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Circuito artístico em Santiago do Chile, por Thiago Verardi

Ao escrever um roteiro com dicas e comentários sobre as dinâmicas do circuito artístico do centro econômico da América Andina, foi inevitável apontar para algumas conexões com Portugal.

 

CorpArtes

O centro cultural atualmente abriga a exposição Surge, de Anish Kapoor, artista indo-britânico célebre pelas esculturas espelhadas que invertem a imagem e distorcem os sentidos, causando perda de referências e até vertigem no espectador. Esta crise provoca reflexões sobre a nossa presença no mundo.

A mostra curada por Marcelo Dantas, abrange trabalhos desde 1989 até hoje, entre eles: Shooting into the Corner (2008) que explora a relação entre gêneros, com o masculino representado pelo canhão que dispara esferas de cera vermelha numa das esquinas sala. A esquina, como foi sugerido por Duchamp, simboliza o feminino. E Dragon (1992) composta por pedras de calcário revestidas por um pigmento azul escuro, colocando em questão a perpétua relação entre matéria e superfície.

Kapoor entende o vazio como um espaço de transição e observa a relação da imaterialidade com o sagrado, mesclando as matérias físicas e psíquicas com uma técnica xamânica. A interação com as obras é parte de um ritual que tem por finalidade nos conectar a dimensões espirituais que invoquem um sentimento ancestral.

Até 8 de setembro de 2019.

 

Fundação Antenna 

A associação nasceu em 2014 e já fomenta com enorme relevância o desenvolvimento das artes visuais no Chile graças à filantropia ativa de seus 250 membros que semanalmente se reúnem para jantares educativos organizados em coleções privadas, studios, galerias e museus.

O perfil dos sócios é composto por colecionadores, agentes culturais e executivos. Antigos e novos amantes da arte em busca de conhecimento para adquirir obras ou experiências artísticas e interação social.

A fundação mobiliza a gestão, financiamento, comunicação, editorial e desenho de estratégias para iniciativas públicas e privadas. Entre os projetos Antenna, figura anualmente o pavilhão chileno na Bienal de Veneza e o Incognitum: Circum-Navegações Contemporâneas que promove o intercâmbio de 20 artistas portugueses, ou ligados à arte lusitana e chilenos.

Incognitum é um projeto criado pela curadora Isabel Carlos e o artista e investigador Raúl Miranda por ocasião dos 500 anos da circum-navegação de Fernão Magalhães e em 2020 resultará numa exposição abrangendo quatro espaços lisboetas, incluindo a Cordoaria Nacional. Além de Santiago e Punta Arenas, no Chile.

Entre os artistas portugueses selecionados estão: Ana Vaz, Salomé Lamas, Vasco Araújo, Ângela Ferreira e Filipa César.

 

Galeria Patricia Ready

Se trata de uma galeria comercial, mas tem dimensões de museu: são 2 mil metros quadrados entre espaços expositivos, restaurante e auditório para 100 lugares com programação gratuita.

No seu elenco, artistas consagrados internacionalmente como: Alfredo Jaar, Patrick Hamilton, Bernardo Oyarzún e Cecilia Vicuña. Inclusive a representante do pavilhão chileno na atual edição da Bienal de Veneza: Voluspa Jarpa. Seu projeto Altered Views curado por Agustín Pérez Rubio, consiste num exercício de descolonização. A partir de uma pesquisa de arquivos coloca a História como um território simbólico em disputa e questiona os conceitos eurocêntricos aplicados à América Latina como uma forma de submissão política, cultural e económica.

Entre os artistas emergentes representados por Patricia Ready se destacam: Adolfo Bimer, Maria Edwards, Cristián Salineros, Miguel Soto e Javier Toro Blum. Este último é um dos fundadores do coletivo de design MOB que participará da Trienal de Arquitetura de Lisboa em outubro deste ano com uma exposição nas Carpintarias de São Lázaro.

 

Galeria Aninat 

A nova sede da galeria fundada nos anos 80 pela até então professora de filosofia Isabel Aninat, está localizada num edifício empresarial. Parte do acervo de esculturas da galeria está distribuído pela zona gastronómica que conta com 6 bons restaurantes.

Dentro dos 400 metros de espaços expositivos de Aninat, podemos encontrar, entre outros artistas chilenos, obras de: Catalina Swinburn, Mónica Bengoa, do poeta Raúl Zurita, dos conceituais Lotty Rosenfeld e Elias Adasme. Assim como do espanhol Nicolás Franco e do peruano Fernando Gutierrez Huanchaco.

Interessante o projeto Gabinete: uma vitrine de 12 metros de largura destinada a apresentar processos investigativos que não foram materializados através de documentações, vídeos e correspondências. O objetivo é revelar o mundo íntimo do artista.

 

Coleção Ca.Sa

A coleção tem cerca de 900 obras de artistas latino americanos, garimpadas ao longo de 35 anos pelo arquiteto Gabriel Carvajal e o empresário Ramón Sauma. Desde 2016 se tornou uma fundação e ocupa um apartamento aberto ao público mediante agendamento prévio.

Lá podemos apreciar obras de: Paz Errázuriz, Iván Navarro, José Pedro Godoy, Voluspa Jarpa, Prem Sarjo, José Balmes, Benjamin Ossa, Isidora Bravo, Cristián Aninat, Enrique Ramírez, Catalina Bauer, Pablo Serra, Lucas Simões, Bruna Truffa, Ignacio Gatica, Víctor Castillo, Santiago Cancino, Adonis Flores, Sebastián Calfuqueo, Amalia Valdés e muito mais.

Anualmente os mecenas oferecem um prêmio em dinheiro para jovens artistas, além de patrocinar diversas residências artísticas. “A esta altura somos conscientes do que adquirimos. A coleção nos ensinou que temos uma responsabilidade com o nosso entorno”. Afirmam os colecionadores.

Curador independente a residir em Santiago do Chile

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