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Lluís Comín

Lluís Comín (1958) é um joalheiro catalão que aprendeu o seu ofício no atelier do seu pai. Poucos joalheiros contemporâneos vêm de uma tradição familiar. No seu caso teve a sorte de aprender o ofício com seu pai e agora é a sua filha Elena quem aprende consigo. Sente-se como o elo de uma corrente muito antiga que transmite conhecimentos ancestrais. O seu pai foi um homem com um grande amor pelo seu ofício e soube transmiti-lo ao seu filho. Está muito presente no atelier em fotografias e ferramentas que continuam a ser utilizadas no atelier. O seu pai ajudou-o a compreender uma arte que vem de muito longe e que tomou parte de uma grande cadeia em que somos um “eslabón” entre as pessoas.

Formou-se em geologia com especialidade em diamantes pela Universidade de Barcelona e pela Gemmological Association of Great Britain. Estudou também joalharia pela escola Massana de Barcelona. Participou em inúmeras exposições na Europa e noutros pontos do mundo.

Desde tenra idade, ficou claro que queria fazer um tipo de joias que não fosse apenas ornamental. A joia é a sua maneira de se expressar artisticamente com total liberdade. A única condição é que as joias possam ser usadas por alguém.

Costuma trabalhar com séries. Para quando pensa que não tem mais nada a dizer sobre o assunto. Gosta de criar simbioses entre a joia e seu portador, para que ambos fiquem ricos e sente-se como um filtro tentando expressar as nuances do mundo do seu ponto de vista.

Lluís Comín tem o seu próprio atelier situado em Barcelona. Cria joias em ouro ou prata com oxidada, juntando-lhe pedras semipreciosas. São peças coloridas, usáveis no corpo de ligeireza notável. Elabora o desenho de cada peça e executa-as artesanalmente.

Para Lluis Comín um objeto, para que seja considerado joia, deve ter uma clara vinculação com o corpo humano e naturalmente uma intenção estética, artística, conceptual e ornamental. Não se considera uma pessoa de grandes retornos como, por exemplo, Machado quando escreve “o caminho faz-se ao andar.” Em 2016 trabalhou numa série, denominada “Ithaca” inspirada no caminho de Ulisses. Considera que o fim nunca justifica os meios. Muitas das suas peças parecem inacabadas. Gosta que se veja o processo, considerando também que as peças estética e conceptualmente hão de ter muita força.

A obra de Lluís Comín revela um pensamento mestiço. A mestiçagem está, desde sempre, ligada à ideia de viagem, de encontros e de contactos humanos. Longe de ser apenas biológica, reflete-se no pensamento, na língua, nas materializações do imaginário, bem como em muitas práticas e comportamentos humanos, sendo geradora de múltiplas formas de interculturalidade. Em todos estes aspectos cria sempre o imprevisto; é promessa de futuro. Cada caso que se observe tem, nas práticas quotidianas, as suas características particulares, as suas razões de existência, a sua dinâmica própria.

Todo o pensamento mestiço faz a mediação entre, pelo menos, duas visões do mundo. Acontecem diálogos e confrontos, tensões ou resoluções temporárias entre dois territórios, em que nada é definitivo, nem nenhum triunfa sobre o outro. Se a identidade nunca é invariante, mas algo que se vai construindo num permanente movimento, ativando em cada sujeito diferentes facetas, simultânea ou sucessivamente, segundo as interações que vai vivendo e de acordo com a sua história pessoal, num âmbito mestiço tanto o leva a viver num permanente questionamento, como o capacita para confrontar, criticar e aproveitar elementos de ambos os lados. Uma fronteira porosa é constantemente trespassada de um lado para o outro. Para cada sujeito, a identidade com cada uma dessas visões do mundo é praticamente tão importante como a relação que quer estabelecer entre ambas. Não significando claramente pertença, também não equivale a alteridade, mas identidade e alteridade entrelaçadas, isto é, provoca um andamento duplo, sentimentos que tendem a associar e tentam desenredar (Leplantine, Nouss, 1997).

Assistimos hoje, a par da mundialização, a uma crise de sentido dos símbolos e das instituições, como consequência da aceleração da história, da redução do espaço, da individualização dos itinerários e destinos (Augé, 1994). A grande quantidade de informação que chega até cada sujeito, através dos meios de comunicação, faz viajar virtualmente, contribuindo, tal como as viagens reais, para criar contactos e gerar novas visões do mundo. Há um novo tecido simbólico em fase de produção, no qual “é obvio que o carácter híbrido e mestiço de todas as culturas cria alternativas às retóricas de dominação” (Jarauta, 2000). Opondo-se à homogeneidade totalitarista e à fragmentação heterogénea, a mestiçagem apresenta-se hoje como nova via de diálogo capaz de desenvolver coerência interna.

A rede de contactos que se estabeleceu, há séculos, em toda a bacia Mediterrânea, originou uma cultura compósita da qual são frequentemente citados inúmeros casos de mestiçagem. Diálogos entre modos de pensar e fazer, imaginários e visões do mundo, crenças e religiões, razões práticas diversas, fizeram com que, ainda hoje, possamos observar mestiçagens na configuração de edifícios e artefactos móveis, como também no modo de conjugar materiais ou técnicas de construção e produção. A própria alimentação é também um importante testemunho.

Ana Campos nasceu no Porto, Portugal, em 1953. É joalheira e dedica-se, também, à investigação nesta área. No campo do ensino, foi professora de projeto e de teorias da arte e do design da joalharia contemporânea. Até 2013, foi diretora do ramo artes/joalharia e coordenadora da pós-graduação em design de joalharia da ESAD – Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos, Portugal. Tem-se dedicado a curadoria e produção de exposições de joalharia nacionais e internacionais. Licenciou-se em Design de Comunicação na FBAUP. Estudou joalharia no Ar.Co, Lisboa e na Escola Massana, Barcelona, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. Realizou uma pós-graduação em Relações Interculturais, pela Universidade Aberta, Porto, que conduziu ao mestrado na área de Antropologia Visual, cuja dissertação se intitula "Cel i Mar: Ramón Puig, actor num novo cenário da joalharia". A orientação foi de José Ribeiro. Atualmente, é doutorada em filosofia na Universidad Autónoma de Barcelona. Terminou o doutoramento em 2014, com orientação de Gerard Vilar. Desenvolveu uma tese intitulada: "La joyería contemporánea como arte: un estudio filosófico".

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