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Bad Behaviuouor de Adriana Proganó, na Galeria da Boavista

Bad Behaviuouor, assim mal escrito, é a proposição de Adriana Proganó na sua mais recente exposição, na Galeria da Boavista.

O tom provocador do título é acentuado pela exuberância da informação visual, que palpita por toda a parte. Num primeiro momento, a proliferação de pinturas, de alguns objetos e o chão quadriculado com fita azul, dificultam a fixação do olhar num qualquer ponto, arrastando-nos inadvertidamente para um cenário estridente, repleto de cores solares e formas dinâmicas, que apesar da sua aparência levianamente humorística, se revela desconfortável.

De facto, passada essa impressão inicial, o ambiente torna-se mais complexo, mais estranho. O cromatismo – bastante singular, diga-se – e a figuração de Proganó, parecem camuflar numa primeira instância, como se de uma armadilha se tratasse, o lado cáustico da sua imagética dominada pela indefinição dos corpos e da narrativa. O universo que nos dá a ver é composto por uma amálgama de referências, através das quais articula habilmente a fantasia (quase infantil), com tensões sexuais plenas de ironia, questões de género, estereótipos femininos, e com a violência.

A ideia de jogo é também central neste conjunto de trabalhos. É a partir dele que inocência e perversão são postas lado a lado, eliminando as respetivas conotações que lhes são socialmente impostas. Aparece quer nas pinturas – os corpos que se entrelaçam no twist, a ficha de desenho, o soalho verde que a figura refletida na espada pisa –, quer nas peças de puzzle, que comunicam entre si, brincando com as suas próprias definições; ou ainda na vertente mais objetual e direta: o tapete que reproduz o jogo da macaca (uma paródia ao funcionamento do meio artístico) e a escada mole, desprovida da sua utilidade mais óbvia.

As telas de Adriana Proganó têm afinidades com a bad painting figurativa, que nos últimos anos tem ganho novamente expressão sobretudo entre artistas jovens, mas que tem raízes em nomes já consagrados, como Rose Wylie, René Daniëls ou Walter Swennen, por exemplo. Todos eles capazes de fundir a propositada precariedade técnica, com imagens inusitadas, mas não menos sérias e atuais. Aliás, talvez seja sinal do tempo, e o “mau comportamento” surja justamente por oposição ao “politicamente correto”.

Importa ainda referir que Bad Behaviuouor dá continuidade à aposta dos curadores, Sara Antónia Matos e Pedro Faro, na apresentação de (jovens) artistas que, por questões geracionais ou não, voltam a assumir a pintura enquanto género artístico autónomo. Foi o caso de João Gabriel em 2018 e Adriana Proganó, agora, em 2019.

A exposição está patente até dia 10 de novembro, na galeria da Boavista.

Francisco Correia (n. 1996) vive e trabalha em Lisboa. Estudou Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e concluiu a Pós-graduação em Curadoria de Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Tem escrito para e sobre exposições. Simultaneamente desenvolve o seu projeto artístico.

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