Reabertura do MoMa (Museum of Modern Art) de Nova Iorque
O MoMa (Museum of Modern Art) de Nova Iorque reabre dia 21 de outubro de 2019 uma nova ala em Manhattan que adiciona ao atual museu mais de 3.700 metros quadrados de espaço expositivo. Esta expansão do Museu, que decorreu ao longo dos últimos quatro meses e representa um investimento de quase meio bilião de dólares (grande parte financiada por doações e patronato), foi desenvolvida pelos arquitetos Diller Scofidio + Renfro em colaboração com o Estúdio Gensler.
A renovação sente-se, de certa maneira, como um mais que indispensável reinventar do museu e visão do seu Diretor e fundador Alfred H. Barr Jr., injetando uma renovada energia ao projeto que se sente por vezes comodamente adormecido e estacionado na sua privilegiada localização em Midtown Manhattan. O MoMA tem anualmente cerca de três milhões de visitantes, sendo quase metade destes locais e/ou nacionais, significando que grande parte do público visita regularmente o espaço, prestando-lhe atenção e dedicação. É manifestamente relevante que este museu, com uma extraordinária coleção de arte moderna e contemporânea, releve simultaneamente uma capacidade de exploração da comunicação dos inúmeros períodos desenhados pela história recente da arte e isto sente-se assim como está grandemente alcançado nas exposições inaugurais. Esta realidade é conseguida através da apresentação e interação de obras que trespassam todas as técnicas artísticas como são a pintura, escultura, arquitetura, design, fotografia, multimédia, performance. filme, e trabalhos em papel.
Em três dos pisos desta nova secção do MoMA (no quinto, quarto e segundo), mais de 2.700 metros quadrados de galerias, os curadores fazem uma apresentação mais profunda e específica em algumas das salas, por vezes dedicadas a uma única técnica artística, mapeando desta forma a história da arte moderna e contemporânea. Um terço do total destas galerias, e segundo a direção do museu, sofrerá uma reinstalação/reorganização a cada seis meses.
Há inúmeras salas que são extraordinárias surpresas, como é o caso da exposição Sur moderno: Journeys of Abstraction – The Patricia Phelps de Cisneros Gift, em que se podem desfruir excecionais obras de arte moderna da América Latina: Brasil, Venezuela, Argentina ou Uruguai.
Um outro espaço de destaque absolutamente singular é aquele que de futuro acolherá maioritariamente projetos de performance e que apresenta nesta inauguração Rainforest V (Variation 1) 1973-2015, concebida por David Tutor e realizada por Composers Inside Electronics Inc. Trata-se de uma instalação composta por objetos de uso doméstico e diário que ressoam diversos ruídos e encontram-se suspensos num espaço com um pé-direito gigantesco. Esta galeria prolonga-se de uma forma particularmente interessante à cidade, conexão esta facultada pela arquitetura do espaço e da colossal parede de vidro translúcido frontal para a West 53 Street.
Nos espaços dedicados à (des)construção da história moderna e contemporânea, muitas das salas têm conceitos ou temáticas muito específicas, o que se revela particularmente interessante em termos curatoriais e que resulta na conjugação de artistas e obras particularmente inesperados, embora com muito sucesso: são os exemplos das salas Downtown New York (com artistas como Keith Haring ou Jean-Michel Basquiat), Hardware Software (em que o corpo humano é o referente para a criação), True Stories (maioritariamente registos fotográficos de momentos da vida real, com artistas como Nan Goldin ou Wolfgang Tillmans), ou ainda Before and After Tiananmem (artistas asiáticos dos anos 80 e 90). Para além a algumas destas salas “temáticas” há outras que apresentam um só artista, como é o caso de Richard Serra’s Equal ou Sheela Gowda’s Of All People. Esta lógica replica-se pelos restantes espaços, nuns casos com mais sucesso do que noutros, embora na grande generalidade sejam bem-sucedidas. Nos exemplos menos conseguidos, ou potencialmente muito confusos, há o exemplo da secção Artist’s Choice, em que um artista convidado, sendo o da exposição inaugural a Amy Sillman (The Shape of Shape), seleciona obras da coleção numa curadoria pessoal que se crê maioritariamente de “gosto”. Nesta sala consideravelmente pequena a artista expôs 75 obras da coleção do MoMA. Talvez uma ideia de valor por parte do Museu que requer seguramente mais metros quadrados de exposição.
Ainda a destacar é a exposição com pinturas, desenhos, e esculturas de Betye Saar: The Legends of Black Girls Window e a instalação (comissão do museu) para o átrio Marron da artista oriunda de Seul, Haegue Yang, intitulada Handles, com seis esculturas dinâmicas que são ativadas diariamente em simultâneo com luz e som, criando um complexo ambiente em parte pessoal, mas também político, que ecoa referências históricas e sensoriais da artista.
Esta nova fase do MoMA é seguramente um renascimento do projeto deste museu que, por eventualmente se encontrar confinado a uma arquitetura urbana castradora, tenha por vezes dificuldade em respirar licenciosamente. As exposições inaugurais são extraordinárias, o programa vasto, e as novidades expostas suficientes para justificar largas horas de visita e descoberta ou redescoberta da inacabável história da arte moderna e contemporânea.