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Inês Teles

A arte contemporânea apresenta-se múltipla, plural, heterogénea e, recorrentemente, inovadora. Avançando a um mesmo passo que o tempo presente e a atualidade, grande parte das ramificações da criação artística reside, ainda, no passado, nomeadamente nas primeiras e, por isso, consideradas tradicionais, práticas artísticas tais como a pintura e a escultura. Porém, estas últimas podem, hoje, adquirir novas formas, faces e expressões. É precisamente esse princípio que Inês Teles (Évora, 1986) defende, reflete e exercita.

A artista, atualmente a viver em Lisboa, trabalha, pois, essencialmente, a partir dessas duas disciplinas primordiais, sendo que a pintura foi a área na qual se formou, desde logo com a licenciatura na FBAUL. Através da sua ação, pincéis, tintas, pigmentos, linhas e traços transpõem quaisquer suportes, telas ou cavaletes, prolongando-se para novos modos de existir. Também a produção escultórica por si realizada surge com formas belas, sensíveis e orgânicas que lhe são muito próprias. Do gesto, do movimento e do ritmo das suas mãos nascem corpos de matérias, linhas e cores que quebram quaisquer barreiras entre as técnicas, ampliando-as individualmente e, simultaneamente, relacionando-as e fundindo-as umas nas outras em fluxos criativos que compõem uma magnífica obra.

Eu nunca sei o que significa uma pintura; o que é hoje, amanhã não será. (…) A pintura pode desdobrar-se para outras estradas.

É decorrente desta humildade, honestidade e compreensão relativamente às várias práticas que constituem a esfera artística, que a criação de Inês Teles nasce, sempre de um mesmo modo: simples, despretensioso, algures entre a prova ou o ensaio e um claro objectivo previamente determinado antes do processo de construção final. A artista envolve-se com a matéria que utiliza e, como se de uma dança se tratasse, conduz-se entre o predefinido e o acaso.

Numa mesma lógica, o seu atelier existe enquanto laboratório, lugar de experimentação, de expansão criativa e plástica, atividades que são, sempre, precedidas e sucedidas de uma séria maturação que solidifica todo o trabalho. O espaço é amplo e comum, partilhado com outros artistas, na zona de Santa Apolónia, em Lisboa. Foi este o estúdio que Inês encontrou quando, em 2013, chegou de Londres, cidade onde realizou o Mestrado em pintura na Slade School of Fine Art da UCL. A criadora e a sua obra instalam-se numa zona de um primeiro andar, habitado pela pintura e onde se dão os primeiros passos criativos. Temporariamente, numa outra área, num piso inferior, decorreu a materialização dos objetos escultóricos mais recentes, nomeadamente as resinas que têm sido apresentadas ao público.

No atelier paira algo da ordem do sensível, que as várias peças carregam e emanam, contaminando o espaço quando nele se instalam, de um modo idêntico a quem o percorrer. Essa ideia de contágio é algo que a artista procura, confessando preocupar-se com “o que o trabalho pode produzir nos outros e no mundo“. Explica, contudo, que o seu “trabalho não se impõe, não exige”, mas interpela o outro e insinua-se enquanto experiência, num quadro relacional. Mesmo com os vários elementos dispostos de modo desordenado, próprio de um local de trabalho, há uma harmonia e quase magia que se mantêm, próprias da sua autora e de tudo o que esta produz.

Como refere, o meu trabalho nem simboliza nem é figurativo. É, pois, na dinâmica da experiência estética que esta obra melhor se revela. Assim, para a receber, torna-se necessário que o espectador lhe dedique algum tempo e atenção, que se aproxime tanto física como pessoalmente, intimamente.

Inês Teles, ainda jovem, apresenta já um corpo de trabalho que se revela absolutamente caraterístico, detentor de qualidades tanto expressivas quanto plásticas. O seu percurso de aprendizagem e o profissional, ultimamente intenso com várias mostras individuais e coletivas, resultam numa capacidade de produção formal, material e visual absolutamente contemporâneas, acompanhadas de uma singularidade que, indiscutivelmente, marca as peças que produz enquanto suas. Abraçando continuamente novos projetos, nomeadamente a participação na UmbigoLAB, a artista prossegue de modo assertivo e promissor.

Na impossibilidade de visitar o atelier onde tudo se constrói e desenvolve, encontram-se patentes duas exposições individuais da artista, uma em Lisboa, na galeria Acervo – Arte Contemporânea (11/10/2018 – 21/12/2018) e, outra, no Porto, na Sala 117 (29/09/2018 – 17/11/2018). Ambas são enriquecedoras de visitar, revelando-se comuns num mesmo sentido e lógica mas, ao mesmo tempo, ímpares, cada uma com particulares e irrepetíveis nuances, como é próprio de tudo o que Inês Teles cria.

Constança Babo (Porto, 1992) é doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona. Tem como área de investigação as artes dos novos media e a curadoria. É mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Tem publicado artigos científicos e textos críticos. Foi research fellow no projeto internacional Beyond Matter, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e esteve como investigadora na Tallinn University, no projeto MODINA.

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