Colecionismo público e privado de arte contemporânea – A coleção de arte contemporânea da Fundação PLMJ
Os mercados de arte em Portugal, em especial o de arte contemporânea, atravessam uma fase desafiante, sendo assim um momento bem oportuno para a conferência da Fundação PLMJ, Colecionismo público e privado de arte contemporânea e apresentação da sua coleção, na nova sede, decorrida no dia 5 de dezembro. A conferência contou com a performance da bailarina Nina Botkay, que cativou a atenção de toda audiência, bem como com a apresentação da obra Convívio Glacé da artista Mariana Gomes, distinguida em 2011 com a menção honrosa do prémio Fidelidade Mundial – Jovens Pintores.
A Coleção da Fundação PLMJ conta com mais 1300 obras de arte apresentadas em mais de 50 exposições. Brevemente começará o seu programa de coleção itinerante, continuando o seu intuito de promoção da cultura portuguesa e criação artística a nível nacional e internacional. Fundada em 2001 tem sido reconhecido o seu mérito, como ilustram as distinções em 2017 e 2018 para os Corporate Art Awards.
Os acessos à arte e à cultura devem ser melhorados, como mencionou a Ministra da Cultura na sessão inaugural. No entanto, para além de fortalecer relações com instituições privadas e públicas, falta reforçar as relações intersectoriais, tema relegado para segundo plano. Há setores que beneficiam da cultura, tais como o turismo, a restauração, que usam a imagem cultural da marca Portugal. Se por um lado o turismo cresceu 11% nos últimos dois anos, as visitas culturais a museus caíram 12% em Portugal, segundo notícia do El País. O que explica tão desanimador panorama cultural em Portugal? Porque é o turismo valorizado como parente rico e a cultura permanece parente pobre, apesar do seu contributo essencial para a oferta turística em Portugal e para a identidade portuguesa?
É neste panorama de quase seca cultural (apesar de a cultura portuguesa estar viva), que surgem alguns oásis de empresas que, com as suas coleções, promovem, divulgam e alimentam os mercados da arte contemporânea em Portugal (e também os seus principais intervenientes, em especial artistas e galerias de arte). Neste contexto, surge a Fundação PLMJ com o lema “uma sociedade de advogados como espaço de cultura”, entre muitas outras como a Fundação Calouste Gulbenkian ou a Fundação EDP. Numa conferência sui generis (no bom sentido do conceito), abrangente e abordando os principais desafios do colecionismo, o convite de 1o oradores com diferentes papéis nos mercados de arte permitiu claramente alcançar o objetivo. Moderada pela jornalista Maria João Costa, a conferência contou com um painel de oradores bastante representativo como os artistas Ângela Ferreira e Fernão Cruz, os curadores João Silvério e Adelaide Ginga, a historiadora de arte Cristina Tavares, o galerista Pedro Oliveira, o presidente da leiloeira VERITAS Igor Olho-Azul, o colecionador António Cachola, bem como os intervenientes públicos como a vereadora da cultura da C.M. Lisboa, Catarina Vaz Pinto, e a diretora do MNAC, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Emília Ferreira.
Segundo o galerista Pedro Oliveira, “o panorama nacional é desafiante, sendo que os mercados de arte contemporânea são historicamente frágeis e os colecionadores (sobretudo privados) são essenciais para suportar estes mercados”. O presidente da leiloeira Veritas, Igor Olho-Azul, traça um perfil de alterações de gostos e grande correção nos preços de várias tipologias, em especial antiguidades, sendo necessária a venda de muitas mais peças em leilões. Enquanto novos artistas, como Fernão Cruz, aparentam vender desde cedo obras de arte, verificando-se uma mudança de paradigma, Ângela Ferreira, artista da geração anterior, não vendia obras de arte nem com os seus 20 anos, nem com os seus 30 anos. Mudam-se os tempos, mas as vontades tardam mais em mudar, sendo que se há colecionismo privado ativo, já o colecionismo público (entenda-se de instituições públicas) deixa muito a desejar, com museus sem orçamentos ou com verbas insignificantes para aquisições de obras de arte. Quem vai a Paris sabe do Louvre, quem vai a Madrid sabe do Prado, será que os turistas (e os portugueses) sabem do MNAA (Museu Nacional de Arte Antiga) ou MNAC? É o que o número de visitas aos museus parece dizer que não. Que estratégia cultural para Portugal? Interessa perguntar a todos os intervenientes dos mercados de arte. E interessa perguntar também a nós, portugueses e empresas portuguesas se valorizamos a nossa cultura e arte.
Parafraseando a artista plástica Ângela Ferreira, para além da educação de públicos para a cultura, a educação corporativa e o exemplo da Fundação PLMJ é fundamental para mais empresas apoiarem a cultura, arte, artistas e criarem coleções que dinamizem os mercados de arte contemporânea. Faltam mais oásis para atravessar este deserto, mas estamos no bom caminho a nível privado. A nível público falta uma estratégia cultural e começar por quantificar o valor dos mercados de arte em Portugal. Comecemos pelo princípio. A sustentabilidade cultural deste setor exige-se, bem como o fim de uma seca que tende a continuar por inércia e inépcia.
P.S. Um bem-haja à Fundação PLMJ.