Linguistic Ground Zero, de João Louro
A energia nuclear tem inúmeras aplicações positivas, mas sempre que pensamos nela lembramo-nos de dois eventos: Hiroxima e Nagasaki. Little Boy foi a primeira bomba atómica da História, que arrasou com a cidade japonesa de Hiroxima a 6 de agosto de 1945.
A exposição Linguistic Ground Zero, pensada de origem para o Project Room do MAAT, parte desta premissa: a da destruição como uma forma de criar um novo começo, uma espécie de tábua rasa para algo novo e diferente. Neste caso, João Louro (n. 1963) entende que as vanguardas artísticas proporcionam esta tábua rasa para que algo de novo surja. Assim, a sua reprodução de Little Boy tem inscrições, à semelhança das bombas verdadeiras que contêm inscrições feitas pelos soldados, mas estas inscrições contêm palavras de ordem relacionadas com o meio artístico, referências poéticas e grafitis. João Louro evoca assim, um momento de destruição da linguagem tal como a conhecemos. E se pensarmos que a expressão tabula rasa romana refere as tábuas de cera inscritas que eram raspadas para receberem novas inscrições, esta tábua rasa ganha precisão.
Assim, acompanham a reprodução da primeira bomba atómica da História, duas pinturas Little Boy (Prototype #1) e Little Boy (Prototype #2) que contêm várias afirmações acerca dos vários tipos de palavra segundo o artista: a palavra-primitiva, a palavra-placenta ou a palavra-espada entre outras afirmações acerca da linguagem a que Louro chama Manifesto da “Palavra-Primitiva” Antípoda do Norte em Little Boy (Prototype #1) e Manifesto da “Palavra-Primitiva”Antípoda do Sul em Little Boy (Prototype #2), como se estes estudos fossem a sua vontade de destruir simbolicamente o planeta inteiro, para que a reconstrução linguística se faça sobre terra nova.
João Louro estudou arquitetura e pintura e o seu trabalho sobre suportes diversos que vão da escultura à instalação, passando pelo vídeo ou pela fotografia, aborda com frequências as vanguardas artísticas como modelo de mudança e de rompimento com os valores instituídos. Louro trabalha muito a partir da linguagem e da palavra, com fortes referências literárias, nomeadamente poéticas, musicais ou cinematográficas a partir de uma visão pessoal e de alguma forma geracional.
Com a destruição de Hiroxima, foi a primeira vez que a Humanidade teve noção dos efeitos devastadores de uma bomba nuclear e só teve esta noção em 1952 quando o governo dos Estados Unidos levantou a proibição de difusão dos efeitos da bomba, marcando toda uma geração, a Beat Generation. Foi a primeira vez na História recente que se teve noção de que é possível uma destruição total e absoluta, passível de acontecer a qualquer momento, por ação humana. É o grau zero da existência, aquele em que tudo morre. Só o tempo permite o renascimento e a reconstrução. É este processo que é comum à linguagem artística, esta reconstrução lenta e por vezes tardia e que no caso das vanguardas artísticas acontece sempre em rompimento com o passado. David G. Torres, o curador da exposição considera “também somos filhos da explosão”.