar a receita do que melhor nos faz para seguirmos unidos e positivos.
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António Olaio
Livro
Punks and Drunks and Flicks and Kicks
Richard Strange
2002
Em versão papel e áudio – Pelo testemunho de uma personagem charneira da cena artística/musical londrina simultaneamente precursor do punk e ultrapassado pela hegemonia do punk nos 70’s. Também pelo humor, forma como se reinventa e pelo que faz e fez acontecer.
Link: https://www.richardstrange.com/
Poema
O Guardador de Rebanhos
Alberto Caeiro
1925
Pela possibilidade de a indiferença ser uma forma de fazer coincidir a subjetividade e/ou a expetativa de subjetividade com a ambiguidade infinita do mundo objetivo. Com afirmações como: “Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos”. A unanimidade em relação à obra de Fernando Pessoa não lhe diminui de todo a potencialidade de espanto e descoberta (nem algumas leituras insuportavelmente enfáticas… no que deveria ser lido/dito como se não tivesse importância alguma…)
Álbum
The B 52’s
1979
O álbum amarelo, o primeiro só com o nome da banda. O mais glamoroso universo na possibilidade de uma realidade alternativa. De uma época em que tudo parecia possível pelo jogo entre coisas improváveis, na audácia de não temer a irrelevância que o punk abriu e que depois se tornou outra coisa, ou melhor, muitas outras coisas…
Obra de Arte
La Cohorte Invencible ou La Coorte Invincibile
Giorgio De Chiricco
1928
Uma pintura (felizmente existente em Portugal no Museu Coleção Berardo). Obra que esteve presente na exposição na galeria L’Effort Moderne de Léonce Rosenberg em 1928, abandono da pintura metafísica (ou aparente abandono) e que tornou Chiricco um proscrito no mundo da arte (como irritou os surrealistas esta viragem na sua obra! E como seria paradoxal esta presença numa galeria que se vê a si própria como participando no “esforço” moderno…). Esta obra será o mote para uma exposição com curadoria minha e de Hugo Barata para o Colégio das Artes. Aliás foi Hugo Barata que me lembrou da sua presença aqui tão próxima.
Filme
Amarcord
Fellini
1973
O puro artifício, mesmo no seu filme mais autobiográfico. Provavelmente por assim o ser.
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António Olaio, artista plástico, professor auxiliar de nomeação definitiva do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Diretor do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Exposições individuais em Coimbra, Lisboa, Porto, Guimarães, Mallorca, Nova Iorque, Berlim, Frankfurt. Enquanto investigador explora as potencialidades conceptuais da arte enquanto objeto e instrumento de reflexão, nomeadamente nas relações entre o indivíduo e o espaço, entre a experiência plástica e a arquitetura. Das suas publicações são de salientar os livros I think differently, now that I can paint que desvenda a latitude da sua intervenção conceptual enquanto artista plástico e Ser um indivíduo chez Marcel Duchamp que, através da obra deste artista, sublinha a obra de arte enquanto produção de pensamento.