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Além deste Solitário Carrossel, na Galeria 111

A Galeria 111 celebra 55 anos de atividade com a exposição Além deste Solitário Carrossel.

Formada, na sua maioria, por uma massa de obras compreendida entre 2000 e 2018, a exposição é entrecortada por obras de décadas anteriores, que remontam aos anos 50, e se estendem até 90, do Séc. XX.

O modo como o curador, Hugo Dinis, dispôs as obras sobre as paredes, na sua maioria pinturas, estimula o observador a estabelecer interconexões e relações, por meio de similitudes cromáticas e morfológicas.

Com António Palolo, Eduardo Nery e Fernando Direito, estabelecem-se as primeiras conexões. Talvez por meio de cores vibrantes e histriónicas, as obras destes pintores tendem a aproximar-se entre si. Separadas por décadas, também se assemelham, pelo modo como estabelecem jogos entre o plano do quadro e desenho de volumes.

O observador não resistirá às correlações: à evolução geométrica de Palolo, no sentido da Pop, juntam-se os habituais encontros temporários entre elementos contraditórios, descritos na obra integradora de Nery, e ainda Direito, num discurso de pintura, que, mais tarde vai inspirar frases em autores, como João Lopes Marques, “onde nada é tão possível, como o seu contrário”, ou José Luis Peixoto: “somos colocados na fronteira que existe entre nós e o mundo”.

Seguem-se outras inter-relações, interpenetrações, mas sempre com obras de artistas mais novos, a ladear essas relações, como pano de fundo, e a conferir-lhes uma moldura protetora.

Temos vários artistas, em várias gerações, a “debaterem-se” com o plano do quadro, e a desligarem-se, progressivamente, por meio de pequenas conquistas, dos elementos figurativos. Com a fluidez cromática de Menez, que intuitivamente transforma as figuras do quadro num fluxo de transparências, e de sensualidade;  com Júlio Pomar, e o Amor Virtuoso castigando a Fortuna (1990), que, através de “diagonais dinâmicas”, e cores fortes, enfatiza o erotismo da forma feminina; com Graça Morais, e um singelo desenho representando um motivo naturalista, parece eliminar a volumetria da forma, pela verticalidade de algumas das suas linhas; com Dourdil, por evocar a forma feminina, utilizando linhas, abstratizantes, igualmente verticais.

E muitos outros artistas, de igual importância, que seria injusto não mencionar: Paula Rego, com a obra Os Desastres de Sofia (2017), de um expressionismo biográfico, com a tónica assente nas cores vivas e nas narrativas que evocam recordações de infância; Miguel Telles da Gama, com os seus motivos aguarelados a sépia e grafite sobre papel (2000); entre outros – Fátima Mendonça; Joana Salvador; Joana Vasconcelos; Pedro A.H Paixão, incansável na representação de figuras que quase se esbatem sobre a mancha do fundo, desenhada vigorosamente a lápis de cor vermelha, ou negra; Costa Pinheiro, em obras de 1984, que salientam um trabalho desenvolvido entre o plano do quadro e a representação do espaço arquitetónico; Urbano e a obra Hespérides (2012); João Francisco; Noronha da Costa; Celestino Mudaulane; Alex Flemming; Rui Carvalho; Ana Vidigal; Cristina Lamas; António Seguí; João Vieira, Francisco Vidal; Barton Benes; Gonçalo Mabunda; Joana Fervença; as colagens de Lourdes Castro; Manuel Baptista; António Charrua; Victor Fortes; Leda Catunda; Ruy Leitão; Eduardo Batarda; Samuel Rama; Pedro Gomes; Rui Pedro Jorge; João Leonardo; Bartolomeu dos Santos; Arman; Nikias Skapinakis; Lisbeth Moe Nilsen; João Hogan; Jacinto Luís; Jorge Santos; Martinho Costa; Diogo Evangelista; Carlos Botelho; Marcia Xavier; Folon; Pedro Avelar; Pedro Vaz; Henrique Ruivo; Samuel Rama; Daniel Fernandes; Marcelino Vespeira; Miguel Rebelo; Gabriel Abrantes; Rui Miguel Leitão; Mauro Pinto; Lindstrom.

 

Carla Carbone nasceu em Lisboa, 1971. Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999, primeiro no Semanário O Independente, depois em edições como o Anuário de Design, revista arq.a, DIF, Parq. Algumas participações em edições como a FRAME, Diário Digital, Wrongwrong, e na coleção de designers portugueses, editada pelo jornal Público. Colaborou com ilustrações para o Fanzine Flanzine e revista Gerador. (fotografia: Eurico Lino Vale)

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