ART PARIS | Southern Stars | Entrevista com Carolina Grau
Depois de incidir sobre atividade artística da América Latina, a secção Southern Stars da Art Paris irá apresentar as cenas artísticas das cidades ibéricas de Madrid, Barcelona, Lisboa e Porto. A responsável pela curadoria desta secção, Carolina Grau, é uma curadora independente que tem trabalhado esta zona geográfica nas últimas duas décadas, conhecendo em profundidade a cena profissional destas cidades.
A Umbigo falou com Carolina sobre as suas intenções para a secção, a forma como mostra a cena artística da Península Ibérica, a sua posição dentro do mercado Europeu e como estas cidades se relacionam mutuamente.
Myles Francis Browne – O que levou à decisão de incluir as cidades ibéricas na ART PARIS deste ano?
Carolina Grau – A decisão de incluir as cidades ibéricas foi tomada pelo Diretor Artístico da Art Paris, Guillaume Piens, que me pediu para prestar aconselhamento na seleção. Achámos que seria importante destacar, em Paris, a produção artística da Península Ibérica (que carece de visibilidade no mercado internacional artístico), evidenciando as mudanças que as quatro cidades experienciaram desde 2008.
MFB – Qual a estrutura da Southern Stars?
CG – As galerias das quatro cidades estarão espalhadas e identificadas por uma sinalização específica na feira e nas ferramentas comunicacionais. Haverá também projetos paralelos, incluindo um programa vídeo relacionado com as quatro cidades, instalações específicas à entrada do Grand Palais e nas paredes da Nave… Teremos também duas mesas redondas organizadas pelo Instituto Cervantes e pela Gulbenkian Paris, que irão debater o presente e o futuro das quatro cidades.
MFB – Para si, que obras ou artistas desta seleção demonstram o espírito das suas respetivas cidades?
CG – As galerias irão convidar figuras históricas, que marcaram o período entre a viragem do século XX e as gerações mais jovens que estão agora na casa dos trinta anos. A lista final de galerias será aprovada pelo comité de seleção da Art Paris no próximo dia 9 de dezembro. Veremos!
MFB – De que forma as cenas artísticas destas cidades se afirmam entre as congéneres europeias, como Paris, que são marcadamente monolíticas?
CG – As cenas artísticas das quatro cidades sofreram alterações últimos anos, o seu aumento ou diminuição resulta da flutuação económica do mercado. Por exemplo, algumas galerias passaram a ocupar espaços industriais, mas também abriram pequenas galerias, sob o comando de uma nova geração de jovens negociantes de arte. Por um lado, Lisboa e Madrid testemunham agora o brotar de fundações privadas, novos espaços com residências artísticas e, além disso, algumas galerias internacionais estão a abrir uma segunda base nestas cidades. Por outro, Barcelona e Porto têm tido uma cena artística alternativa, com espaços geridos por artistas e espaços sem fins lucrativos, que se tornaram elemento cruciais na cena artística, para além dos espaços públicos de âmbito municipal.
MFB – Existe claramente um fosso político entre Madrid e Barcelona. De que forma a exposição aborda esse distanciamento, ou será que procura reconciliar estas duas cidades?
CG – As cenas artísticas de Barcelona e Madrid estão interligadas. Ambas criaram redes conectadas com artistas que são representados por diferentes galerias, há também diretores que trabalharam em instituições públicas nas duas cidades, e o programa itinerante de exposições La Caixa engloba ambas. A título exemplificativo, o atual diretor do MNCARS já foi diretor do MACBA e o novo diretor do MACBA já esteve na gestão do madrileno CAM2.
MFB – Até entre Porto e Lisboa existe essa dissimilitude cultural. De que forma a Southern Stars discute as diferenças entre as respetivas microculturas e cenas artísticas?
CG – As duas cidades são diferentes e a sua diversidade e similitude no que diz respeito à cena artística será um tema na mesa redonda durante a Art Paris, organizada pela Fundação Gulbenkian Paris, com representantes culturais de ambas as cidades.
MFB – Mudou-se recentemente para Barcelona. De que forma isso influenciou a concetualização da exposição?
CG – Trabalho com artistas e instituições das quatro cidades desde 2000. A minha primeira viagem a Portugal aconteceu em 1997. Desde então, tenho visitado o país quase anualmente. Voltei a residir em Barcelona em 2011, após 15 anos no estrangeiro, mas tenho estado envolvida na cena artística de Barcelona e Madrid há mais de 20 anos. A minha ideia é representar as quatro cidades de igual forma.
MFB – A propagação da ideia de ‘Curador Estrela’ tornou-se uma espécie de fenómeno no mundo artístico. O curador e a sua prática são cada vez mais equiparados ao lugar ocupado pelo artista e do seu trabalho. Quais são as implicações desta dinâmica, e considera-a ameaçadora ou encorajadora?
CG – Creio que o fenómeno de ‘Curador Estrela’ pertence aos anos 80, 90 e 2000, tendo começado com Harald Szeemann. Atualmente, está em desvanecimento. Existem imensos curadores em regime freelancer, que organizam várias exposições, eventos, debates e festivais. Deixou de haver espaço para o ‘Curador Estrela’.
Na sua prática, o curador precisa sempre do artista e do seu trabalho para desenvolver exposições, eventos, etc. O artista não precisa do curador para produzir os seus trabalhos.
MFB – Como é que a Southern Stars se diferencia da homogeneidade da feira de arte e dos seus modos de exposição?
CG – A Southern Stars estará presente na feira de duas formas. Por um lado, na área principal, teremos galerias reputadas e recém-criadas das quatro cidades; por outro, haverá apresentações de artistas portugueses e espanhóis por galerias francesas e internacionais. Também haverá uma área com uma exibição vídeo, que reflete a cena artística das quatro cidades e uma apresentação da seleção de obras de uma coleção em específico. Duas mesas redondas irão debater o presente e o futuro da cena artística em Barcelona/Madrid e Lisboa/Porto.
Art Paris, de 29 a 31 de maio, no Grand Palais.