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Hannah Arendt (2012), de Margarethe von Trotta

A obra da cineasta alemã Margarethe von Trotta distingue-se por retratos fortes de protagonistas femininos, com uma componente política e social associados. Anos de Chumbo (1981) e Rosa Luxemburgo (1986) são exemplos desta realidade.

Realizado em 2012, Hannah Arendt, interpretada por Barbara Sukowa, não é exceção. Filósofa e política judia alemã, exilada nos EUA desde 1941, notabilizou-se pela investigação e estudo de sistemas políticos e socioeconómicos como o totalitarismo e a educação, questionando, também, o papel da mulher na Sociedade. Publicou diversas obras literárias, entre as quais se destacam: As Origens do Totalitarismo (1951), A Condição Humana (1958) e Eichmann em Jerusalém: uma reportagem sobre a banalidade do mal (1963).

O filme remete-nos para 1960. Arendt é enviada pela revista New Yorker a Jerusalém para fazer a cobertura do julgamento em Israel do nazi Adolf Eichmann, um dos principais responsáveis pela deportação dos judeus durante o Holocausto, que esteve foragido durante 15 anos, tendo sido capturado em Maio de 1960 e culpado por crimes contra a Humanidade. Foi condenado à morte e enforcado no dia 1 de Junho de 1962.

A reportagem, publicada em cinco partes, gera grande polémica porque Arendt tenta desmistificar a ideia que nem todos os que cometeram crimes de guerra deveriam ser julgados da mesma forma. Apesar de nunca ter negado a existência deliberada dos crimes perpetrados pelos nazis, defendia que alguns desses homens não eram agentes pensantes e, por essa razão, limitavam-se a cumprir ordens. Eichmann, foi descrito pela filósofa como um burocrata, um mero fantoche, incapaz de discernir a diferença entre Bem e o Mal. No livro Eichmann em Jerusalém: uma reportagem sobre a banalidade do mal, Arendt defende: “É evidente que, para as ciências políticas e sociais, importa saber que a essência do totalitarismo, e talvez da burocracia, é transformar os homens em funcionários, em meras peças da máquina administrativa, ou seja, desumanizá-los”. Um dos argumentos invocados para corroborar a sua teoria.

No entanto, vai mais longe ao asseverar que nem todos os judeus estavam isentos de culpa porque colaboraram com os nazis, ficando cativos de um pensamento único e determinista que os tornou inaptos para formar julgamentos morais.  As suas afirmações provocaram uma revolta nos judeus pela relativização do terror vivido por esta comunidade, numa verdadeira descida aos infernos, apelidando-a de uma pessoa cruel e amoral. Para outros, demonstrou coragem e uma visão inovadora e isenta do Holocausto.

Arendt manteve-se, até ao final, fiel às suas convicções, acrescentando que o julgamento foi condicionado por agentes políticos, com o objectivo de o transformar em mera propaganda mediática.

Se, por um lado, reconhecemos em Arendt predicados como a inteligência e tenacidade, por outro sentimos nela uma arrogância e frieza arrepiantes.

Será que Arendt alguma vez se considerou judia? É um facto, quase impossível de esquecer a sua posição em relação aos seus (seriam assim tão seus?!). É importante realçar que nunca foi deportada.

Estas são algumas reflexões, inquietações que o filme gera. Uma história naturalmente densa, envolta num ambiente sombrio e pesado. Uma interpretação absolutamente extraordinária de Barbara Sukowa.

Apesar da sua Licenciatura em Gestão de Marketing, o seu percurso nunca foi linear. Detesta as rotinas entorpecedoras e a escrita é seu refúgio. Quando inicia as suas deambulações por esse universo fica completamente alienada do mundo. Nunca se levou muito a sério. "Depus a máscara e vi-me ao espelho. — / Era a criança de há quantos anos. / Não tinha mudado nada... / É essa a vantagem de saber tirar a máscara. / É-se sempre a criança (...)" – Fernando Pessoa. Uma das suas principais características é criar empatia com todo o tipo de pessoas. A sua maior paixão é o Cinema e, sempre que pode, não abdica de longas tertúlias com os suspeitos do costume, com os quais partilha os seus estados de alma. "I try to get closer to reality, to get close to the contradictions. The cinema world can be a real world rather than a dream world.” – Michael Haneke

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