Joalharia contemporânea em Portugal
No próximo mês de setembro, um importante grupo de colecionadores e apreciadores de joalharia contemporânea visita Lisboa para o lançamento do primeiro livro sobre a história da joalharia contemporânea em Portugal, obra que resultou de uma bolsa para artistas em meados de carreira instituída por Susan Beech e pelo Art Jewelry Forum (AJF).
Cristina Filipe (artista, professora, curadora e doutorada em joalharia contemporânea) foi a vencedora da primeira destas bolsas, com o projeto do livro e uma exposição, que decorre na Gulbenkian, entre 19 de julho e 16 de setembro no âmbito do programa Convidados de Verão e põe em diálogo peças de joalharias com obras do Museu Gulbenkian
Portugal tem um historial forte e consistente nesta área, com artistas a criar e a expor desde o final dos anos 50, fruto do primeiro curso de joalharia artística no Ar.co em 1978 e a existência de um duo de galerias que há mais de 20 anos têm mantido uma atividade constante e imprescindível de divulgação de artistas nacionais e estrangeiros – como o Atelier Tereza Seabra e a Galeria Reverso, de Paula Crespo, ambas em Lisboa.
A atribuição da bolsa Susan Beech a Cristina Filipe traz um reconhecimento único ao trabalho desta investigadora, mas também à joalharia portuguesa como um todo, que vê redobrado o interesse internacional e, espera-se, também, o do público nacional, com o conjunto de iniciativas que se preparam para setembro.
Para além da exposição e a apresentação do livro de Cristina Filipe no dia 13 de setembro, a Galeria Reverso exibe uma exposição coletiva com a curadoria da Carolina Quintela; o Atelier Tereza Seabra, uma exposição de Catarina Silva e Manuela Sousa; e na Padaria24 poderão ser vistos trabalhos de Nininha Guimarães dos Santos, Inês Nunes e Pedro Sequeira.
Salientamos também, no espaço Belo Campo, na Galeria Francisco Fino, a apresentação do projeto Corner Piece da artista e curadora luso-suíça Lígia Dias, que terá em Lisboa uma configuração própria, depois de edições anteriores, nomeadamente na Art Basel-Miami em 2018. Valentim Quaresma inaugura uma exposição no Palácio da Ajuda, onde é atualmente artista em residência. Um conjunto de espaços de joalharia contemporânea do Porto deslocam-se a Lisboa, onde apresentam uma loja pop-up que também pode ser visitada pelo público. Para além desta iniciativas, abertas a todos, o AJF terá a oportunidade de fazer visitas privadas a ateliers artistas e de percorrer as coleções de joalharia do Museu Nacional de Arte Antiga e do MUDE, que apoia também a edição do livro de Cristina Filipe.
Criado em 1997, o Art Jewelry Forum começou como um grupo de colecionadores norte-americanos interessados em divulgar a joalharia contemporânea. De um pequeno núcleo de pessoas fascinadas por esta arte, a organização passou a ter dimensão e intervenção internacionais. Para além da bolsa Susan Beech para artistas em meados de carreira, destinada a apoiar um projeto concreto, o AJF atribui também um prémio para jovens talentos. Sobre a bolsa que tem o seu nome e patrocínio, a colecionadora Susan Beech fez questão de salientar o alto padrão de exigência que a seleção do trabalho de Cristina Filipe impôs ao júri na escolha dos premiados subsequentes.
O AJF organiza também um conjunto de eventos aos longo do ano que incluem visitas a feiras, colóquios e conversas com artistas, galeristas, estudiosos e colecionadores, edita publicações e uma newsletter e mantém um site com muita informação que se tornou um recurso precioso para quem se interesse por esta arte. No entanto, talvez sejam as viagens que realiza regularmente que marcam mais a história da organização, sendo salientadas por Susan Cummins (fundadora e dirigente do AJF) como a melhor e mais popular forma para ajudar a conhecer os artistas, escolas, galerias e coleções em diversas partes do mundo. O grupo de visitantes, como o que virá a Lisboa, é sempre relativamente pequeno (cerca de 25 pessoas), mas tem um entusiasmo e conhecimento profundos em relação à joalharia contemporânea e representa algumas das coleções mais importantes da atualidade, com um peso e uma relevância inegáveis, onde se espera que os artistas portugueses passem a ter um lugar especial.
Por Marta Costa Reis